sábado, 27 de outubro de 2007

Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno!

Nós não podemos esquecer os mortos porque são eles quem verdadeiramente vive. Nós, fazemos memória dos mortos porque com eles estabelecemos uma comunhão única só possível pelo mistério da Graça e só vivenciável no amor que Deus nos tem, porque Ele é Deus dos vivos e dos mortos.
A celebração da Missa pelos defunto não é moda de agora. (Infeliz) Moda de agora é ignorar o valor da missa pelos defuntos. Tal desconhecimento deve-se à vontade de ignorar o acontecimento sempre trágico e traumático que é a morte. Perante ela nasce mais depressa a revolta (— Porque é que Deus não fez nada?) e a incompreensão (— Se alguém devia morrer não era ele!), que a serenidade e a esperança no Senhor.
É fé da Igreja que a Missa se oferece pelo perdão dos pecados (e outras necessidades) dos fiéis vivos, mas também pelos defuntos.
Em 156, um ano depois da morte de São Policarpo, os cristãos de Esmirna celebraram uma missa em sua memória. Em 210, o teólogo Tertuliano ensina este piedoso dever para com todos os defuntos. No séc. IV dá-se o aparecimento da Missa de Séptimo e Trigésimo dias, além da do dia. No séc. VI os sacerdotes começaram a rezar missas de defuntos durante uma série de dias, mesmo sem a participação de fiéis. No séc. X o Abade Odilão de Cluny, começou a celebrar a «Comemoração dos Fiéis Defuntos» no dia seguinte à Solenidade de Todos os Santos, como ainda hoje se faz.
Os séculos seguintes testemunharam o incremento e multiplicação destas missas.
A memória dos defuntos é hoje um dos centros psicológicos da Missa, e é consensual e até necessário mencionar publicamente os seus nomes. Na verdade, a morte possibilita que nos abramos completamente Àquele que nos fez viver na terra; e tanto assim é que quer os vivos quer os mortos comungam o mesmo mistério da Graça: a incorporação em Cristo, no Corpo Místico de Cristo! É por isso que, vivos e mortos, verdadeiramente nos encontramos na Eucaristia.
Exceptuando a memória terna que deles fazemos na oração da Igreja, é bem sabido que a nossa época se esforça por esquecer publicamente a agonia e a morte. É assunto por demais desagradável e inibidor para os de hoje. Será porque nos recorda os nossos limites? Será porque um dia nos tocará? Será porque lhes disseram que seriam quase deuses intocáveis e, afinal, pereceremos como os outros? Será que a morte para além da separação parece uma derrota? Será porque na morte não vimos um sinal da presença do amor de Deus? Será por isto, será por aquilo ou por tudo?
É porém verdade que aquilo que nos afasta da comunhão espiritual dos mortos nos afasta também da poderosa força da mensagem cristã da ressurreição. Quem perde uma perde a outra também.
A fé cristã exprime-se na comunhão do crente com Deus, na comunhão dos crentes entre si e também na comunhão dos vivos com os mortos. Entre os fiéis vivos e os fiéis defuntos existe uma solidariedade de que ambos beneficiam.
A comunhão com Deus — como Deus dos vivos! — é tanto mais expressiva quanto mais os mortos significam para nós, através da comunhão dos santos que professamos quando rezamos o Credo.
Por sua vez, quando rezamos:

Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno
entre os esplendores da luz perpétua;
que descansem em paz. Amen,


estamos a rezar aquela mesma palavra de amor, que os nossos irmãos mortos pronunciam sobre nós desde a plenitude de Deus, e que é:



Depois das lutas da vida
dai, Senhor, a estes irmãos
[isto é, a nós que ainda vivemos na Terra]
a quem, como nunca, amamos no Vosso amor,
o descanso eterno e que a Vossa luz
igualmente brilhe sobre eles.

