sábado, 29 de dezembro de 2007

FOI EM FAMÍLIA

Hoje como sempre a família vive em dificuldades e tribulações, é atacada, vilipendiada, obstruída. Porém

Deus quis nascer no seio duma família.
Deus chorou quando foi família.
Deus acolhe o pobre e o rico em família.
Deus deixou-se guiar por uma família.

Em família Jesus reconheceu um nome: Maria!
Em família Jesus respeitou um homem: José!
Em família, Deus-connosco, foi iniciado na fé.
Em família, Jesus foi querido e agasalhado.
Em família, Jesus soube o que é ter de fugir.
Em família, Jesus foi consolado e animado.
Em família, Jesus aprendeu a crescer.
Em família, Jesus sofreu o desprezo
dos que O não quiseram nem ver nem esperar.
Em família, Jesus viu o encanto dos pastores.
Em família, Jesus viu os três reis magos
que lhe ofereceram ouro, incenso e mirra.
Em família, Jesus falou e aprendeu o silêncio.
Em família, Jesus foi perdido e encontrado.
Em família, Jesus brincou, rezou e cantou.
Em família, Jesus aprendeu a sofrer
a incompreensão dos que O rodeavam.

Em família... Sim, em família!
Em família, Jesus foi filho!
Em família, Jesus foi menino!
Em família, Jesus foi jovem!
Em família, Jesus aprendeu a ser adulto!
Em família, Jesus aprendeu a olhar os céus!

ADORAÇÃO | QUINTA-FEIRA | 03 JANEIRO

14:00 - 23:00 TARDE - NOITE DE ADORAÇÃO
· 14:00h Início da Adoração Eucarística mensal.
· 17:45h Os Ministros da Comunhão orientam uma hora de oração pelas vocações.
· A Adoração encerra com a bênção às 23:00h.

(Olhar) A Sagrada Família de Nazaré (iv)

O que podemos aprender na Escola de Nazaré?
Tudo isto e muito mais. Todos podemos aprender na Escola de Nazaré, onde, mãe, pai e filho são os professores.
Os pais podem aprender com José a ser solícitos vigilantes e atentos, trabalhadores, providentes do lar e homens de fé que sabem discernir a vontade de Deus a seu respeito e a respeito dos seus.
As mães aprendam com Maria o recato, a singeleza do espírito, a firmeza, a fidelidade perfeita, e a ouvir as propostas ousadas da Palavra de Deus.
Os filhos podem aprender com Jesus a obediência aos pais, mesmo sendo mais que eles! Eram menores que Ele em nobreza, virtudes, sabedoria e dons naturais; ainda assim obedecia-lhes serenamente e com eles aprendeu a crescer, a rezar, a amar e a ser adulto.
Os pobres aprendam da Sagrada Família a conservar a dignidade na pobreza e até na penúria.
Os nobres podem aprender com esta nobre família descendente do Rei David — e protectora do Rei dos reis — a agir com moderação no esplendor da sua fortuna.
Os operários e os que se irritam com as dificuldades da vida e da sua condição modesta, contemplem a família pobre de José e reconhecerão com orgulho que foi esta e não uma rica, a eleita para cuidar de encontrar o pão de cada dia para a boca do Salvador do mundo. Por fim, foi a uma família pobre que o Todo-poderoso obedeceu.
Erat subditus illis!

(Olhar) A Sagrada Família de Nazaré (iii)

Era uma família atenta
Não viviam assoberbados pelo trabalho ao ponto de perder a noção do tempo e das situações. Liam com facilidade a situação política concreta. O Menino era para este jovem casal uma fonte de profunda alegria e um grande motivo de preocupação. A cruel perseguição de Herodes ao Menino constituiu-os em fugitivos, emigrantes e desterrados. Aquando da morte do tirano perseguidor regressarão, mas porque sobre Belém reina um tirano pior que ele vão instalar-se na desconhecida aldeia de Nazaré, longe da sua mão e poder.­­

(Olhar) A Sagrada Família de Nazaré (ii)

Era uma família feliz
A família de José estava apoiada nos pilares fortes da paz e da harmonia, da paciência e resignação. Foi isso que atraiu José em Maria. E vice-versa. Mas sabemos bem que durante o desposório as coisas estiveram difíceis, sinal de que os santos e os justos atravessam, por vezes, dificuldades maiores que as nossas.
Jesus que era Deus, o Deus de José e de Maria!, era-lhes submisso. Respeitou-os e obedeceu-lhes. Maria — a Mãe de Deus! — reconhecia em José a autoridade de chefe de família: era-lhe submissa, atenciosa e conselheira prudente.
Eram uma família feliz.

(Olhar) A Sagrada Família de Nazaré (i)


Era família pobre mas não resignada
A família de Jesus era pobre, mas pobre mesmo. E naquele tempo não havia sequer o Rendimento de Inserção Social. Eram todos os seus membros devotados ao trabalho, pois nenhuma ajuda se poderia desprezar. José, talvez carpinteiro, talvez homem dos sete ofícios, fazia de tudo um pouco. Não me espantaria que soubesse fazer um arado de madeira e uma barca de pesca. Consertaria com igual facilidade uma cadeira ou um muro. As mãos eram pesadas e calejadas e os instrumentos muito primitivos. Mas em todas as milhas em redor não havia outras igual para afagar a cabeça de Jesus e ensiná-l’O a trabalhar, como Maria e o Pai Eterno bem testemunhavam.
Maria, ali bem perto da oficina, dedicava-se à casa. Era um regalo de música quase divina ouvir os seus dois homens a palrar as melhores soluções para o trabalho do momento. Era modesta nos arranjos da sua casa, onde nunca faltava água fresca que ia buscar, à cabeça, à fonte — a Fonte da Virgem como ainda hoje é conhecida em Nazaré. Jamais recriminou José por gastar água em demasia para lavar as mãos sujas do trabalho.
Nas suas mãos dançavam agilmente o fuso e a roca, e a cozinha não tinha segredos para si. Tão‑pouco os alimentos eram muito variados em sua casa...
José suava como os outros trabalhadores. Nalguma pausa do trabalho surpreendia-se a olhar para a mulher, e via-a serena e calma a rezar tal como no dia em que o Anjo a saudou.
Jesus saía aos dois. Em menino ajudou a Mãe em casa; depois, já mais crescidinho, ajudou o pai na oficina. Foi buscar água, trincou os dedos e carregou madeiras. A sua arte era mesmo a de aliviar os pais do peso do trabalho e contribuir para a casa.

A Festa da Sagrada Família de Jesus

A Festa da Sagrada Família de Jesus, José e Maria é uma festa feliz, uma escola única, a que devemos aproximar-nos com leveza interior. Logo no primeiro domingo a seguir ao Natal somos convidados a submergir-nos nesta família tão especial que é também nossa.
Depois do regresso do Egipto, onde estiveram refugiados, Jesus viveu em Nazaré com a sua família, Maria e José. Como era a família de Nazaré para que dela possamos aprender algo?

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Ceia de Reis do Carmo


A Ceia de reis da Comunidade do Carmo de Aveiro é um encontro da nossa família à volta de outra mesa. Terá lugar no próximo dia 5 de Janeiro de 2008, no Salão do centro Pastoral de São João da Cruz. Inscreva-se na Sacristia.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Saudação de Natal

AOS QUE CONNOSCO,
COMUNIDADE DO CARMO DE AVEIRO,
PERCORRERAM NA ESPERANÇA OS
CAMINHOS DA FÉ;
AOS QUE CONNOSCO
PELA PALAVRA, PELA BELEZA
E TESTEMUNHO COLABORARAM NO ANÚNCIO DA BOA NOVA;
AOS QUE CONNOSCO
LAVARAM OS PÉS AOS IRMÃOS
E A DEUZ ENTOARAM OS LOUVORES
DE QUE SÓ ELE É DIGNO;
A TODOS,
AOS DE LONGE E AOS DE PERTO:

SANTO E FELIZ NATAL!

sábado, 22 de dezembro de 2007

ORAÇÃO PARA A CEIA DE NATAL

(Antes da ceia reúne-se a família junto ao Presépio. Acendem-se uma ou duas velas, e apagam-se as luzes de casa. Inicia-se a Leitura do Evangelho e às palavras «Anuncio-vos uma grande alegria» acendem-se as luzes da sala.)

1. Reunir a família.
2. Em nome de Pai e do Filho e do Espírito Santo.
3. Leitura do Evangelho de S. Lucas 2, 8-20.
4. Oração.
5. Cântico de Natal que a família conheça.


