terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Procissão dos Passos

No domingo Terceiro da Quaresma cumpriu-se o ritual da Procissão do Senhor dos Passos. O acontecimento deu-se uma semana depois do agendado. A razão do adiamento foi a chuva na tarde do dia 17 de Fevereiro.
Todos compreendemos que uma Procissão dos Passos se faça compaçadamente e não a correr. Essa é a razão para não sair se o tempo estiver incerto. Assim foi, assim se fez. E bem. Como manda a cartilha do bem fazer. Aqui fica o registo fotográfico.
O fotógrafo Florival Franco é amador, mas ainda assim com mérito.
Nós Vos adoramos e bendizemos, Senhor Jesus Cristo. Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


















domingo, 24 de fevereiro de 2008

— Dá-me, Senhor, dessa água!

Era um encontro de jovens em Agosto. Em Agosto os jovens costumam encontrar-se na praia, ou em passeios de inter-rail. Poucos vão até um convento... O lugar do encontro era em Segóvia, no convento que São João da Cruz construiu e agora guarda os seus ossos pequeninos.
Foi no dia 13 ou 14 de há alguns anos atrás.
Ali os dias são quentíssimos, a paisagem é de restolho ressequido; ouvem-se corvos ou gralhas todo o dia voando e grasnando por cima da Igreja de Nossa Senhora da Fuencisla. Estes são tantos e tão insistentes que quando chega a noite e se calam, nós serenamos e sentimo-nos melhor. Em chegada a noite também ficamos melhor porque a temperatura desce e o ambiente fica mais fresco. Durante o dia conseguimos sentir-nos bem, mas é preciso evitar aquele sol agreste e ficar dentro das grossas paredes do Convento de São João da Cruz. Elas transmitem‑nos paz, devolvem-nos os ecos longínquos dos passos do nosso Santo Padre e defendem-nos do calor intempestivo que se faz sentir no coração da alta meseta ibérica.
Foi, pois, ali, à sombra da memória de São João da Cruz e na frescura daquele convento que alguns jovens portugueses e outros tantos espanhóis fizemos um encontro. Nesse dia de que quero falar abandonámos o convento pela manhã enquanto o sol era meigo e não ameaçava esturricar ninguém. Calcorreamos caminhos de pó durante uma caminhada ligeira e silenciosa por entre restos de searas, de campos enormes, amarelecidos e barrentos que se estendiam por horizontes vastíssimos. Parámos bem antes do meio-dia, bem antes do sol queimar. Parámos sem termos visto vivalma e sob as únicas árvores que se viam em muitos quilómetros em volta.
Antes de merecermos almoçar um papo seco com um chouriço de peles duras, ficamos reunidos à volta dos textos de São João da Cruz.
Passámos ali a tarde, e nem havia como sair, pois quem abandonasse a protecção das árvores logo sentia a ameaça dos raios do sol atingindo‑nos como setas. Chegamos a casa cansados e suados, com os corpos a suspirar por um banho.
Antes da ceia que é lá pelas nove da noite (!) estava prevista uma hora de oração. E lá fomos. No meio da frescura da capela estava uma vela no chão e ao lado, ligeiramente mais alta, uma tina de água límpida e fresca.
Quero lembrar que entre nós havia um basco ou catalão, não me lembro, de 17 anos, que ninguém sabia ao que viera. Estava ali tão deslocado como um peixe a apanhar banhos de sol. Não sabia nada daquilo. Não sabia nem rezar nem o que era um convento nem porque tínhamos de nos juntar a horas certas e fazer tudo junto. Como já não recordo o seu nome chamemos-lhe Rufo. Apesar de destoar Rufo era simpático, embora quase só falasse de bebedeiras de vinho!
Naquela tarde foi também à oração. Como todos nós. A oração começou e foi decorrendo junto ao Poço de Jacob, onde Jesus se encontrou com a Samaritana e lhe pediu de beber; onde Jesus foi remoçando o coração ressequido daquela mulher que Santa Teresa de Jesus diz ser S. Maria Madalena, acabando ela a pedir ao Senhor sem verdadeiramente saber o que pedia:
— Dá-me, Senhor, dessa água!
Era assim entre cânticos, a leitura do Evangelho e dos apelos da nossa Santa Madre a nos abeirarmos da Água Viva, que ia decorrendo a oração. Ali, naquela tarde, se traçava em oração, o itinerário de fé que cada um de nós é chamado a percorrer: Jesus aproxima-se a desejar a fé e o amor de cada um de nós. Depois, no encontro pessoal, é reconhecido e acolhido como a única água que pode matar a nossa sede.
A certa altura, depois duma breve meditação, foi cada um de nós até junto da água e não tinha mais que fazer que aquilo que quisesse fazer: olhar, tocar, santiguar-se... Creio que havia um cântico que cantávamos em castelhano, pedindo como a Samaritana: Dá-me, Senhor, dessa água. O cântico ia decorrendo e a fila aproximava-se lentamente da tina de água e cada um cumpria o ritual pouco mais que sugerido e conforme era capaz. Dali regressávamos aos nossos lugares e calmamente acompanhávamos o cântico em portunhol (língua usada pelos portugueses nestes encontros bilaterais).
Ninguém reparou que Rufo era o último. Mas todos vimos que ficou muito tempo diante da água. E nós cantando. Ficou ali, imóvel, impressionado. Depois, ajoelhado, deu um grande sorvo antes de lavar a cara. O cântico parou mas ali deve ter nascido um santo, pois no restante do encontro o rapaz já não foi mais igual!
(Ignoro o que posteriormente se passou com a vida de Rufo; se ficou a gostar mais de vinho ou de água. Mas o que é certo é que se naquela tarde não foi tocado pela sede de Deus, fomo-lo nós perante o seu gesto tão inesperado.)