Essa é a comunhão plena dos santos, aquela que ansiamos, que professamos e que já vivemos, embora desde a perspectiva da fé, não do amor pleno e definitivo.
A Eucaristia é memorial da Paixão e Morte de Jesus. Essa é a razão pela qual ela é o lugar onde melhor podemos recordar os mortos. Ali recordamos a morte do Rei da vida e professamos a sua ressurreição, por isso a recordação da morte dos nossos defuntos é também a da sua ressurreição!
Não é humano não fazer memória dos mortos.
Celebremos, pois, a Eucaristia com a certeza de que nela se reactualiza a Nova Aliança. De que por ela nos aproximamos confiadamente de Deus. De que nela fundamentamos a nossa existência, lhe conferimos densidade e renovamos a comunhão com Deus e os irmãos, isto é, retomamos o projecto inicial de amor no qual Deus nos criou.
(Chama 644, 28 de Outubro de 2007)

sábado, 20 de outubro de 2007

Testemunhos na primeira pessoa (IV)

Ir para missão fez-me sair da acomodação a que estava habituado. Partilhei novas experiências pessoais com outro povo e procurei cumprir a tarefa que Deus me
atribuiu: mostrar um caminho diferente de viver a fé que recebi no baptismo.
O coração falou mais alto e fui ajudar os outros, dar e repartir o que tinha de melhor. Agora percebo os testemunhos dos que já viveram uma experiência de missão e que dizem que quando fazemos um balanço do que se fez, nos apercebemos de que se recebeu muito mais do que se deu. Sente-se algo que é inexplicável por palavras…
Nuno Óscar Vilela Fereira
Leigo Missionário Carmelita em Pemba, Moçambique
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

Testemunhos na primeira pessoa (III)

Estive na missão católica de Safim, na Guiné. Diziam-nos que fica a 15 km de Bissau, mas quando íamos à capital pareciam mais. As Irmãs de São José de Cluny que nos acolherem são de origem angolana.
Fiquei impressionada por ver mamãs e bébés desnutridos... Ali muitas pessoas fazem apenas uma refeição por dia.
Quando estive doente todos se mostraram preocupados comigo. Quando passávamos pela rua, os meninos pediam-nos amêndoa (doces, rebuçados).
Mas no meio do caos da pobreza e da miséria também havia generosidade: quando comiam chamavam-nos para comer também!
É muito importante ser capaz de estar, viver e de amar os outros, contribuindo um pouco para a alegria, para um mundo melhor.
Se toda a gente contribuísse...
Aprendi a dar mais valor à minha própria vida, a ter mais atenção com certas coisas que antes me passavam um pouco ao lado.
Gisela Ferreira
Voluntária missionária de Esgueira
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

Testemunhos na primeira pessoa (II)

Sou missionário numa Igreja fundada por S. Francisco Xavier, no séc. XVI. Foi perseguida e humilhada. Foi publicamente proscrita logo nos seus começos e banida até à entrada dos Padres das Missões de Paris, que passados mais de 2 séculos encontraram cristãos que rezavam às escondidas diante de imagens, que do lado de fora eram figura de Buda, mas do de dentro eram de Cristo ou Maria. Sem sacerdotes viveram este tempo todo, não se esquecendo da Doutrina cristã, do Credo, da Ave Maria ou do Pai Nosso.
Pe. Domingos Areais
missionário português em Osaka, Japão
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

Testemunhos na primeira pessoa (I)

Era dia de baptismos. Toda a comunidade estava reunida. Tinha chegado o momento. Eram cinco crianças. Uma delas, de 4 anos, prendeu-me a atenção: Estava sempre sorrir! Quando fiz o sinal da cruz na sua testa, ela sorriu, e eu correspondi. Quando a ungi com o óleo dos catecúmenos, fez aquele sorriso de quem está feliz e em paz. Quando chegou o momento de derramar a água na cabeça, chamei pelo seu nome, e perguntei-lhe: “Ketelen você quer ser baptizada?” Ela respondeu com uma convicção profunda: “Sim”. Toda a assembleia ficou sorrindo com a resposta pronta. Derramei a água em sua cabeça. E às minhas palavras: “Eu te baptizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, enquanto pais e padrinhos ficaram quase calados, ela respondeu com alegria e força: “AMEN!”. Todos ficamos admirados com a sua convicção. É algo que nós, baptizados, precisamos: alegria e força de fé.
Pe. Hugo Ventura
missionário português na Amazónia, Brasil
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

Todas as Igrejas para o Mundo inteiro!