Oração
Senhor nosso Pai, nós Vos louvamos
e bendizemos porque nos concedeis
a alegria de celebrar os 2007 anos
do nascimento de Jesus Cristo,
o Salvador do mundo.
Nós Vos damos graças por todas as manifestações do vosso amor.
Dai-nos, Senhor o Vosso Espírito Santo para que Jesus nasça e cresça nos nossos corações e seja, no centro da nossa família, a fonte da vida e do amor.
Guardai no Vosso amor os nossos familiares e amigos que estão longe
e que hoje lembramos com saudade,
e concedei aos nossos defuntos
a glória do Céu.
Dignai-vos também abençoar
a nossa mesa e a nossa casa,
para que a alegria do Natal dê abundantes frutos de caridade em cada um de nós.
Por nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho, que é Deus convosco
na unidade do Espírito Santo. Amen!
(Pai Nosso, Avé Maria, Glória ao Pai.)

Bodas

Quando foi chegado o tempo
em que de nascer havia,
assim como o desposado.
do seu tálamo saía
abraçando a sua esposa,
que em seus braços trazia;
ao qual a bendita Madre
em um presépio poria.
Os homens davam cantares,
os anjos a melodia,
festejando o desposório
que entre aqueles dois havia.
(SÃO JOÃO DA CRUZ)

Natal, as bodas de Deus


O teólogo Xabier Pikaza leu este ano o mistério do Natal pelos olhos de São João da Cruz. Ao mistério do Nascimento chamou as Bodas de Deus.
São João da Cruz concordaria. Eu também; e é de Pikaza que retiro os pensamentos que seguem.
Pikaza vê o Advento como a experiência de enamoramento de Deus, que se abre e se oferece a todos os homens e mulheres. Só um Deus loucamente enamorado pela Humanidade a poderia ter criado e sustentado a vida. Porque também dela o Filho se enamorou, quis dizer-nos o seu amor pelo mundo.
É bonito dizer que Deus existe e é um Deus enamorado; porém, tal exige que esse dizer se diga, no comum da vida, com palavras e com vidas apaixonadas por Deus. Dizer que o Emanuel que nasce está enamorado por mim, exige que eu mostre um rosto e um coração enamorado e capaz de amar.
O enamoramento da Santíssima Trindade pela Humanidade fez o Filho nascer, como um acto de busca apaixonada da esposa, a Humanidade.
E aonde iremos nós agora, Igreja apaixonada, provar o nosso enamoramento? Havemos de ir buscar a esposa aos baixios da vida, como fez Cristo, que baixando, nos veio buscar-amar a nós. Iremos buscá-la ao lugar onde ela se encontra: nos doentes dos hospitais, nos famintos dos subúrbios das grandes cidades, nos solitários das ruas perdidas, nos recantos do mundo sem alma.
Irei buscar uma esposa, disse Cristo. E essa esposa a quem Ele ama com amor de igualdade e apaixonadamente somos nós.
Sejamos exploradores do amor e não apenas de petróleo ou de ouro. Sintamo-nos impelidos a buscar pessoas para amar, procuremos uma esposa a quem servir no amor.
Procuremos para sermos procurados. Não saiamos buscando cheios apenas de razões, sabendo que sabemos o que sabemos e ninguém mais sabe algo... Porque também eu devo deixar que me busquem e me encontrem, devo deixar-me amar e surpreender pelo amor. Onde quer que eu esteja, no alto duma torre ou na cave duma prisão, que ali se abram as portas do amor que é Deus.
São João da Cruz afirma que o Filho amou o mundo e por isso se inseriu neste cativeiro, nascendo como humano neste lago de baixeza em que se encontram os homens oprimidos. Só assim. Só fazendo-se carne da carne de Maria, só fazendo-se verdadeiro «filho do homem», o Filho de Deus faz sua a Humanidade, tomando-a nos braços, acariciando‑a com ternura e elevando-a à Sua glória.
Para o poeta (e teólogo) São João da Cruz, o Filho de Deus actua como um esposo amante. Ele sai do tálamo (sinal de geração de vida e de união) levando nos braços a esposa, a fim de a conduzir de novo para Deus. Ele é o esposo-amigo que com poderosa ternura resgata e eleva a sua esposa para a ela sempre se abraçar.
O Filho de Deus apresenta-se também como o esposo envolvido no pranto. No Natal, os homens cantam cantares e os anjos entoam melodias. No primeiro Natal o mundo cantou música digna do Céu, enquanto, Deus, no presépio, chorava e gemia.
As bodas de Deus são naturalmente as bodas da Humanidade. O poeta consegue surpreender-nos com uma troca misteriosa, na qual se vê «o pranto do homem em Deus» (que é Cristo chorando no presépio) «e no homem a alegria dos céus», que se vê, ou melhor, se ouve, nos cantares dos pastores. Vejamos, o princípio e sentido do Natal é que a Humanidade se alegre e se case, se anime a viver e a compartilhar a vida.
Maria de Nazaré é obviamente a mulher das bodas. É esse o espanto da incarnação, o centro da fé cristã. São João da Cruz tomou a Virgem Mãe como testemunha desse espanto, como exemplo e modelo de todos os crentes. Ela é a Virgem do acontecimento — «A donzela que se chamava Maria, de cujo consentimento o mistério se fazia» —, porque com o seu Sim deixa que Deus se humanize dentro dela. Maria é a mãe da contemplação assombrosa, que descobre e venera a grandeza de Deus no choro e pequenez de Cristo que nasceu.
Ao chegar aqui, parecendo que se deveria iniciar o relato da vida de Jesus e da sua Páscoa, São João da Cruz fecha o seu poema. E fica a contemplar.

Chama 652, 23 Dezembro 2007

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Nova Bem-aventurada Carmelita

B. Maria Josefina de Jesus Crucificado

Josefina Catanea nasceu em Nápoles, no dia 18 de Fevereiro de 1894. Aos 10 anos fez a Primeira Comunhão e recebeu o Crisma. A sua adolescência ficou marcada por uma vida impecável, quer na fé quer nos bons costumes e na prática das obras de caridade.
Aos 14 anos foi passar a Novena de São José ao recém-fundado Carmelo napolitano de Ponti Rossi. Ali se encontrava a sua irmã mais velha, Antonieta. E por umas e outras razões já não regressou a sua casa.
Era de fraca saúde. As doenças sucediam-se invariavelmente. Era, porém, muito activa e trabalhadora.
Aos 24 anos, no dia 24 de Novembro de 1918, esteve a ponto de morrer por causa da gripe. Curou-se por intercessão de S. José.
No dia 6 de Junho 1922 sofreu horríveis ataques de coração. Os sofrimentos pioraram a partir do dia 10 de Agosto seguinte.
No dia 26 de Junho de 1923 levaram-lhe o braço de São Francisco Xavier, e ao tocar a relíquia ficou curada.
No dia 30 de maio de 1933 tomou hábito de Carmelita Descalça no Carmelo de S. José e S. Teresa, aprovado canonicamente no ano anterior.
No dia 6 de Agosto de 1933 professou e recebeu o véu.
Apesar das suas dificuldades físicas foi eleita Subpriora no dia 2 de Abril de 1934.
No dia 6 de Agosto de 1945 foi eleita Vigária.
No dia 29 de Setembro de 1945 foi eleita Prioresa, apesar de apenas se poder movimentar em cadeira de rodas.
Morreu no dia 14 de Março e de 1948.
A sua fama de Santidade era tão grande que os fiéis acorreram em tão grande número que tardo 13 dias em ser sepultada. Durante esses dias não se revelaram quaisquer sinais de degradação.
Estes factos moveram as autoridades eclesiásticas a iniciar a sua Causa de Canonização, cujo Processo Ordinário ocorreu entre o dia 27 de Dezembro de 1948 e 18 de Fevereiro de 1952.
No dia 3 de Janeiro de 1987 foi promulgado o Decreto sobre a heroicidade das suas virtudes.
Hoje, 17 de Dezembro de 2007, o Santo Padre Bento XVI, autorizou a promulgação do Decreto sobre o milagre atribuído à sua intercessão.
A sua beatificação ocorrerá em Nápoles em data a determinar.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Domingo Gaudete4

Cristo está tão próximo que João Baptista, no Evangelho de hoje, já o assinala presente no meio de nós. Aos fariseus que perguntam ao Baptista: «Tu quem és?», ele respondeu com a verdade, ele «Confessou e não negou», e depois disse: «Porém, no meio de vós está aquele a quem não conheceis: esse é aquele que há-de vir.»
No meio de vós, quer dizer, na Eucaristia; quer dizer, nos sacrários do mundo inteiro!
No livro do Apocalipse, Ele diz: «Eis que estou à porta e chamo». Ele já está no meio de nós, Ele está a chamar.
Aquele a quem João Baptista — o maior dos filhos de mulher — não é digno de desatar a correia das sandálias, está à porta de cada homem e cada mulher esperando que a abram...
E a Igreja ao vê-lo chegar, alegra-se. E a alegria da Igreja ilumina a nossa vida e abre portas à nossa alegria.
A nossa alegria está in Domino. A Igreja recorda-nos o que bem sabiam os primeiros cristãos: que a verdadeira alegria «está no Senhor»! Vem desde cima e desde dentro, desde Deus e desde a fé! Ela não se encontra à mercê dos acontecimentos, nem dependes das oscilações da vida. Ela tem as suas raízes no próprio Deus, bem firmadas na esperança: «Alegrai-vos sempre no Senhor».
A alegria que celebramos antecipadamente neste Domingo é um desafio ao cristão para que injecte a alegria divina nas coisas humanas, aquela alegria que elas por si sós não podem ter nem dar.
O mundo anda triste, porque busca a alegria que só Deus pode dar... e não a busca em Deus!
A nossa alegria não é a de estarmos satisfeitos, mas a que recebemos de Deus por sermos seus filhos. A alegria do Advento é a alegria cristã de sempre, «porque o Senhor está próximo».