(Chama n.º 661 -­ 24 Fevereiro ‘08)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Procissão dos Passos adiada

A Irmandade dos Passos informa todos os devotos e demais interessados que a Procissão do Bom Jesus dos Passos que se deveria realizar neste Domingo II da Quaresma, dia 17 de Fevereiro, teve de ser suspensa por causa da ameaça de chuva, como se veio a verificar.
E informa também que, como é costume, a Procissão se realizará no próximo Domingo, dia 24, pelas 16:00h.
Assim Deus queira e ajude.
Muito obrigado.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

JESUS, O AMIGO DOS AMIGOS

Segunda-feira, dia 18 de fevereiro, continua o ciclo de conferências 7 Noites - 7 Temas. O terceiro convidado para animar a nossa reflexão e oração será o Frei Silvino Teixeira, Carmelita Descalço da nossa Comunidade.
O ensinamento decorrerá na Sala do Antecoro da nossa Igreja e tem início pelas 21:00h. Esta reflexão estará subordinada ao tema: «Jesus, o amigo dos amigos». A conferência tem como destinatários os jovens adultos.

O que significa seguir os passos de Jesus?

Charles M. Seldon escreveu um livro que se chama:«Nos seus passos, que faria Jesus?» No primeiro capítulo encontra-se lá história que segue. É uma boa história para meditarmos neste segundo domingo da Quaresma, dia da procissão dos Passos do Senhor.
Era Sexta-feira e o Pastor Henrique Maxwell, protestante, ainda não tinha pronto o sermão de Domingo. Foi interrompido tantas vezes que começou a angustiar-se. O tempo passava e ele pensava que não teria o sermão pronto. Pretendia ele demostrar no seu sermão como a fé em Cristo ajuda a salvar vidas, por causa do modelo de carácter que Ele deixou para ser imitado.
Por fim o Pastor chegara ao términus do sermão e já recapitulava quando ouviu o toque da campainha. Estava só. Franziu a testa. E ficou ali sem responder à campainha. Mas logo de seguida ela voltou a tocar. Levantou-se então e foi até a janela. Um homem estava de pé nos degraus. Era jovem e vestia roupas esfarrapadas. Parecia um mendigo.
— Estou desempregado, senhor, e pensei que talvez me pudesse indicar algo para fazer.
— Não conheço nenhum emprego disponível. Está difícil encontrar trabalho, disse Maxwell.
— Eu sei, mas o senhor talvez pudesse me recomendar alguma coisa, prosseguiu nervoso.
— Por favor, queira perdoar, estou muito atarefado. Espero que encontre alguma coisa.
O Reverendo Maxwell fechou a porta e ficou a ouvir os passos do homem a afastar-se. Em seguida voltou ao seu trabalho. Não houve nenhuma outra interrupção e duas horas depois o sermão estava, de facto, terminado. Estava tudo pronto para Domingo. Iria pregar sobre seguir a Cristo, seguir os seus passos, imitar o seu sacrifício e exemplo.
No Domingo a pregação correu bem. Tudo correu bem: a pregação, os cânticos, as resposta da assembleia. Aliás, siderada, a assembleia susteve a tempo o ímpeto para aplaudir o seu brilhante Pastor.