O mês de Outubro entra nas comunidades cristãs como um imenso apelo para a missão. Nas Igrejas locais e nas Comunidades Religiosas, como a nossa, palpita esta ânsia, sente-se este apelo. Vamos ajudar os missionários, vamos rezar pelos missionários. Que eles bem precisam: Nos últimos 25 anos morreram quase vinte missionários portugueses em emboscadas na estrada, em ataques às missões, no meio de raptos e sequestros; foram crimes pensados para eliminar quem defendia a justiça e a verdade. Porque amavam morreram; perderam para salvar.
A Igreja de Jesus Cristo está em Aveiro, Paris, Angola, Roma, Tóquio ou Corinto. Não interessa o lugar não interessa o nome, interessa que Jesus está onde está um cristão, e todos, pela moção do Espírito Santo, estamos em comunhão com Cristo.
Caminhamos todos embarcados na barca de Pedro, que é a de Cristo. Entre as diferentes Igrejas não há distância, mas comunhão; não há separação, mas união e fraternidade. Em cada comunidade ou em cada porçãozinha do Povo de Deus, late o coração da Igreja Universal, de toda a Igreja. As dores e debilidades de uns são as de todos, as alegrias e as riquezas igualmente.
As Igrejas têm a sua cor e a sua tradição, as suas sensibilidades, condições, disposições, sonhos, esperanças e calor humano próprios. Porém as diferenças não deixam ninguém à deriva, ninguém separado, ninguém abandonado.
Somos todos responsáveis por todos.
A mensagem do Papa para este dia responsabiliza‑nos mutuamente: Todas as Igrejas para o mundo inteiro, escreveu o Papa. E disse mais: «Demos graças ao Senhor pelos frutos abundantes obtidos por esta cooperação missionária em África e noutras regiões da Terra. Multidões de sacerdotes, depois de terem deixado as comunidades de origem, dedicaram as suas energias apostólicas ao serviço de comunidades acabadas de surgir, em zonas de pobreza e em vias de desenvolvimento. Entre eles encontram-se não poucos mártires que, ao testemunho da palavra e à dedicação apostólica, uniram o sacrifício da vida».
O envio missionário de Cristo é para ser ouvido por todos: «Ide por todo o mundo!». Ninguém deve sentir-se de fora nesta tarefa de anunciar a alegria do Evangelho aos quatro cantos da Terra. Todos, bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos, jovens e famílias: «Cada comunidade cristã nasce missionária, e é com base na coragem de evangelizar que se mede o amor dos crentes para com o Senhor».
A todos cabe partilhar a preocupação pela difusão do Evangelho; cada um deve sentir-se protagonista da missão da Igreja. Deste Dia Missionário Mundial espera o Papa que se favoreça a cooperação entre as Igrejas e a preparação de novos missionários. Porém, conclui: «Não esqueçamos que o primeiro e prioritário contributo que somos chamados a oferecer à acção missionária da Igreja é a oração».
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

sábado, 13 de outubro de 2007

Pelos labirintos do mundo

A marca do início é sempre algo feliz e esperançoso. Iniciar um novo Ano Pastoral deve despertar-nos para a novidade da Presença Divina, que vem aos nossos corações e à nossa comunidade de forma sempre nova e cheia de graça. Da minha leitura do próximo Ano Pastoral deixo-vos cinco marcas especiais:

Primeira marca: O labirinto
Terminaram as obras. Estamos cansados e de arcas vazias, mas não abatidos nem vencidos. A fachada da igreja ficou limpa e digna; o Adro parece maior, a sobriedade torna-o mais belo. Como tudo o resto.
À entrada do adro inscrevemos um desenho dum labirinto. Pode parecer estranho que ao virmos à igreja nos receba um símbolo tão inesperado. Ele apenas quer dizer que os passos que passam pelos caminhos do mundo, se encontram todos ali. Quanto custa às vezes, vir à igreja rezar em comunidade! Quantas vezes a nossa vida pessoal e familiar é um emaranhado de confusões e de estorvos!
O labirinto quer recordar-nos que tudo é mais fácil com Deus: basta confiar! Ele recorda‑nos que os caminhos duros da vida, se levados com Deus são auto-estradas largas e fáceis; e que os caminhos largos e sem Deus são abismos escuros, são precipícios terríveis onde nos espera a derrota e a morte.
O labirinto recorda-nos o que nos ensina Santa Teresa: Não chega fazer a viagem à igreja; falta depois fazer a viagem ao interior da nossa alma — tantas vezes mais confuso que a vida exterior! É necessário que tu caminhes até ao mais profundo centro da tua alma, aonde só se chega depois de vencidas seis moradas. Aí, na sétima, no centro mais profundo, unir-te-ás intimamente ao teu Senhor.
Vem, vinde ao Carmo. Pisai aquele labirinto. Recordai que à canseira física sucedem os trabalhos do espírito. Vinde e reconciliai-vos. Vinde e alimentai-vos do Pão da Vida para não desistirdes nem fraquejardes na peregrinação.