Domingo Gaudete3

Especialmente esperante e jubiloso é o canto da Igreja do silêncio, a Igreja perseguida, a Igreja da China e dalgumas regiões da Índia e outras. Apesar das cadeias e das repressões, também a Igreja perseguida é convidada para a alegria, porque o Senhor vem para todos nós como Libertador. Hoje os sacerdotes de Deus proclamam no altar igual convite em todo o orbe terrestre: Gaudete in Domino semper, iterum dico, gaudete! Mesmo sobre aqueles que mais se sentem acabrunhados ou martirizados pelo sofrimento, sobre todos cai hoje uma alegria sobrenatural que é dom de Deus para enfrentar as dificuldades.

Domingo Gaudete2

No Domingo passado, animados pela liturgia da Igreja, os nossos corações abriram-se ainda mais para os caminhos do Senhor que vem. O Deus da esperança vai fazendo em nós a sua boa obra, e a paz inunda o coração dos cristãos que vivem da fé e a procuram confirmar com obras.
Continuamos em Advento.
A Igreja caminha em tensão expectante. Oxalá toda a Igreja espere, porque em nós ressoa a voz do Apóstolo Paulo que nos grita com clamores de júbilo: Gaudete in Domino semper, iterum dico, gaudete! Alegrai-vos sempre no Senhor, novamente vos digo, alegrai‑vos!
Há hoje na Missa uma surpresa: a cor rosa, raramente vista na liturgia. É uma cor que quer dizer que nos encontramos em penitência, embora envolvidos em esperançosa alegria.
Neste domingo a Igreja revestida de cor rosa, proclama: Não andeis tristes, mas alegres! Não desespereis, mas esperançai! E depois, suavemente, diz a razão dessa alegria: Dominus enim prope est, Porque o Senhor está a chegar!
A Igreja alegra-se por pressentir levemente que o Senhor está a chegar. O Corpo místico de Cristo, estendido por toda a face da Terra canta neste Domingo o Gaudete in Domino!
É um canto na esperança.
(Chama 651, 16 de Dezembro de 2007)

Domingo Gaudete

Desde há muitos séculos este domingo é chamado o Domingo Gaudete, Domingo da alegria. É assim chamado porque o Senhor está próximo
e porque o Advento está a chegar ao fim. Fica a faltar apenas uma semana.
A antífona de entrada da Missa é composta por palavras de São Paulo aos Filipenses: «Estai sempre alegres, no Senhor; novamente vos digo: estai sempre alegres. O Senhor está a chegar.»
(Chama 651, 16 de Dezembro de 2007)

sábado, 8 de dezembro de 2007

Alguns ensinamentos de São João da Cruz

A alma que verdadeiramente ama a Deus, não deixa de fazer o que pode para achar o Filho de Deus, seu Amado. Mesmo depois de haver empregue todos os esforços, não se contenta e julga não ter feito nada.

A mosca que pousa no mel não pode voar; a alma que fica presa ao sabor do prazer, sente-se impedida em sua liberdade e contemplação.

A pessoa que caminha com Deus e não afasta de si as preocupações, nem domina as suas paixões, caminha como quem empurra um carro encosta acima.

O Amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo Amado.

Se está em mim Aquele a quem minha alma ama, como não o encontro nem o sinto? É por estar Ele escondido. Mas não te escondas também; assim podes encontrá-Lo e senti-Lo...

Para possuir Deus plenamente, é preciso nada ter; porque se o coração pertence a ele, não pode voltar-se para outro.

O demónio teme a alma unida a Deus como ao próprio Deus.

(Chama 650, 9 de Dezembro de 2007)


AVISOS2: SÁBADO | 15

· 21:30 Concerto de Natal promovida pelo Coro Voces Carmeli. Com a participação da Orquestra-Tuna Sociedade Musical Santa Cecília.
A entrada é gratuita.
(Chama 650, 9 de Dezembro de 2007)

AVISOS: SEGUNDA | 10 - 13 | QUINTA

Do dia 10 ao dia 13 decorre a segunda parte da Novena de São João
da Cruz. O programa é o seguinte:
· 08:00 Eucaristia.
· 18:30 Eucaristia.
· 21:00 Eucaristia.
· 21:30 Momento de oração sanjoanista.
(Chama 650, 9 de Dezembro de 2007)

Modelo de contemplação e intercessão

Para São João da Cruz a Virgem Maria é também modelo de confiança. Nas Bodas de Caná ela, sempre atenta e sempre discreta, fez valer o poder da sua intercessão junto de seu Filho.
Sobre a intercessão de Maria, São João da Cruz comenta: «Quem discretamente ama não cuida de pedir aquilo que lhe falta e deseja, antes, porém, apresenta a sua necessidade para que o Amado faça aquilo que fôr servido fazer, tal como a Bem-aventurada Virgem Maria, nas Bodas de Caná da Galileia. Ela não pediu vinho directamente a Jesus; ela apenas lhe disse: ‘Eles não têm vinho’
A presença da Virgem está implícita noutro pensamento do nosso Santo, quando diz: «Uma Palavra falou o Pai, que foi o seu Filho. E fala-a sempre em eterno silêncio, e é no silêncio que há-de ser ouvida pela alma
Maria é nosso modelo de (in)acção. Maria é o silêncio contemplativo que acolheu a Palavra. É essa a razão pela qual São João da Cruz, unindo mais uma vez e sempre Maria e Cristo, pôde exclamar na Oração da Alma Enamorada: «A Mãe de Deus é minha»!
(Chama 650, 9 de Dezembro de 2007)

Sob o Espírito Santo

Ao falar das almas que se identificam com a vontade de Deus, São João da Cruz diz que algumas se identificam totalmente com ela, de modo que toda a sua actividade, as suas obras e orações brotam por inspiração de Deus. Escreveu São João da Cruz: «Assim eram as acções da gloriosíssima Vigem Nossa Senhora, que, estando desde o início elevada a este tão alto estado, nunca teve impressa na sua alma marca de alguma criatura nem por alguma outra se deixou mover. A sua vida foi sempre orientada pelo Espírito Santo».
Nesta afirmação encontra-se o princípio da acção constante e total do Espírito Santo em Maria. Desde o início Ela foi elevada a este alto estado de comunhão com Deus, através dum dinamismo de crescente fidelidade e de cooperação com as moções do Espírito Santo.
(Chama 650, 9 de Dezembro de 2007)

Comungou o mistério de Cristo

No seu poema Romances sobre o Evangelho de São João, chave bíblica de toda a sua doutrina na perspectiva da história da salvação, a Virgem Maria aparece em esplendorosa comunhão com a Santíssima Trindade, no seu privilégio e missão de ser Mãe do Verbo Incarnado, na aceitação e consentimento da obra da salvação. São João da Cruz vê-a como testemunha do mistério, como «Mãe graciosa» que leva nos seus braços a Deus; ela é a Esposa-Igreja e é a Humanidade em quem se consumaram os desposórios de Deus com a homem: «abraçado à sua esposa, que nos seus braços trazia».
O cume desta comunhão vê-a Frei João alcançada na Cruz, onde a Virgem participa na dor do Redentor. Ela é a Imaculada; ainda que viva isenta de pecado ela sofre porque sempre viveu associada — e agora também — à acção do Salvador. Junto da Cruz a Mãe sofre, não por ter sido pecadora nem por precisar de ser purificada, mas em comunhão com a acção salvadora de Cristo.
(Chama 650, 9 de Dezembro de 2007)