Henrique Maxwell era considerado um grande orador, não pelo que dizia, mas pela forma como se expressava. O seu jeito era muito apreciado. Isso dava ao pregador e aos ouvintes uma agradável distinção. A verdade é que o Pastor gostava muito de pregar. Mal chegava o Domingo, ele ansiava estar no seu ambão para pregar. Eram minutos deliciosos, sobretudo se a assembleia era numerosa. Se era escassa, ele esmorecia e enfadava-se. Não era tão brilhante.
Por fim, o sermão, recheado de frases admiráveis, terminara. De repente, no meio daquela perfeita consonância aconteceu uma interrupção incomum. A assembleia ia cantando:
«Tudo, ó Cristo, a Ti entrego;
Tudo, sim, por Ti darei!»
Foi nesse momento que se ouviu a voz de um homem vinda do fundo do templo. Antes que alguém entendesse o que se passava, o homem foi até ao ambão e disse:
— «Estive a pensar se seria apropriado eu falar. Digo-vos que não estou bêbado, não sou louco e sou incapaz de causar qualquer mal a alguém; mas, se eu vier a morrer, o que poderá acontecer nos próximos dias, quero sentir a satisfação de ter falado num lugar como este e diante de pessoas como vós.»
O Pastor Maxwell não chegara a sentar-se. Estava atónito. Aquele era o homem que tinha ido à sua casa na última Sexta-feira. Estava com o velho chapéu entre as mãos. Não tinha feito a barba, o cabelo estava em desalinho. Era um maltrapilho. Porém, nenhuma pessoa se mexia.
«Não sou um vagabundo comum. Perdi o meu emprego há dez meses. Sou tipógrafo de profissão. As novas máquinas são uma óptimas, mas sei de seis colegas que se suicidaram no período de um ano, por causa destas máquinas. Nunca aprendi outra coisa; isto é a única coisa que sei fazer. Não estou a reclamar, estou apenas a relatar os factos. Mas o que me intriga é saber se o que vocês chamam “seguir a Jesus” é a mesma coisa que Ele ensinou? O Pastor disse: “é necessário que o discípulo siga os passos de Jesus!” E depois disse quais são esses passos: obediência, fé, amor e imitação. Porém não o ouvi dizer o que significam esses passos. O que é que os cristãos entendem por “seguir os passos de Jesus”?
«Andei por esta cidade nos últimos três dias tentando encontrar um emprego; e não encontrei uma palavra de conforto, excepto a do Pastor, que disse estar pesaroso pela minha situação. Não acuso ninguém, apenas narro factos. Não peço nada, apenas estou confuso a respeito do significado de “seguir os passos de Jesus”. Fico confuso quando vejo tantos cristãos vivendo confortavelmente e cantando: “Por Jesus deixarei tudo”!
«Bem, parece que não entendo as vossas coisas. Mas, o que faria Jesus? O que é que vocês entendem por “seguir os passos de Jesus”?»
Havia um enorme silêncio na assembleia quando o estranho se calou. O Pastor estava lívido e calado. Já ninguém sentia frémito por bater palmas.
De repente, o estranho abandonou ambão. Deu uns passos trôpegos em direcção ao altar. Apoiou-se nele com uma das mãos. Cambaleante passou a outra sobre a testa febril e suada e, sem uma palavra ou gemido, caiu, diante de todos, desamparado no chão.