Segunda marca: A atenção aos pobres
O novo Ano Pastoral pede-nos que prestemos atenção aos pobres. O título oficial é O serviço aos pobres é o sinal visível da verdadeira Igreja de Jesus Cristo. A Igreja foi sempre mais verdadeira quanto mais olhou o rosto dos pobres e nele reconheceu o rosto de Jesus Cristo. Perguntei-me o que poderia fazer a nossa Comunidade do Carmo pelos pobres. Será preciso gastar muito dinheiro? Será preciso privar-nos dos nossos bens? E a resposta surgiu-me em dois pontos. Assim:
1. A partilha de bens é necessária e ajuda o pobre. Mas não é suficiente se, como pede o Papa, não «fizermos um exigente exame de consciência» à nossa vida e aos nossos haveres. O exame nos dirá que é possível valorizar a gratuidade; que podemos fazer muito bem sem recorrermos aos subsídios do Estado; que podemos valorizar o mais: é sempre possível fazer mais, fazer melhor, fazer com o coração, fazer com o sorriso, aquele sorriso que nasce da oração. É sempre possível valorizar o mais e viver com menos! Será que já o tentámos?
2. Existem uns pobres que estão impossibilitados de arrastar-se até às portas das igrejas, às esquinas das ruas ou aos mercados. São os pobres de relação, aqueles que ninguém visita, a que ninguém oferece o toque da mão.
São Policarpo dizia: «Quando puderdes fazer o bem não adieis». E eu dir-vos-ei: Quando puderdes visitar alguém que seja tão pobre que não consiga atravessar-se à frente do vosso olhar, visitai! Visitai, porque essa caridade é da melhor.
No breviário do papa João Paulo I — o Papa do sorriso! — foi encontrada uma oração doce como uma súplica de criança, escrita pelo seu punho. Reza assim a sua oração: «Peço-te uma graça: gostava que Tu estivesses a meu lado na hora em que eu fechar os olhos para a vida terrena. Gostava que apertasses a minha mão na tua, como faz a mãe com o seu filho pequeno, no momento do perigo. Obrigado, Senhor.»

A terceira marca: A celebração de Centenários
Por graça de Deus, neste novo Ano Pastoral é-nos renovada a alegria da celebração de novos centenários. Durante o Ano anterior celebramos uns, agora serão outros. Assim é porque somos uma família com muita história e de boa memória.
Uma comunidade é sempre alicerce dos que hão-de vir. Os que nos precederam, vivendo e amando o Carmo antes de nós, legaram-no-lo e são os nossos fundamentos. Nós caminhamos sobre a santidade dos nossos irmãos. É por isso que não me resigno a ter de celebrar mais centenários. Não me resigno; alegro-me e agradeço a Deus essa graça.
A 19 de Novembro completam-se os cem anos da morte de S. Rafael Kalinowski, restaurador do Carmo polaco (Vede a sua imagem à entrada; vede como é bonita aquela sua atitude de bênção sobre o mundo...); celebraremos o VIII centenário da nossa Regra, e o I do nascimento da Irmã Lúcia.
Hoje celebramo-los a eles, e nós?, e nós que somos fundamento do futuro, quando nos celebrarão a nós? Ou melhor dito: quem de nós estará disposto a sofrer e a amar tanto o Carmo, que venha a merecer ser recordado como uma pedra ou uma coluna que o construiu, o engrandeceu e o sustentou? Quem?

Quarta marca: Os Filhos do Carmo
Saiu hoje um livro que se chama Filhos do Carmo. São pequenas histórias de alguns filhos desta casa. Pode ser encontrado na Lojinha. Este livro é uma pequena estratégia para angariar fundos que paguem a Cruz Processional. Agradeço sentidamente a vossa filiação carmelitana, particularmente a dos biografados que favoreceram esta causa. Por favor: Levai-o! É uma ajuda que nos fazeis, e que ele nos estimule a sermos santos como os que lá estão.
Há dias, nós, os três frades, ponderávamos a compra de algo necessário. Mas logo parámos: não há dinheiro, concluímos. Até que um os frades exclamou: «Arre!, que o dinheiro está sempre a estorvar as coisas de Nosso Senhor!» Assim é, entre nós e entre vós. Porém, que só Deus seja sempre louvado nas nossas vidas. Só Deus, jamais o dinheiro!