A Virgem Maria de São João da Cruz

A Virgem Maria está presente em toda a vida de São João da Cruz com ternura de Mãe. Era ele menino de oito ou nove anos e embora não a querendo agarrar, ela estendeu‑lhe a mão branca que segurou a sua cheia de lodo e lama e o arrancou das garras da morte.
Depois desta outras intervenções se seguiram, quer na infância quer na vida adulta. Porém, aquele primeiro encontro com a Virgem foi como que uma declaração dela: — «Joãozinho, não temas. Não temas jamais, porque não te afundarás. Eu estarei sempre contigo!»
Assim foi. A Virgem cumpriu: ele jamais se afundou.
Lamentavelmente o nosso Santo Pai não parece ter dito tudo, e manifestamente sabia mais do que nos contou. As alusões marianas que o Santo Padre faz nos seus escritos são bastante sóbrias, embora marcadas pelo toque de genealidade próprio do Doutor Místico.
Assim viu São João da Cruz o mistério de Maria.
(Chama 650, 9 de Dezembro de 2007)

Um anjo chamado João

Se queremos encontrar um anjo em carne humana ou encontrar um homem totalmente angelical vamos a São João da Cruz e não seremos enganados. Quando escrevia olhava o Céu, e foi assim que nos revelou os seus mistérios como se já vivesse da glória. Conquanto escrevesse na Terra, como se fora em noite escura, falou‑nos do amor divino que nos enchameia a alma como viva chama de amor.
O céu e a terra, o homem e o anjo, o peregrino e o bem-aventurado, o sábio e o humilde, fundem-se verdadeiramente no Santo Padre João da Cruz, que, convicto, viveu o ideal de oração e abraçou apaixonadamente a cruz. Toda a sua vida foi uma imensa cruz que se lhe coseu ao corpo e à alma. Porém, viveu a vida apaixonadamente agarrado à Virgem Maria, que em menino lhe estendeu a alva mão e o arrancou do lodo dum atoleiro onde caíra durante uma brincadeira de crianças. Viveu e cresceu de mão dada com a Virgem.Ao aproximar-se a sua festa, falemos dele e dela.
(Chama 650, 9 de Dezembro de 2007)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

CONCERTO DE NATAL NA IGREJA DO CARMO

Acontece no próximo dia 15 de Dezembro um Concerto de Natal, na Igreja do Carmo de Aveiro, que juntará vozes e instrumentos do Coro Voces Carmeli e da Orquestra-Tuna da Sociedade Musical Santa Cecília, entoando as mais variadas canções da época.

A Sociedade Musical Santa Cecília foi fundada em 1903, é sedeada na freguesia de S. Bernardo e ao longo de mais de cem anos de existência tem contribuído para uma maior actividade cultural e social da comunidade aveirense. A Orquestra-Tuna é composta por bandolins, guitarras clássicas, baixo e contrabaixo acústico, violinos, flautas, clarinetes, saxofones, acordeões, trombone de varas e vozes. Sendo os seus músicos maioritariamente jovens e com o trabalho desenvolvido pelo maestro Vítor Saudade, a realidade do presente mostra uma reconhecida qualidade musical que são a garantia de futuro.

O Coro Voces Carmeli surgiu em 1990, sob a orientação do Frei Rui Rodrigues, na Igreja do Carmo de Aveiro. Desde a sua fundação, conta com a Direcção Artística da Maestrina Elsa Martins. A participação na eucaristia dominical, das 11h30, é o principal objectivo do Coro, sendo que ao longo da sua história apresenta algumas deslocações a várias partes do país. O Coro Voces Carmeli conta agora com guitarras, violinos, flauta transversal, baixo, teclado e bateria, aliados a uma panóplia de fantásticas vozes.

O concerto, de entrada livre, terá início às 21 horas e 30 minutos e promete animar o serão dos aveirenses no próximo sábado.

sábado, 1 de dezembro de 2007

7 NOITES, 7 TEMAS

Segunda-feira, dia 3 de Dezembro, iniciaremos o ciclo de reflexão e oração 7 noites, 7 temas. As conferências serão mensais e terão lugar no Salão do Centro Pastoral de São João da Cruz.
O primeiro conferencista é o nosso Bispo, D. António Francisco dos Santos que versará o tema: O Sonho do Pai é o amor.
Não podíamos começar melhor.
Sinta-se convidado, sinta-se em casa.


(Chama 649, 2 de Dezembro de 2007)

VIDA, DOÇURA E ESPERANÇA NOSSA

O Arcanjo Gabriel chamou-lhe «cheia de graça»; os Padres da Igreja oriental «a Toda Santa»; Pio X definiu a sua conceição imaculada, que «foi
preservada imune de toda a mancha do pecado original desde o primeiro momento da sua concepção»; o Vaticano II apresenta-a como «protótipo e modelo destacadíssimo na fé e no amor.»

Pela afirmação da concepção imaculada de Maria, nós negamos que ela foi contaminada pelo pecado e afirmamos que desenvolveu em grau eminente os ‘talentos’ recebidos em a «atenção aos méritos de Cristo». Por isso é natural que Maria brilhe «diante do Povo de Deus como sinal de esperança certa e de consolo».

Estes dons recebidos de Deus não a tornaram numa pessoa passiva, mas no melhor exemplo de amor que se entrega até ao fim. O povo de Deus sabe e por isso a venera como o exemplo mais perfeito de fé, amor e esperança.
Uma esperança que não se limita ao futuro próprio do mais além, mas que se implica nos assuntos da terra.

Foi Maria quem disse que Deus quer que os explorados e os pobres recuperem a sua dignidade. Esta é a tarefa que devemos assumir, como filhos da Igreja e imitadores de Maria para que os desfavorecidos da sorte e da ventura humana encontrem corações que os acarinham e mãos que os saciem.


(Chama 649, 2 de Dezembro de 2007)

A.D.V.E.N.T.O.

A.no novo
Com o Advento inicia-se o ano litúrgico, ou cristão. São, assim, distintos, os calendários que regulam a nossa vida: há o calendário civil, que começa em Janeiro; há o calendário escolar, que começo em Setembro. Começa também em Setembro o calendário político e, de certo modo, o calendário laboral, terminadas as férias de Verão.
Agora, em Dezembro, iniciamos um novo calendário litúrgico. Este ano compreende também doze meses, no entanto não está dividido em quatro estações, mas em tempos de diferente duração. Neste calendário não manda o clima, nem se divide em solstícios e equinócios.
No ano litúrgico manda a história das relações de Deus com os homens. O seu auge é a Páscoa ou o Tríduo Pascal com a celebração da morte e ressurreição do Senhor. Outro grande momento é o Natal, em que Deus, depois de Se fazer anunciar, monta a sua tenda entre nós. Finalmente, como coroação da Páscoa, aparece a grande festa de Pentecostes como dom de Deus para a Igreja de todos os tempos.

D.escida
O Advento é um tempo de preparação para a grande festa do Natal. Natal é descida, despojamento, esvaziamento. Desde a origem a Igreja sempre viu que o Filho de Deus ao incarnar‑se no seio de Maria aceitou os condicionamentos da natureza humana ferida pelo pecado. O nascimento de Jesus é uma abaixamento da glória, que tanto desce que será morto na Cruz.

V.ida
Deus não é um ser inerte, mas activo, quer na sua acção criadora e conservadora de quanto existe fora dele, quer na sua vida íntima.
Ao expressar o conhecimento que tem de si mesmo, é como Pai que gera o Filho; e ambos se identificam no amor pessoal do Espírito Santo. Num excesso de amor gratuito, quis alargar a comunhão da vida trinitária a seres espirituais distintos de si, criando, por um lado, os anjos e, por outro, o homem feito à sua imagem e semelhança, elevando-o à condição de filho adoptivo. Esta nossa condição permite, com a luz da graça, chegar ao conhecimento da vida íntima de Deus e de nela participar.

E.sperança
O Antigo Testamento viveu a esperança como o cumprimento das promessas do Deus da Aliança nesta vida; a instalação na Terra Prometida.
No Novo Testamento a esperança é focada sobretudo nas Cartas de S. Paulo.
Salvos na Esperança (Romanos 8,24) é a segunda Carta Encíclica de Bento XVI dada oportunamente à Igreja no início deste Advento, para nos recordar que a grande escola da esperança é a oração.