(Chama 660 ­- 17 Fev 2008)


domingo, 10 de fevereiro de 2008

Senhor, não nos deixes cair em tentação!


O simbolismo bíblico do número 40 entrou na nossa cultura e deu origem à palavra quarentena. Chamamos quarentena ao espaço de tempo durante o qual alguém presta provas: de saúde, de resistência ou de bom funcionamento.
É isso que a Quaresma é para o cristão: um tempo de prova. Dizemos que é um tempo simbólico, porque na verdade a prova é durante toda a vida, pois durante toda a existência temos de provar que somos verdadeiros discípulos.
O antigo Povo Eleito caminhou pelo deserto durante 40 anos, e durante esse tempo tamanho algumas vezes sucumbiu às tentações que puseram à prova a sua fidelidade a Deus.
Jesus, porém, saiu vitorioso das tentações. Mas diga-se que, quer para Jesus quer para Israel, as tentações não aconteceram apenas num período das suas vidas: foram de toda a vida. Também a Igreja, novo Povo de Israel, é provada ao longo de todo o seu caminhar diário. E o mesmo acontece com a pequena comunidade crente, ou individualmente com cada um de nós. As circunstâncias externas poderão ser muito diferentes umas das outras, mas a qualidade que se deve demonstrar é sempre a mesma: a fidelidade ao seguimento de Jesus.
É sempre sobre o seguimento de Jesus que nós somos provados. Assim, a comunidade cristã não pode conformar-se apenas com uma confissão de fé em Jesus provada no modelo das três tentações. É preciso, antes de tudo, que examine o seu comportamento a fim de corrigir o que nele não é evangélico. Depois é conveniente que olhe e leia o mundo, a fim de perceber os cantos de sereia que podem fazer naufragar a sua fidelidade ao Mestre. Mais ainda: havemos de cuidar dos gestos e atitudes que melhor possam tornar compreensível a mensagem evangélica aos olhos dos nossos contemporâneos.
A fidelidade à Igreja não consiste apenas na escuta e no acolhimento da palavra do Senhor. Ela manifesta-se também na sua transmissão segundo a fórmula mais inteligível.
Para usar uma imagem poderia dizer-se que a Igreja caminha no deserto da sociedade actual como numa solidão povoada de ruídos, de dificuldades e problemas. Isso nem é mau, pois foi o Espírito Santo quem ali a colocou, pelo que o primeiro acto e obediência é resistir à tentação de fugir ao teste, quer escapando-se do mundo quer fechando-se a ele.
A Igreja, a pequena comunidade cristã e o crente individual estão chamados a submeter-se ao auto-julgamento sem respeitos nem cedências a aparências enganosas, mas cara a cara consigo mesmos. Só assim, o deserto em que nos encontramos (o nosso mundo) se converte em lugar de encontro. É assim que a aridez dá flores, o silêncio se converte em mensagem e a solidão em solidariedade e comunhão.
Não devemos esquecer que a prova é sobre o funcionamento e não sobre teorias.
O Tentador sugeriu a Jesus que convertesse pedras em pães; e a resposta de Jesus foi que se o pão é necessário, mais necessário é o sentido da vida. Ou como diz o poeta, a água é importante mas mais importante é perceber para que serve a sede. (Mas, cuidado: vivemos num tempo em que muito se peca por causa da facilidade em se converter pão em pedras: não se destroem alimentos excedentários para se manter os preços, enquanto ao lado são milhares os que morrem de fome? Quando isto acontece é importante que o cristão anuncie o Evangelho, mas é imperioso também que mate a fome.)
A mensagem da segunda tentação tem a ver com o espectacular e o milagroso: Atira-te daí a baixo, porque a Escritura diz que não te acontecerá nada! Mas Jesus responde que Deus respeita a liberdade pessoal. O recurso aos dogmatismos, a propaganda e a disciplina costumam caminhar na direcção contrária. E há quem ache que é assim que se resolvem os problemas sociais. Também Pedro tentou salvar Jesus, e foi chamado de tentador! São muitas as reuniões e documentos solenes onde nos preparamos e formamos, mas no fim acabamos dormindo em todas elas...
Tudo isto será teu se me adorares. Só Deus é merecedor de adoração, respondeu. O consumismo é o deus actual. Consumimos para que a economia vá funcionando; se o não fizermos perdemos as poucas poupanças que temos no Banco. Vamos criando falsas necessidades e esquecemos que não é mais livre quem mais tem, mas quem menos necessita. O nosso tesouro vive em vasos de barro. É uma verdade muito conhecida e muito esquecida. Parece que andamos demasiado esquecidos e distraídos na nossa vida cristã: Senhor, não nos deixes cair em tentação!