Última marca: As contas das obras
Parece que só falo delas, e falo. Eu falo do que é meu dever falar. Direi o que já disse uma vez: Só fizemos o que devíamos ter feito! Fizemo-lo sem dar passo algum maior que a perna. Desde o início das obras do Adro que o Empreiteiro conhecia as nossas dificuldades, pois cuidamos em denunciá‑las com humildade. Pela estima que nos tem, aceitou trabalhar sabendo que as facturas poderiam tardar em ser pagas. As posteriores dificuldades que caíram sobre a sua empresa não as contava ele nem nós. Portanto, se muito falo das nossas dívidas é também por dever de solidariedade com quem aqui amassou o pão justo de cada dia!
Os peditórios mensais renderam: 537,50€, em Junho; 900,00€, em Julho; 565,00€, em Agosto; e 1.090,00€, em Setembro. O total não chega a 10% da penúltima factura que temos de pagar! E depois falta a última! Porém, a minha confiança mais firme é a de que nunca Deus faltou a quem por Ele trabalhou!
Aqui termino, confiando-vos que vivo e rezo confiado. Confio que tudo isto é para louvor de Nossa Senhora do Carmo e para honra da Santíssima Trindade. São Eles a quem mais amamos e servimos. Que eles nos abençoem e nos acompanhem nos labirintos deste novo Ano Pastoral.

Homilia da Eucaristia de abertura do novo Ano Pastoral
6 de Outubro de 2007
Frei João Costa, Prior

(Chama 642, 14 de Outubro de 2007)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Muito obrigado!


Há cinco anos atrás, neste mesmo Sábado, no fim desta Eucaristia, informei-vos das obras que estariam para começar. Disse nessa altura, mais ou menos isto: «As telhas estão podres, os caibros estão a ruir, as paredes estão estragadas, chove dentro da Igreja, chove dentro do Convento, entra vento, frio e calor e os bichos convivem com os frades. Senhor Engenheiro David Leite não deixe cair esta igreja. Faça as obras que aqui falta fazer e depois faça também um Convento novo onde os frades possam viver.»
Claro que estava quase tudo preparado para começar. Aquelas palavras — como ele bem entendeu, e depois mo disse — só queriam dizer que as obras eram de todos: dos frades desta Comunidade e de todos os fiéis leigos Carmelitas. Isto é, de todos vós. Ele seria, enfim, o ponta de lança do compromisso da comunidade laical carmelitana de Aveiro. Foi isso que ele bem entendeu e fez.
Passados cinco anos, terminadas as obras que nos propusemos [Não é por faltarem cinco pedras, quatro marteladas e três pinceladas que eu vou dizer que elas não estão acabadas.] dizia, terminadas as obras que nos propusemos, cumpre-me a mim, Superior desta Comunidade, pôr a última pedra, ou como quem diz, a última palavra.

E esta palavra são duas: MUITO OBRIGADO!

Muito obrigado a Deus Nosso Senhor, que é sempre bom. Se todos concordarem comigo, todos juntos diremos que foi muito bom estar na re--construção da nossa Igreja do Carmo e do nosso Convento, porque o fogo que ardia no coração da nossa Santa Madre Teresa de Jesus não era outro que o de ver nascer casas onde Deus e Nossa Senhora fossem muito honrados, porque muito feridos e desonrados são em muitíssimas outras!

Muito obrigado a Nossa Senhora do Carmo, que é sempre Mãe e Irmã nossa. Foi por Ela. E foi para que Ela se sinta bem no nosso meio. Deu-nos uma casa nova onde nos sentimos bem, e nós demos-lhe uma igreja renovada, uma coroa, opas novas da sua Confraria, capas brancas da Fraternidade, uma nova cruz processional e também um barco! Afinal, ela é a Capitã das nossas vidas e trabalhos.

Muito obrigado à Equipa Técnica do senhor Arquitecto Francisco Simões que riscou e arriscou nestas obras. Nunca é fácil tocar num monumento com quase quatrocentos anos. E porque estamos no século XXI também não é tarefa cómoda erguer um convento. Hoje já não são muitos a saber o que é um convento. E são menos os que sabem riscá-los. Pelo bem que fez, muito obrigado ao senhor Arq. Francisco Simões.