N.ascimento
O Natal que nos aprestamos para celebrar é o natal ou nascimento de Jesus. Trata-se da vinda ao mundo e aparecimento entre os homens do Verbo Divino incarnado para salvação de todos. Rigorosamente, o momento da entrada do Filho de Deus na história dos homens deu-se com o SIM dito pela Virgem Maria aquando da Anunciação, que a Igreja celebra a 25 de Março, nove meses antes do Natal
Segundo S. Lucas, o nascimento de Jesus aconteceu em Belém de Judá, a terra do rei David, de cuja linhagem era José, o esposo de Maria. O nascimento terá ocorrido no ano 6 ou 7 a.C.
Depois da Páscoa, que celebra o mistério da Redenção, o maior dia festivo do Ano Litúrgico é o Natal. A sua celebração é preparada pelo tempo do Advento, polarizado pela figuras bíblicas de Isaías, João Baptista e Virgem Maria.

T.abernáculo
Tabernáculo era o nome dado à tenda da Aliança ou da revelação, verdadeiro santuário de Israel durante a caminhada no deserto, na qual Jahvé se manifestava a Moisés. Constava do Santo, lugar onde se encontrava a mesa com os pães da propiciação, e do Santo dos Santos, onde se encontrava a Arca da Aliança.
Na liturgia católica significa o sacrário, que muitas vezes é construído sob a forma de tenda.
Espiritualmente, afirmamos que o seio virginal de Maria foi o tabernáculo mais puro onde repousou Jesus, Pão de vida.

Ó., Nossa Senhora do
Nossa Senhora do Ó é o título dado a Maria no mistério da Expectação, a que correspondia a mais antiga festa de Nossa Senhora celebrada na Península Ibérica, desde o séc. VII até à reforma do calendário litúrgico de 1960.
O “Ó” do título vem das antífonas de Vésperas e da aclamação do Evangelho das missas de 17 a 24 de Dezembro, todas elas ainda hoje começadas por este apelo à vinda do Salvador.
A Virgem grávida, esperando o natal de Jesus, é o melhor modelo de vivência do Advento.

(As entradas deste texto inspiram-se em grande parte na Enciclopédia Católica de D. Manuel Franco Falcão.)


(Chama 649, 2 de Dezembro de 2007)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

CONVITE

Conferência: O sonho do Pai é o amor!
Conferencista: D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

Segunda-feira, 3 de Dezembro 21:00h
Salão de São João da Cruz Igreja do Carmo de Aveiro
7 NOITES, 7 TEMAS é uma organização do grupo de oração jovem, Adoramus Te

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Pregão do Advento


Anuncio-vos que o Advento está a começar.
Erguei o olhar, limpai os olhos, perscrutai o horizonte.
Apurai a vossa sensibilidade. Apurai o ouvido.
Captai os gritos e os sussurros, o vento e a vida...

Começamos o Advento: uma vez mais renasce a esperança no horizonte.
Ao longe, começa a clarear o Natal.
Um Natal sossegado e íntimo, pacífico e fraterno,
solidário e encarnado,
e também superficial, desvinculado, violento...;
mas sempre, sempre desposado com a esperança.

É Advento, essa menina esperança,
que, sem saber como, todos levamos nas entranhas;
uma chama tremeluzenta, impossível de apagar,
que atravessa a espessura das eras e dos tempos;
um caminho de solidariedade bem percorrido;
a alegria contida em cada trajecto;
umas pegadas que não enganam;
uma gravidez cheia de vida;
um contido anúncio de Boa Nova;
uma ternura que transborda...

Estai alerta. Escutai.
Isaías grita cheio de esperança:
— Caminhemos à luz do Senhor.
Com esperança, João Baptista apregoa:
— Convertei-vos, porque está a chegar o reino de Deus.

Com toda a esperança dos pobres de Israel,
Com toda a esperança, Maria sussurra uma palavra de aceitação:
— Faça-se em mim, segundo a tua palavra!

Rejubilai! Saltai de alegria!
Vesti-vos com as melhores roupas, com roupas de festa.
Perfumai-vos com perfumes caros.
Que se veja bem que estais alegres!
Que se veja bem que Deus vem!
Avivai a alegria, a paz e a esperança.
Preparai o caminho: já chega o nosso Salvador.

Deus vem. Deus está a chegar. Já está à porta.
Acordai para a vida!


:: :: :: -- :: -- :: :: ::


VIGÍLIA DE ADVENTO
NA IGREJA DO CARMO AVEIRO
SEXTA-FEIRA 30 DE NOVEMBRO 21:00H

sábado, 24 de novembro de 2007

Vigília de Advento

As ruas estão iluminadas. As montras engalanadas. Já nos prepararam o Natal. Mas que Natal? Não chegues lá de qualquer maneira. Abre as portas do Advento. Como Maria prepara o coração para o Senhor que vem. Vinde, Senhor Jesus!
É na Sexta-feira, 30 de Novembro, pelas 21:00h.
(Chama 648, 25 de Novembro de 2007)

[INRI] Jesus nazareno, Rei dos Judeus


Celebramos neste último domingo do Tempo Comum a Solenidade de Cristo Rei do universo e com ela terminamos o Ano Litúrgico.
«Rei de Israel», «Rei dos judeus», «reino do Filho» são expressões com que a liturgia deste domingo nos recorda a gozosa realidade de Jesus Cristo, nosso Senhor e Rei do universo.
O cartaz que estava na cruz onde Jesus morreu para nos salvar, anunciava: «Jesus nazareno, rei dos judeus». Historicamente o título de rei dos judeus surge com David, de quem Jesus descendia segundo a carne.
O apóstolo Paulo recorda-nos que pela obra salvadora de Cristo somos cidadãos do Reino do Filho: «O Pai transferiu-nos para o reino do seu muito amado Filho, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados


DAVID, REI DE ISRAEL

Os israelitas conquistaram a Terra Prometida em finais do séc. XIII aC, sob o comando de Josué. A conquista foi progressiva e muito demorada. Quando foi considerada concluída procedeu-se à distribuição das terras pelas tribos de Israel. Seguiu-se algum tempo de paz e autonomia. As uniões entre as tribos eram esporádicas e com um intuito: defender-se de agressões externas. Apesar de tudo, durante este período foi aparecendo uma diferenciação: por um lado, as tribos do Norte; por outro, as do Sul.
Quando Samuel ungiu David como rei, fê-lo só sobre as do Sul: Judá, Benjamin e Efraim. E sobre elas governou sete anos.
Mas David era duma personalidade extraordinário, tinha voz de comando e génio militar que o levaram à conquista da fortaleza de Jerusalém, considerada inexpugnável. Os êxitos induziram as tribos do Norte a proclamá-lo rei, e assim foi.
Foi um passo decisivo para Israel: Com David, pela primeira vez, alcançava-se a unificação das Doze Tribos. Havia agora um só rei, um só comando político-militar.
Jerusalém era capital.
O reinado de Cristo é continuação do de Israel; está igualmente composto por doze tribos, sob um único rei com capital em Jerusalém, a capital dum reino messiânico, inaugurado na Cruz.

JESUS, REI DOS JUDEUS

Jesus morre na cruz porque era rei. Rei dos judeus. Esse motivo foi denunciado aos habitantes de Jerusalém e aos peregrinos da Páscoa do ano 30, por um cartaz em hebraico, latim e grego.
Mas que judeu aceitaria um crucificado como rei? Tal ignomínia era inaceitável, por isso as autoridades judias pediram a Pilatos que mudasse o texto. Pilatos, respondeu: «O que escrevi, está escrito». E muitos se riram...
Dentre todos, somente um dos ladrões percebeu que o reino desse Crucificado tinha um estilo outro, diferente dos da terra. Por isso, lhe disse: «Jesus, lembra-te de mim quanto estiveres no teu Reino». Na verdade o título de rei é verdadeiro, mas remete-nos para um Reino diferente: um Reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz.
Jesus foi crucificado pelos poderes do mundo. É assim o seu jeito de anunciar o seu Reino de Amor!

O REINO DO FILHO

Pelo sacramento do Baptismo o Pai chamou-nos à fé e por ela inseriu-nos no Reino do seu Filho. O filho é Jesus de Nazaré, o Crucificado, que agora vive ressuscitado e glorioso, como vencedor! O seu Reino já não é duma só raça ou dum só povo, nem só do íntimo dos corações. É um Reino de todos o cosmos e de toda a criação, porque «por Ele foram criadas todas as coisas; tudo foi criado por Ele e para Ele».

Para o Filho o título de rei é a sua verdade. Ele é Rei! Ele é o Rei! Nada está fora do seu reinado e poderio, nem o tempo nem o fora de tempo. Ele é o Rei do Universo. Ele é o rei da história, é Ele quem orienta os acontecimentos humanos para o seu fim. É o Rei de cada homem e cada mulher; reina sobre eles pela fé e pela esperança, pela caridade e pela justiça, pela paz e pela solidariedade.


