domingo, 17 de fevereiro de 2008

O que significa seguir os passos de Jesus?

Charles M. Seldon escreveu um livro que se chama:«Nos seus passos, que faria Jesus?» No primeiro capítulo encontra-se lá história que segue. É uma boa história para meditarmos neste segundo domingo da Quaresma, dia da procissão dos Passos do Senhor.
Era Sexta-feira e o Pastor Henrique Maxwell, protestante, ainda não tinha pronto o sermão de Domingo. Foi interrompido tantas vezes que começou a angustiar-se. O tempo passava e ele pensava que não teria o sermão pronto. Pretendia ele demostrar no seu sermão como a fé em Cristo ajuda a salvar vidas, por causa do modelo de carácter que Ele deixou para ser imitado.
Por fim o Pastor chegara ao términus do sermão e já recapitulava quando ouviu o toque da campainha. Estava só. Franziu a testa. E ficou ali sem responder à campainha. Mas logo de seguida ela voltou a tocar. Levantou-se então e foi até a janela. Um homem estava de pé nos degraus. Era jovem e vestia roupas esfarrapadas. Parecia um mendigo.
— Estou desempregado, senhor, e pensei que talvez me pudesse indicar algo para fazer.
— Não conheço nenhum emprego disponível. Está difícil encontrar trabalho, disse Maxwell.
— Eu sei, mas o senhor talvez pudesse me recomendar alguma coisa, prosseguiu nervoso.
— Por favor, queira perdoar, estou muito atarefado. Espero que encontre alguma coisa.
O Reverendo Maxwell fechou a porta e ficou a ouvir os passos do homem a afastar-se. Em seguida voltou ao seu trabalho. Não houve nenhuma outra interrupção e duas horas depois o sermão estava, de facto, terminado. Estava tudo pronto para Domingo. Iria pregar sobre seguir a Cristo, seguir os seus passos, imitar o seu sacrifício e exemplo.
No Domingo a pregação correu bem. Tudo correu bem: a pregação, os cânticos, as resposta da assembleia. Aliás, siderada, a assembleia susteve a tempo o ímpeto para aplaudir o seu brilhante Pastor.
Henrique Maxwell era considerado um grande orador, não pelo que dizia, mas pela forma como se expressava. O seu jeito era muito apreciado. Isso dava ao pregador e aos ouvintes uma agradável distinção. A verdade é que o Pastor gostava muito de pregar. Mal chegava o Domingo, ele ansiava estar no seu ambão para pregar. Eram minutos deliciosos, sobretudo se a assembleia era numerosa. Se era escassa, ele esmorecia e enfadava-se. Não era tão brilhante.
Por fim, o sermão, recheado de frases admiráveis, terminara. De repente, no meio daquela perfeita consonância aconteceu uma interrupção incomum. A assembleia ia cantando:
«Tudo, ó Cristo, a Ti entrego;
Tudo, sim, por Ti darei!»
Foi nesse momento que se ouviu a voz de um homem vinda do fundo do templo. Antes que alguém entendesse o que se passava, o homem foi até ao ambão e disse:
— «Estive a pensar se seria apropriado eu falar. Digo-vos que não estou bêbado, não sou louco e sou incapaz de causar qualquer mal a alguém; mas, se eu vier a morrer, o que poderá acontecer nos próximos dias, quero sentir a satisfação de ter falado num lugar como este e diante de pessoas como vós.»
O Pastor Maxwell não chegara a sentar-se. Estava atónito. Aquele era o homem que tinha ido à sua casa na última Sexta-feira. Estava com o velho chapéu entre as mãos. Não tinha feito a barba, o cabelo estava em desalinho. Era um maltrapilho. Porém, nenhuma pessoa se mexia.
«Não sou um vagabundo comum. Perdi o meu emprego há dez meses. Sou tipógrafo de profissão. As novas máquinas são uma óptimas, mas sei de seis colegas que se suicidaram no período de um ano, por causa destas máquinas. Nunca aprendi outra coisa; isto é a única coisa que sei fazer. Não estou a reclamar, estou apenas a relatar os factos. Mas o que me intriga é saber se o que vocês chamam “seguir a Jesus” é a mesma coisa que Ele ensinou? O Pastor disse: “é necessário que o discípulo siga os passos de Jesus!” E depois disse quais são esses passos: obediência, fé, amor e imitação. Porém não o ouvi dizer o que significam esses passos. O que é que os cristãos entendem por “seguir os passos de Jesus”?
«Andei por esta cidade nos últimos três dias tentando encontrar um emprego; e não encontrei uma palavra de conforto, excepto a do Pastor, que disse estar pesaroso pela minha situação. Não acuso ninguém, apenas narro factos. Não peço nada, apenas estou confuso a respeito do significado de “seguir os passos de Jesus”. Fico confuso quando vejo tantos cristãos vivendo confortavelmente e cantando: “Por Jesus deixarei tudo”!
«Bem, parece que não entendo as vossas coisas. Mas, o que faria Jesus? O que é que vocês entendem por “seguir os passos de Jesus”?»
Havia um enorme silêncio na assembleia quando o estranho se calou. O Pastor estava lívido e calado. Já ninguém sentia frémito por bater palmas.
De repente, o estranho abandonou ambão. Deu uns passos trôpegos em direcção ao altar. Apoiou-se nele com uma das mãos. Cambaleante passou a outra sobre a testa febril e suada e, sem uma palavra ou gemido, caiu, diante de todos, desamparado no chão.

(Chama 660 ­- 17 Fev 2008)


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