(CHAMA nº 659 -­ 10 Fev ’08)

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Quaresma, um caminho espiritual (III)


Este domingo é o último desta primeira parte do Tempo Comum. Logo depois chegam as Cinzas, acabam-se as folias e começam as penitências. Apresentamos aqui um breve programa para a sua caminhada da Quaresma. É melhor que comece já a caminhar; de contrário chegará ao fim sem (quase) nada ter evoluído, sem nada ter crescido para Deus.

11. Procura a paz. Trabalha por ela nos lugares que te são próximos, como no teu trabalho e na tua família. De que nos serve ansiar pela paz no mundo se, depois, somos incapazes de a alcançar nos nossos pequenos campos de batalha?

12. Se há muito tempo não te aproximas do sacramento da confissão, esforça-te por ir agora. A nossa vida necessita de contraditório, dum conselho, duma palavra oportuna. Precisa de alguém que em nome de Jesus vá ao fundo de nós, nos cure e nos perdoe. Por vezes um cristal limpo precisa simplesmente duma mão cuidadosa para o deixar resplandecente.

13. Guarda o jejum e a abstinência. Na verdade, nunca como hoje estiveram tão de moda as receitas para emagrecer. E a principal delas: não comer! Porém, a Quaresma diz-nos que para fortalecer o espírito é necessário que o façamos em nome de Jesus e porque Ele subiu à cruz. Caso contrário, nada disso tem a ver com a fé e até é pura manifestação de debilidade de fé.

14. Não te envergonhes de ser católico e cristão. Porque é que todos dizem o que querem e nós deveríamos manter um silêncio prudente? Porque existe tanta tolerância com outras religiões, e tão pouco respeito com a nossa? Recorda-te que as raízes da nossa terra são cristãs. Recorda-o e manifesta-o. De ti depende que continuem a sê-lo.

15. Se vives bem, e além disso reconfortado pelo teu dinheiro, julga que é uma bênção de Deus. Partilha, um pouco que seja, com os necessitados, com uma organização católica, com a tua comunidade, etc. Esse é o melhor caminho para tu fazeres esmola e, sobretudo, justiça.

(CHAMA 658 -­ 03 Fev ’08)

Quaresma, um caminho espiritual (II)


Este domingo é o último desta primeira parte do Tempo Comum. Logo depois chegam as Cinzas, acabam-se as folias e começam as penitências. Apresentamos aqui um breve programa para a sua caminhada da Quaresma. É melhor que comece já a caminhar; de contrário chegará ao fim sem (quase) nada ter evoluído, sem nada ter crescido para Deus.

6. Reconsidera sobre quem precisa da tua compreensão ou do teu perdão. Se estás indisposto com alguém, derruba os muros que vos separam. Mas se outros se afastaram de ti, não duvides em pedir perdão.