(Chama 648, 25 de Novembro de 2007)

Publicidade

Senhor Frei Rui:
Sou um pobre pecador e um homem um pouco tímido, fruto dos desgostos da vida. Mas sou feliz.
Gosto de todos os actos praticados na nossa Igreja do Carmo. Gosto por isso do livro Filhos do Carmo que está a ser vendido pelos irmãos. O livro é uma experiência religiosa muito rica. Posso dizê-lo, porque já o li.
Eu não sou letrado, pois só tenho a Terceira Classe que fiz há sessenta anos. Por isso, quando comecei a ler o livro julguei que ia ter leitura para um ano. Mas não, a leitura era tão enriquecedora que o li num instante. Li-o muito rapidamente.
Fiquei feliz e muito contente pelos testemunhos que nele li. Quero dar os meus parabéns ao sr. Frei Rui, ao sr. Frei Silvino e ao sr. Frei João pelo bem que nos fazem e pedindo que os santos da Igreja do Carmo me protejam.
Ofereço esta pequena oferta para as obras da Igreja que vejo ainda não estão pagas. Obrigado pela atenção prestada.
(Carta assinada)

Caro amigo:
Também li a sua carta e fiquei muito sensibilizado. Muito obrigado pela sua leitura, pelas suas palavras e pela sua oferta. Deus lhe pague. Aceite a oração da nossa Comunidade por si. A bênção,
Frei João.
(Chama 648, 25 de Novembro de 2007)

sábado, 17 de novembro de 2007

Como é bela a vida de São Rafael!


Na Chama Viva do Carmo nº 636, de 24 de Junho passado, motivados pela ocorrência da celebração do I centenário da sua morte, publicávamos uma pequena biografia de S. Rafael Kalinowski. É um santo marcante na vida da nossa ordem, da igreja polaca e também da universal. Ao encerrarmos o seu centenário registamos aqui alguns testemunhos eloquentes sobre a sua vida santa. Só podem ser lidos com profunda reverência e agradecimento. Agradecemos ao Senhor ser ele nosso modelo eficaz no caminho da santidade; reverenciámo-lo porque hoje melhor que nunca podemos rezar como os seus companheiros de prisão: pela oração de s. Rafael Kalinowski, salvai-nos senhor!

::

«JOSÉ ESTAVA CHEIO
de actos de misericórdia; sem se queixar suportava todas as dificuldades. A sua bondade, a sua devoção e a sua vida ascética comoveram tanto os seus companheiros de desterro que na Ladainha dos Desterrados inseriram esta litania: ‘Pela oração de Kalinowski, salvai-nos Senhor!’.»
(Testemunho de Michal Janik, escritor)

::

«TINHA TODAS AS QUALIDADES
dum anjo e nenhum dos defeitos dos humanos. A sua tolerância angelical, o seu amor pelo género humano, o seu respeito pelas opiniões diferentes, etc., faziam dele uma pessoa duma qualidade humana tal, que não existe hoje alguém parecido entre a geração actual.
Se alguém pode ser considerado como santo, na primeira fila da santa memória está o padre Rafael.»
(Duma carta ao irmão mais novo de S. Rafael, escrita pelo Prof. Benedykt Dybowski,
católico que havia abandonado a fé, com quem o nosso Santo trabalhou numa investigação científica no Lago Baika, na Sibéria
.)

::

«COMO É BELA A VIDA DESTE HOMEM!
Vive entregue à oração e ao bem-fazer; ocupa-se nas boas obras. Na cidade de Usole chamam-lhe O Santo e até o maior dos ateus teve de admirar com extraordinária modéstia a sua verdadeira superioridade. Se houvesse uma criança abandonada, ele educava-a; se houvesse um doente para atender, aí se encontrava ele; se era necessário fazer algum trabalho incómodo, era o primeiro a fazê-lo; e estava sempre presente na igreja e no confessionário; que Deus o salve por todas as suas virtudes.»
(Da carta duma deportada,
escrita desde a cidade de Irkurk
.)

::

«ERA PARA AS ALMAS RELIGIOSAS
um pai, um irmão, o amigo mais sacrificado e o mais fiel imitador do nosso Divino Salvador... Quanto mais dificuldades uma pessoa lhe causava, mais ele mostrava a sua misericórdia e a sua entrega. Não suportava a mais pequenas das imperfeições numa pessoa consagrada.
(Testemunho duma Carmelita Descalça.)

::
«JOSÉ KALINOWSKI,
actualmente Padre Rafael, era um homem de grande carinho e de extraordinária amabilidade, um verdadeiro anjo de bondade. Quando os russos falavam dele, diziam: «o Santo polaco». Foi a sua fama de santidade que o salvou da forca. Quando Murawiew, o cruel governador russo de Vilna o quis enforcar, um dos seus generais explicou-lhe que Kalinowski era estimado como santo, não apenas entre os polacos mas também entre os russos. E sentenciá-lo era torná-lo mártir dos polacos. No Natal de 1865 estávamos na prisão siberiana de Usole. Éramos mais de trezentas pessoas reunidas numa só barraca, à volta das mesas para a ceia. Depois dos sacerdotes rezarem as orações em latim, fez-se um enorme silêncio cheio de comoção. Depois, segundo a tradição polaca, todos começaram a partilhar pedaços de pão obreia, desejando-se os melhores votos. Ali todos berravam por alguém a quem desejar felicidades e oferecer um pedacinho de pão com as palavras rituais. A maioria de nós rodeava Kalinowski, a quem todos amavam e admiravam. Todos queriam oferecer-lhe do seu pão unindo-se assim a ele, pensando que lhes traria felicidade. Ele andava daqui para ali: a todos sorria e dava um beijo.
As esposas dos desterrados também o chamaram. Depois foram os sacerdotes a quem ele beijava as mãos que eles escondiam, e por fim todos se abraçavam.
Esta cena não terminaria nunca, mas o cozinheiro-chefe com a sua voz potente pediu que todos se sentassem. Não o fizeram logo, pois outros se levantaram para o abraçar. Vi então muitos secarem as lágrimas depois de o terem abraçado, enquanto outros se contentaram em olhá-lo de longe como se tentassem ver nele a pátria longínqua e os seus entes queridos.
(Duma carta do P. Wenceslau Nowakowski, Capuchinho, colega de São Rafael nos trabalhos forçados no desterro da Sibéria.)

(Chama 647, 18 de Novembro de 2007)

Para memória futura

Solene entronização das imagens dos
BB. Redento da cruz e Dionísio da Natividade

Na Eucaristia da Festa de Todos os Santos do Carmo,
em festa, com orações, incenso e palmas
entronizamos na nossa igreja,
as imagens dos proto-mártires da nossa Ordem:
o B. Redento da Cruz, ex‑capitão do exército português,
e o B. Dionísio da Natividade, ex-cientista francês,
martirizados em 1638 e beatificados em 1900.
As imagens encontram-se na parede nascente
do corpo do templo,
recentemente melhorado e beneficiado.
Assim se enriquece o nosso património,
se estimula a devoção dos fiéis
e se vinca a nossa matriz carmelitana implantada em Aveiro.
Do outro lado ficaram vazias duas peanhas.
A seu tempo receberão os respectivos inquilinos.

(Chama 647, 18 de Novembro de 2007)

Oração de São Rafael Kalinowski a Nossa Senhora

Virgem Santíssima, Mãe Imaculada,
olhai misericordiosamente as angústias
da minha alma a vós consagrada para sempre.
Sede para mim um escudo defensor
dos ataques do Inimigo;
aplacai as tempestades do meu espírito;
imprimi em meu coração
a Paixão do vosso divino Filho;
infundi em mim a contrição por amor;
mostrai-me o caminho da sincera penitência
das minhas constantes infidelidades;
fazei que eu morra desejando a Deus;
conservai-me o último dos últimos
no reino dos Santos e dos Justos;
não tardeis a libertar-me
das contínuas preocupações pela salvação;
e pela vossa misericórdia acolhei-me a mim,
tão miserável, no repouso eterno de Deus.

Vosso filho pródigo,
Rafael de São José

(Chama 647, 18 de Novembro de 2007)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Breve biografia de São Rafael de S. José

No I centenário da sua morte
(1835-1907-2007)
Nobre de ascendência, foi jovem audaz e estudante brilhante. Engenheiro empreendedor, militar e defensor da Pátria. Perdeu nas armas, ganhou na vida. Deportado e exilado encontrou-se consigo mesmo nas solidões gélidas da Sibéria. Ensinou reis e venceu-se finalmente a si mesmo. Consagrou-se como Carmelita e sacerdote para erguer do chão o Carmo polaco. É santo. Morreu há cem anos.