Muito obrigado à Soianenses, na pessoa do senhor Agostinho Ferreira. Na Soianenses não vejo hoje só uma construtora civil; vejo amigos e até um complemento da nossa família do Carmo. Alegra-me saber que em tempos difíceis as suas famílias comeram do pão que aqui amassaram e nós abençoamos. E alegra-me muito que nem um operário aqui se tenha ferido! Nem um! [Se deram marteladas nos dedos foi só para lembrar que as segundas-feiras costumam ser dias difíceis!].

Muito obrigado a todos colaboradores e benfeitores. Uns perderam muito tempo com estas obras e outros perderam muitíssimo. Uns inquietaram--se muitos com as obras, mas outros perderam muitíssimo sono por causa delas. Só Deus sabe quem mais perdeu. Só Deus sabe quem mais ganhou. Só Deus sabe quem mais amou. Só Deus sabe qual a oferta que mais Lhe agradou.
Eu e a Comunidade estamos agradecidos. Simplesmente agradecidos.
As obras só puderam ser feitas com as benfeitorias que nos fizeram. Elas chegaram-nos de Aveiro e seus arredores; de Braga, de Viana e das gentes das outras Comunidades carmelitanas, como a de Avessadas [Que tem hoje aqui uma representação e me dão uma grande alegria por escutarem estas palavras!].

Ouvi muitos comprazimentos com as obras. E ouvi muitos conselhos. «Faça assim». «Não se esqueça daquilo». «Olhe bem por aquelas pedras». E ouvi e oiço também muitos elogios. As imperfeições — que as há! — ficam serenamente diluidas no muito bem que se fez. Quero, por isso, agradecer também aquilo que vós não calastes, o que nos aconselhastes, o que em nós confiastes.

Alguém me dizia ontem o provérbio: «Se queres desejar mal ao teu vizinho, deseja-lhe obras em casa». Sim. As nossas obras foram um mal necessário que nós suportamos com garbo, com brio, orgulho, sacrifício, ânimo, paciência, garra e gosto. Eu desejei-me este mal a mim mesmo. Embora talvez, talvez não soubesse que haveria tanto pó, ruído, desconforto, frio, vento, reuniões, decisões, dores de cabeça, susto e até lágrimas.

Mas valeu a pena, porque esta é obra de Deus. Deus andou aqui connosco: andou nos nossos trabalhos, no meio do pó e dos andaimes, nas reuniões, nos estiradores e computadores, nas orações e dores de cabeça. Que a sua bênção nunca nos abandone. Pois até agora nunca nos abandonou.
Agora que terminaram as obras, falta repetir o que Jesus ensinou a dizer aos servos que apenas cumprem o que lhes foi mandado: «Sou um servo inútil, só fiz o que devia ter feito» (Lc 17:10). E dizer estas, que são minhas: Sou um servo inútil, só fiz aquilo que me beneficia.
Agora que terminaram as obras, falta também recordar que há mais obras por fazer. Falta a boa obra que cada um tem de fazer da sua vida e da sua família. E faltam as obras no edifício do ex-Convento que nos foi devolvido. Serão feitas quando Deus quiser, quando Ele mandar. Porque é Ele quem manda. Nós só somos servos!

Mas convém aqui recordar hoje que dentro de seis anos, em 2013, se celebram os quatrocentos anos da fundação deste Convento do Carmo. Nessa data nem todos estaremos aqui, mas, desde já, todos poderemos ajudar a celebrar essa data feliz da história da nossa Comunidade do Carmo e da história da cidade de Aveiro.
O que fizermos há-de ser sempre por Deus e por Nossa Senhora do Carmo. Eles é que são os senhores. São Eles quem mandam. E já que mandam, que mandem. Que mandem! Porque há aqui quem obedeça bem e quem construa bem.
Por isso, rezamos:
Divino Menino Jesus de Praga - Abençoai-nos!
Nossa Senhora do Carmo - Rogai por nós!
S. Padre João da Cruz
S. Madre Teresa de Jesus
S. Teresinha do Menino Jesus
São Rafael de S. José Kalinowski
Bem-aventurado Redento da Cruz
Bem-aventurada Isabel da Trindade
Todos os Santos e Santas do Carmo,
Todos os Santos e Santas de Deus,
Viva a nossa Mãe do Céu!
Viva Nossa Senhora do Carmo!
Viva a Senhora do Carmo!