7. Lê em cada noite um fragmento da Palavra de Deus. De que no serve uma mesa se nela não nos servem alimentos? De que serve uma jóia valiosa se nunca se traz? A Bíblia é a pérola mais preciosa, mas nem sempre a mais cobiçada no lar cristão.

8. Sente-te bem dentro da tua comunidade. Reza por ela. Reza pelo papa, pelos bispos, pelos sacerdotes, especialmente por aqueles que tratam mais directamente contigo. No meio do deserto em que vivemos o Maligno a todos seduz. Lembra-te com caridade que os representantes da tua Igreja não são tão bons quanto quereriam, nem tão maus como por vezes os pintam.

9. Reza. Não julgues que é difícil. É uma questão de disposição. A oração tem dois movimentos: é o coração do palpitar de Deus com o homem e do homem com Deus.

10. Dá generosamente. Faz algo, ainda que seja pequeno, em favor de alguma causa. Mas, sobretudo, quando o fizeres fá-lo secretamente e oferece-o a Deus. Não te tornes em mais um membro encartado duma qualquer ONG. Enquanto cristão, a fonte do fazer o bem está em Deus e não no altruísmo.

(CHAMA 658 ­- 03 Fev ’08)

Quaresma, um caminho espiritual (I)


Este domingo é o último desta primeira parte do Tempo Comum. Logo depois chegam as Cinzas, acabam-se as folias e começam as penitências. Apresentamos aqui um breve programa para a sua caminhada da Quaresma. É melhor que comece já a caminhar; de contrário chegará ao fim sem (quase) nada ter evoluído, sem nada ter crescido para Deus.

1. Desprende-te de tantas palavras ocas e sem sentido; enche-te da Palavra de Deus.

2. Fortalece a tua fé com a participação diária na Eucaristia. Um peregrino não alcançará o fim do seu peregrinar sem saber porquê ou por quem peregrina.
3. Alimenta a tua consciência com a rectidão de espírito. Não caias na tentação de pensar que a tua consciência é aquilo que te dá a possibilidade de realizar ou pensar o que julgas conveniente. Deixa por isso que Deus a eduque.
4. Vive estes dias com sobriedade. Na verdade, não é porque se tem muito que se é mais feliz. A felicidade nasce do uso correcto e sensato das coisas, e não do esbanjamento ou da simples aparência.
5. Procura insistentemente um espaço de silêncio. Para aquilo que desejamos nunca há inconvenientes nem cansaço. Um templo pode ser o melhor sauna para o corpo e para o espírito.

(CHAMA 658 ­- 03 Fev ’08)

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Dia 2 de Fevereiro, dia dos Consagrados

Quarenta dias depois do Nascimento o Menino Jesus foi apresentado no Templo de Jerusalém. Maria levava-O nos braços, José duas pombinhas que ali deixou em resgate do Menino. Também os Consagrados são como Cristo apresentados na Igreja, para entregarem a sua vida ao Pai. Rezando, peçamos nestes dias mais vocações consagradas para o serviço de Deus e da sua Igreja:

Oração a Nossa Senhora do Carmo pelas vocações Carmelitas
Ó Maria, Rainha formosa do Monte Carmelo,
Mãe de Jesus, Sumo e Eterno Sacerdote da nossa fé,
linda pomba gerada sem pecado,
e também Mãe dos Carmelitas,
para vosso louvor,
Deus fez nascer no seio da Igreja a Ordem do Carmo.
Nós vos rogamos, ó Nuvem Gentil,
olhai com ternura a família a vós consagrada
e alcançai de Jesus, vosso Filho,
muitas e escolhidas vocações para o Carmo.
Enriquecei a vossa Ordem
com religiosos santos e empenhados,
sacerdotes ardentes,
irmãs decididas,
leigos comprometidos,
jovens generosos,
casais fecundos,
para que todos propaguem pelo mundo fora
a Boa Nova de Cristo e o amor a vós.
Ó Mãe Amável do Carmo,
Estrela de Esperança dos vossos Carmelitas.