José Kalinowski nasceu em Vilna, Lituânia, numa família profundamente católica. É o segundo filho de Josefina e André. Sua mãe morre poucas semanas depois do nascimento. André casa-se com a irmã da defunta e desta nascem-lhe três filhos. Nove anos depois também esta lhe morre pelo que casará terceira vez, com Sofia Puttkamer de quem nascerão quatro filhos. Se todas foram mães de José, a terceira, Sofia, pouco mais velha que ele, será providencial quando lhe sobrevier a crise de fé por causa da nefasta influência da vida académica.
Por aquelas alturas, Polónia e Lituânia estavam unidas federalmente, e ambas subjugadas pela Rússia desde 1772. Os kzares haviam fechado as escolas nacionais e obrigado os jovens a estudar na capital da Rússia. É aí, em S. Petersburgo, na Escola de Engenharia Militar, que vemos José profundamente empenhado. Conclui os estudos em 1857 e fica com a patente de Tenente-engenheiro. De imediato exerce a sua profissão na construção do caminho de ferro em Kursk, uma região solitária no coração da Rússia. O que mais marcou o jovem engenheiro nessa altura? — A solidão e a leitura das Confissões e dum pequeno livrinho de piedade mariana. É a aurora da sua conversão: «Agora vivo a vida com mais calma. E os seus o prazeres perderam para mim o seu encanto», dirá.
Seguidamente vemo-lo em Brest, na Polónia, onde testemunha a perseguição russa aos católicos. Kalinowski só vê uma solução: abandonar as armas russas e consagrar-se à defesa da sua nação!
Em Janeiro de 1863 dirige a insurreição contra as forças militares russas. O combate contra a «russificação da Polónia» está perdido à partida, mas ainda assim ele luta. No dia 24 de Março de 1864 é feito prisioneiro e depois condenado à morte. A pena será comutada para dez anos de trabalhos forçados na Sibéria! Para aí é deportado com os seus compatriotas em finais de Junho. A deportação dura dez meses e supõe enormes sofrimentos. José sofre como todos, mas, sobretudo, reza e auxilia os companheiros mais fracos e desvalidos. Desse período horrível testemunhou numa carta: «O mundo pode privar-me de tudo, mas há uma coisa que não me pode tirar: a oração! Pela oração eu junto passado, presente e futuro e uno-os na esperança!»
O longo período de exílio será providencial. É nele que se sente chamado ao sacerdócio. Dez anos depois, terminada a pena, é libertado sob condição: pode estabelecer-se na Polónia, mas não na Lituânia, sua terra natal. É para ali que vai.
Ao chegar à Polónia, o reconhecimento das suas qualidades e da sua fé leva-o a ser requisitado para preceptor do príncipe Augusto Czartoyski, de 16 anos. Pelo seu trabalho com o Príncipe entra em contacto com a sua tia, religiosa Carmelita Descalça, Madre Maria Xavier de Jesus, que desde há longos anos rezava e anima a rezar por um enviado do Céu, que erguesse o Carmo na Polónia. As preces haviam sido ouvidas: a Princesa reconheceu o enviado em José Kalinowski, que permanecerá dez anos em Paris cuidando da educação do Príncipe.
No Outono de 1876 declara por carta à sua família o desejo de se fazer Carmelita Descalço. No Verão seguinte pede licença ao jovem Príncipe para ingressar no Noviciado carmelita de Grantz, na Austria. Entrou no dia 15 de Julho! Tinha 42 anos.
Recebe o nome de Frei Rafael de S. José e emite os primeiros votos, a 26 de Novembro de 1878. De Grantz é enviado para o convento de Raab, na Hungria, para estudar Filosofia e Teologia. Três anos depois pronuncia os Votos Solenes e é enviado para o convento de Czerna, na Polónia. Foi ordenado sacerdote em 1883, aos 46 anos de idade. Um ano depois é nomeado Prior de Czerna. É daqui que brotará o florescimento do Carmo polaco!
O ministério de Frei Rafael de São José será profundamente fecundo. A ele se deve a fundação de 10 carmelos (um na Ucrânia), o convento do Carmo de Wadowice e um Seminário Menor, início da formação carmelitana dos rapazes.
A ele se deve também a reorganização dos leigos carmelitas, especialmente a Ordem Terceira e a Confraria do Carmo. Deve-se-lhe ainda a recuperação dos arquivos conventuais dos conventos que suprimidos pelo Estado e que se encontravam dispersos e a perder-se.
Frei Rafael de São José merece bem o título de «Restaurador do Carmo polaco». Merece-o pelas suas fundações, restaurações e edições de livros, mas sobretudo pela sua vida de união a Deus, animada pela oração e pelo recolhimento, pelo silêncio e austeridade de vida. Dele são as seguintes palavras: «No Carmo, a nossa principal ocupação é falar com Deus, em todos os nossos trabalhos».
Morreu aos 72 anos de idade, no Carmo de Wadowice, no dia 15 de Novembro de 1907, dia em que ainda hoje se comemoram os Defuntos da nossa Ordem. Foi beatificado em Cracóvia, no dia 22 de Junho de 1983, pelo Papa João Paulo II que sempre declarou grande ternura pelo nosso irmão: «É o Santo da minha cidade», dizia!
Foi canonizado em Roma no dia 17 de Novembro de 1992, no pontificado de João Paulo II.

(Chama 636, 24 de Junho de 2007)

sábado, 10 de novembro de 2007

— MUITOS, MAS NEM TODOS!

Terríveis foram em Espanha os anos de 1934 e os de 36 a 39 do século passado. O ódio aos Católicos (Os Protestantes foram poupados!) foi tão extenso e tão intenso que certo Ministro do Governo escreveu no seu relatório: «A Igreja acabou hoje».
E de facto parecia.
Queimaram-se milhares de igrejas, inutilizaram-se outras tantas. Mataram-se quase 4000 sacerdotes, cerca de 2500 religiosos, 300 religiosas e 11 bispos. Entre os leigos contabilizam-se dezenas de milhares de mortos. Trazer uma medalha religiosa era passaporte suficiente para a morte.
Houve dioceses que num só ano perderam 90% do clero. Vários sacerdotes morreram como Cristo: flagelados, coroados de espinhos, insultados e crucificados. Os perseguidores tinham bem aprendida a catequese! E eles também, pois que morreram a perdoar!
Certa mãe dum jesuita foi afogada porque cometera o crime de ser mãe... dum jesuita! Mas primeiro tragou o crucifixo que trazia.
A certa altura, na frente de combate faltou a gasolina: havia sido requisitada para a queima de católicos, obras de arte antigas e as bibliotecas da Igreja!
Ainda hoje se sofre! Ainda hoje não sararam as feridas. Ainda hoje não secou o sangue mártir no solo espanhol, nem dos ares se esfumou o cheiro do ódio à religião.
Deve-se em grande parte ao sereno arrojo do Papa João Paulo II a prevalência da memória dos mártires católicos espanhóis do séc. XX.
A 22 de Março de 1986 aprovou o Decreto de beatificação de três Carmelitas mártires de Guadalajara. No passado domingo, 28 de Outubro, em Roma, foram beatificados mais 498 mártires. 32 era Carmelitas Descalços. Eram muitos, mas não foram todos!

::

Conta S. Teresa no Livro da Vida (40,13) que um santo (Talvez S. Alberto da Sicília) lhe disse que na sua Ordem «haveria muitos mártires». Bem o adivinharam ambos...
O primeiro mártir Carmelita Descalço é português de Paredes de Coura a chama-se B. Redento da Cruz. Junto a ele vem o B. Dionísio da Natividade. Foram martirizados pela firmeza da sua fé, nos arredores da cidade de Achem, Ilha da Sumatra, na Índia, no dia 29 de Novembro de 1638.
Seguiram-se-lhes outros muitos na França, Holanda, Alemanha, Polónia e Espanha. No dia 28 de Outubro passado foram declarados Beatos mais trinta e dois: 1 de Oviedo, 14 de Barcelona mais um seminarista, 16 de Toledo. E ainda 4 Irmãs Carmelitas Missionárias e 1 Carmelita da Caridade.
Em datas anteriores tinham já sido beatificadas outras nossas irmãs: três Carmelitas Descalças de Guadalajara e a Madre Maria Sacrário de São Luis Gonzaga.