Homilia do Sábado da Procissão de Nossa Senhora do Carmo,
14 de Julho de 2007
Frei João Costa
(Chama 640, 22 de Julho de 2007)

Uma bandeira pequenina

Nesta Festa de Nossa Senhora do Carmo de 2007, hasteamos a nossa bandeira como sinal de reconhecimento, agradecimento e cidadania. Não hasteamos apenas uma, mas seis. Porque somos cidadãos europeus, portugueses e aveirenses. Porque somos Igreja unida ao Bispo de Roma, inscritos na Diocese de Aveiro e somos não mais que uma pequena gotinha.
É isso que somos, uma pequenina gotinha. Não pretendemos ser mais do que somos, mesmo se, chegada a manhã, corremos o risco de ver chegar também o sol que queima a gota. Porém, somos também conscientes de que se tirássemos todas as gotas ao mar, até o mar deixaria de ser o imenso mar. E ainda: somos uma pequenina gota, mas dispostos a deixar de o ser, quando fôr chegada a hora de prestar contas do serviço que, sem mais, houveramos de fazer.
Passemos, brevemente, à descrição dos elementos que constituem a nossa bandeira:
AS CORES CASTANHO E O BRANCO
Um galão de um belo castanho térreo circunda o branco imaculado da bandeira. Estas sãos as cores naturais da Ordem do Carmo a que pertencemos. Branco, porque em esperança somos já concidadãos da família do Céu; castanho, porque muito em nós é ainda baixo e sujo, ainda que campo fértil onde desponta a santidade.

E UMA GOTA AZUL
No centro e seio da bandeira está inscrita uma grande gota de água. É azul esta gota. Azul de mar e azul de ria; azul de céu e azul de água azul. Porque estamos em Aveiro este azul tem todas estas cambiantes que banham e refrescam a nossa alma. Mas é ainda o azul de Nossa Senhora, que desde a sua conceição imaculada se veste de céu; e cuja afirmação e defesa deste privilégio teve nos Carmelitas a primeira iniciativa. E também azul, porque a Senhora do Carmo é Marinheira e corajosa Loba dos Mares; e ainda Stella Maris, estrela e guia serena; e ainda Stilla Maris, pequena gotinha de água do mar, como nós, mas sem mancha do salitre do pecado. Ela é nossa e do nosso povo; é pequenina como nós e nossa honra.

E DOIS MOLICEIROS E UM MONTE
Os moliceiros são de Aveiro e da nossa Ria. É por isso que ali estão, porque é aqui que nós estamos. É nestas margens que vivemos, rezamos, abençoamos, peregrinamos, confessamos. As duas proas apostas frente a frente, perfazem um monte: o Carmelo. Desse monte vimos, ali nascemos e jamais dele perdemos a memória. E esse é também o místico Monte para onde peregrinamos. Enquanto isso, bem sabemos só lá verdadeiramente haveremos de ver a glória de Deus, que resplandece noite e dia sem cansar nem se cansar.

E UMA CRUZ
No cimo do Monte do Carmo jamais falta uma cruz. Ela é o nosso sinal, o sinal que por mínimo que seja maximamente nos identifica. É ela que anunciamos, seja escândalo para uns ou perturbação para muitos. Na cruz esteve suspensa a Vida, que com a sua morte nos regalou a salvação. Por ela temos a certeza da ressurreição. A sua presença jamais em nós pode ser esquecida ou obnubilada.

E TRÊS ESTRELAS
DUAS DOURADAS E UMA PRATEADA
O Escudo do Carmo tem três estrelas. Naturalmente que as transplantamos para a nossa bandeira do Carmo de Aveiro. As duas douradas significam os nossos pais. Foram eles quem receberam do Espírito Santo o dom fundacional que nos gerou. Pela sua maternidade e paternidade espiritual deram à luz para o serviço da Igreja uma família que a ama e serve pela oração e pela contemplação. Nosso pai São João da Cruz e nossa mãe S. Teresa de Jesus são os nossos maiores e os nossos melhores, por isso orgulhosamente os inscrevemos a ouro nos brasões que erguemos.
A estrela prateada evoca mais uma vez a Imaculada, a Mãe do Céu e do Carmo, que nos deu o Santo Escapulário. Evoca ainda a primeira igrejinha dedicada à Senhora do Carmo e a gruta onde o Profeta Elias contemplava o Senhor.
(Chama 639, 15 de Julho de 2007)