QUARTA-FEIRA DE CINZAS (V)


8 de Fevereiro
21:00 Igreja do Carmo de Aveiro
VIGÍLIA PENITENCIAL JOVEM


Quem vive na opulência e não reflecte
é semelhante aos animais que são abatidos.
(Salmo 49:21)


Se a palavra perdida se perdeu, se a palavra usada se gastou
se a palavra inaudita e inexpressa
inexpressa e inaudita permanece, então
inexpressa a palavra ainda perdura, o inaudito Verbo,
o Verbo sem palavra, o Verbo
nas entranhas do mundo e ao mundo oferto;
e a luz nas trevas fulgurou
e contra o Verbo o mundo inquieto ainda arremete
rodopiando em torno do silente Verbo.

Ó meu povo, que te fiz eu.

Onde encontrar a palavra, onde a palavra
ressoará? Não aqui, onde o silêncio foi-lhe escasso
não sobre o mar ou sobre as ilhas,
ou sobre o continente, não no deserto ou na húmida planície.
Para aqueles que nas trevas caminham noite e dia
tempo justo e justo espaço aqui não existem
nenhum sítio abençoado para os que a face evitam
nenhum tempo de júbilo para os que caminham
a renegar a voz em meio aos uivos do alarido

rezará a irmã velada por aqueles
que nas trevas caminham, que escolhem e depois te desafiam,
dilacerados entre estação e estação, entre tempo e tempo, entre
hora e hora, palavra e palavra, poder e poder, por aqueles
que esperam na escuridão? Rezará a irmã velada
pelas crianças no portão
por aqueles que se querem imóveis e orar não podem:
orai por aqueles que escolhem e desafiam

Ó meu povo, que te fiz eu.

Rezará a irmã velada, entre os esguios
teixos, por aqueles que a ofendem
e sem poder arrepender-se ao pânico se rendem
e o mundo afrontam e entre as rochas negam?
No derradeiro deserto entre as últimas rochas azuis
o deserto no jardim o jardim no deserto
da secura, cuspindo a murcha semente da maçã.

Ó meu povo.

T. S. Eliot (1888-1965)
Tradução de Ivan Junqueira

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

QUARTA-FEIRA DE CINZAS (IV)


8 de Fevereiro
21:00 Igreja do Carmo de Aveiro
VIGÍLIA PENITENCIAL JOVEM

Quem vive na opulência e não reflecte
é semelhante aos animais que são abatidos.
(Salmo 49:21)

Quem caminhou entre o violeta e o violeta
quem caminhou por entre
os vários renques de verdes diferentes
de azul e branco, as cores de Maria,
falando sobre coisas triviais
na ignorância e no saber da dor eterna
quem se moveu por entre os outros e como eles caminhou
quem pois revigorou as fontes e as nascentes tornou puras

tornou fresca a rocha seca e solidez deu às areias
de azul das esporinhas, a azul cor de Maria,
sovegna vos

eis os anos que permeiam, arrebatando
flautas e violinos, restituindo
aquela que no tempo flui entre o sono e a vigília, oculta

nas brancas dobras de luz que em torno dela se embainham.
Os novos anos se avizinham, revivendo
através de uma faiscante nuvem de lágrimas, os anos, resgatando
com um verso novo antigas rimas. Redimem
o tempo, redimem
a indecifrada visão do sonho mais sublime
enquanto ajaezados unicórnios a essa de ouro conduzem.

A irmã silenciosa em véus brancos e azuis
por entre os teixos, atrás do deus do jardim,
cuja flauta emudeceu, inclina a fronte e persigna-se
mas sem dizer palavra alguma

mas a fonte jorrou e rente ao solo o pássaro cantou
redimem o tempo, redimem o sonho
o indício da palavra inaudita, inexpressa

até que o vento, sacudindo o teixo,
acorde um coro de murmúrios
e depois disto nosso exílio

T. S. Eliot (1888-1965)
Tradução de Ivan Junqueira