Festas de Nossa Senhora do Carmo


30 Junho
Vinde,peregrinemos com Maria

· Peregrinação Carmelitana a Fátima

07 Julho
Vinde,permaneçamos unidos na família de maria
· Início da Novena de Nossa Senhora do Carmo

09 a 14 Julho
Vinde, permaneçamos unidos na escola de maria
· 08.00h Missa de Nossa Senhora do Carmo
· 21.00h Oração Mariana
· 21.30h Missa de Nossa Senhora do Carmo

12 Julho
Vinde, seremos examinados no amor!
· 08.00h Missa em sufrágio dos defuntos
devotos de Nossa Senhora do Carmo
· 21.00h Oração Mariana
· 21.30h Missa em sufrágio dos defuntos
devotos de Nossa Senhora do Carmo

14 Julho
Vinde, caminhemos confiantes com Maria até Jesus
· 08.00h Missa de Nossa Senhora do Carmo
· 17.00h Consagração das crianças
· 21.00h Solene Procissão
de Nossa Senhora do Carmo
Missa de Nossa Senhora do Carmo

15 Julho
Vinde, celebremos o dia do Senhor
· 10.00h Missa festiva
· 11.30h Missa festiva
· 18.00h Oração Mariana
· 18.30h Missa festiva

16 Julho
Vinde, alegremo-nos com a glória do Carmo

· 08.00h Missa da Solenidade
· 18.00h Oração Mariana
· 18.30h Missa da Solenidade
Procissão ao Adro da Igreja
Consagração à Senhora do Carmo

19 Julho
Vinde,honremos Mãe da Divina Graça

· 08.00h Missa da memória de Nª Sª do Carmo
· 18.00h Terço
· 18.30h Missa da memória de Nª Sª do Carmo

20 Julho
São Elias, Profeta inspirador do Carmo
· 08.00h Missa da Festa de São Elias
· 18.00h Terço
· 18.30h Missa da Festa de São Elias

26 Julho
S. Ana e S. Joaquim: pais de Nossa Senhora do Carmo
e avós do Menino Jesus

· 08.00h Missa de Santa Ana e São Joaquim
· 18.00h Terço
· 18.30h Missa de Santa Ana e São Joaquim
Bênção dos avós
Encerramento das festas do Carmo
(Chama 638, 08 de Julho 2007)

Filhos do Carmo

Escutai a nossa oração, ó Senhora do Carmo,
filha de Israel e Mãe de Deus.
Rezai connosco, vós que foste filha, mãe adorável e esposa fiel.
Nós vos oferecemos os filhos do Carmo,
especialmente os que passaram por esta Comunidade
e já partiram ao encontro do Pai,
para que encontrem a paz e a luz que sempre ansiaram.

Pedimos a vossa benção materna para os nossos pais:
Que a vossa solicitude os acompanhe sempre
para que as suas mãos fortes nos abençoem
e os seus lábios beijem os nossos filhos.

Protegei os jovens casais:
abençoai cada marido e cada esposa,
para que se mantenham firmes no seu rumo.
Nós vos pedimos a bênção para os nossos filhos
e para os filhos que hão-de nascer dos nossos filhos.
Sede o farol que nos guia seguro e certeiro
até ao porto seguro da Casa de Deus.

Ó Mãe de Jesus,
que em todos os momentos das suas vidas
eles encontrem em vós apoio e protecção,
e no vosso Divino Filho um amigo e fiel companheiro.
Que o vosso coração de Mãe os ampare nas dificuldades,
os encoraje nos desafios e os defenda contra as tentações.
Senhora do Carmo, Mãe da Igreja,
também vos confiamos os corações,
sonhos e anseios dos nossos jovens e adolescentes.
Animai muitos deles a servir Jesus
nos ministérios da Santa Igreja.

Que unidos ao vosso Filho eles sejam sal puro e luz perene,
sirvam de consolo e alentem tantos irmãos e irmãs
que percorrendo os caminhos do mundo,
anseiam por encontrar a Luz e a Verdade.
Amen.
(Chama 633, 03 de Julho 2007)