::

Em comunhão com toda a Ordem do Carmo rejubilámos com a beatificação de mais 32 irmãos nossos, no passado domingo 28 de Outubro, em cerimónia presidida pelo cardeal José Saraiva Martins. Os nossos estavam entre os 498 novos beatos, a maior beatificação realizada pela Igreja numa só cerimónia.
Vozes vários se ergueram contra; e outras a favor. A Igreja espanhola do século XX foi perseguida e por isso se viu coroada com muitos mártires. Até à data foram já elevados aos altares 966, 11 deles reconhecidos como santos.
São muitos, mas ainda não são todos!
A Igreja espanhola recordou que só há mártires quando há perseguição. Assim foi. Na homilia da celebração o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos declarou: «Os mártires nunca são património exclusivo duma diocese ou duma nação: pertencem ao mundo inteiro e à Igreja universal». E assim é, de facto. Entre os agora beatificados estavam também dois franceses, dois mexicanos e um cubano.
Porque cremos que as contas não nos falham, ficou a faltar um Carmelita português, natural de Semide. A sua vocação era de Carmelita. Depois de ordenado trabalhou no Seminário e Sé de Coimbra, no Seminário e Sé de Évora. O seu amor à Ordem fez dele um coluna (ignorada) do edifício da restauração do Carmo em Portugal. Regressou a tempo ao seu convento de Toledo donde foi expulso, perseguido e levado para o martírio. Não aparece jamais nomeada a sua pertença, conventualidade e martírio. Nós sabemo-lo e acreditamo-lo. Por isso dizemos: Muitos, mas não todos!

::

«Perdoem e abençoem e amem a todos, como eu vos amo, perdoo e abençoo.»
(Da Carta de despedida do B. Tirso de Jesus Maria à sua família.)


(Chama 646, 11 de Novembro de 2007)

sábado, 3 de novembro de 2007

— Quem és tu, Zé Pedro?

Em tempos de aparente esmorecimento é consolador e reconfortante testemunhar certos gestos pequeninos e delicados que sabem tanto melhor e tanto mais alegram e animam quanto mais têm de inesperado. Ainda há calor e surpresa. O mais insólito mas não o último passou-se com o Zé Pedro, que eu jamais vira. O encontro com ele (e a avó) foi tão inesperadamente delicado e tocante que hoje resolvi contá-lo, na Chama deste Domingo. Também é certo que uma vez mais nos aprestamos a pedir a sua esmola para as obras do adro e da fachada da Igreja. Mas a coisa, aquele encontro, foi assim tão... tão... (Tão divina?) que eu apeteceu-me perguntar: — Quem és tu, Zé Pedro?
E ainda não sei responder se naquele dia falei com um Anjo ou só com um menino.

Conheci o Zé Pedro num dia em que a avó o trouxe. São vizinhos do Carmo. Ambos poderiam figurar no livro Filhos do Carmo. Mas não, não estão lá. Fica para a próxima, se Deus quiser.
Um dia a avó trouxe-me o mealheiro do neto. Contou-me que lhe contava coisas desta casa, da Igreja, da casa de Jesus, de Nossa Senhora, do convento novo, de como isto foi ficando bonito, que nem sempre assim fora. O neto, claro, não sabe. Sabe só o que vê, e ainda assim vê pouco. Ele é tão pouquenino. Mas nestas coisas não importa o que se vê, mas o como se ama!
Quando abri o mealheiro — na minha terra dizem migalheiro — tirei dele quase 50,00€, contando algumas moedas de escudo.
(Era antigo, portanto).
Um dia a avó trouxe o neto. Oh, como lhe agradeci! Como me encantei! O miúdo parecia que sabia ao que vinha. Espevitado, não se intimidou, nem por ter de falar com os grandes, nem por estar num convento. Enfim, falamos tu a tu, como se fôssemos parceiros de há longos anos.
Tratou-me por tu. Conversámos. (Eu tive de fazer quase — não muito — de miúdo.) E depois despediu-se. Deveria haver alguma senha entre eles, pois foi simultâneo o desejo de partir. Mas não, não saiu sem me apertar a mão e me agradecer três vezes por me ter conhecido.
(Ora, Zé Pedro, bute lá! Eu não sou grande peça!)
Foram-se. Hoje garanto-me, para me convencer: se fosse de chorar, teria chorado naquela hora. O miúdo comoveu-me. Não me conhece de lado algum e foi genuíno no trato, nos gestos, no estar, no falar, e, claro, nas distracções.
— Prazer em conhecê-lo, sabe? despedia-se. E eu ainda oiço essa música nos meus ouvidos.
Obrigado, Zé Pedro! Obrigado, avó! São coisas assim de simples que ajudam a refrescar o meu barro resseco! Sim, obrigado Zé Pedro, isto é por ti. É mesmo por ti! Tudo isto é por ti. Por ti e por todos os que tu naqueles minutos representas-te diante de mim. Esses olhitos que me remiraram perante o sorriso da tua avó, quando, como homens nos apertámos as mãos, fazem-me lembrar outros meninos. Muito outros meninos e meninas.
Sim. Isto é por ti, Zé Pedro. Por ti e por eles. Pela Ana, pela Francisca, o Marcus, o Miguel, o Tiago...
Sabes, saberás, tu, Zé Pedro, que tudo isto só tem sentido porque é um legado que me foi entregue e eu recebi — eu e muitos outros comigo e antes de mim! — pelo que será um prazer entregar-te um dia a Igreja do Carmo. Sim, é verdade: um dia o Carmo será para ti e para a Ana que se debruça sobre o Altar quando celebro a Eucaristia, e para o Tomás que quer mas não é capaz de vir apertar-me a mão no Momento da Paz, e para o Alberto que não consegue ficar toda a Missa acordado, e para a Joana que já canta no Voces Carmeli tão bem quanto a mãe, e para o David que ao colo do pai é tão simpático quanto tu, e para a Alice a quem impus o Escapulário enquanto dormia ao colo do pai, e para a Elisabete que fez aqui a Primeira Comunhão antes de ir para Inglaterra e que prometeu e cumpriu vir dar-me um beijinho sempre que viesse a Aveiro, e para a Nininha que há muito tempo não a vejo por aqui com a sua saíta de fada. E para... E para...
É para ti, Zé Pedro. Tudo isto não faria sentido se tudo isto não fosse já herança tua, tua e de todos eles. Esses e outros que, entretanto, hão-de vir.
Sim, como vês, enquanto não chegar a tua vez, cuidaremos bem da igreja e do convento que muito amamos. Já viste como os velhinhos — a Dona Olga e outros — sobem mais desafogadamente as rampas? Sabes que há mais velhinhos a vir à igreja, porque já não se cansam tanto? Nem tropeçam tanto? Sabias isso? Pois, é verdade.
Cresce, Zé Pedro! Cresce, depressa, Zé Pedro. Que isto dá muito trabalho e eu estou ansioso por entregar-te a nossa Igreja do Carmo. Entretanto, como te disse, cuidaremos dela e defendê-la-emos como a menina dos olhos. Queremo-la para ti!
Aparece por aí, mesmo sem migalheiro. Porque para mim foi uma imensa alegria conhecer-te. Desta será a minha vez. Quero dizer-te três vezes que foi uma imensa alegria conhecer‑te. (Eu que não sei nada de ti, a não ser que gostas de aqui vir voando no sorriso da tua avó.)
(Chama 645, 04 de Novembro de 2007)

sábado, 27 de outubro de 2007

Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno!

Nós não podemos esquecer os mortos porque são eles quem verdadeiramente vive. Nós, fazemos memória dos mortos porque com eles estabelecemos uma comunhão única só possível pelo mistério da Graça e só vivenciável no amor que Deus nos tem, porque Ele é Deus dos vivos e dos mortos.
A celebração da Missa pelos defunto não é moda de agora. (Infeliz) Moda de agora é ignorar o valor da missa pelos defuntos. Tal desconhecimento deve-se à vontade de ignorar o acontecimento sempre trágico e traumático que é a morte. Perante ela nasce mais depressa a revolta (— Porque é que Deus não fez nada?) e a incompreensão (— Se alguém devia morrer não era ele!), que a serenidade e a esperança no Senhor.
É fé da Igreja que a Missa se oferece pelo perdão dos pecados (e outras necessidades) dos fiéis vivos, mas também pelos defuntos.
Em 156, um ano depois da morte de São Policarpo, os cristãos de Esmirna celebraram uma missa em sua memória. Em 210, o teólogo Tertuliano ensina este piedoso dever para com todos os defuntos. No séc. IV dá-se o aparecimento da Missa de Séptimo e Trigésimo dias, além da do dia. No séc. VI os sacerdotes começaram a rezar missas de defuntos durante uma série de dias, mesmo sem a participação de fiéis. No séc. X o Abade Odilão de Cluny, começou a celebrar a «Comemoração dos Fiéis Defuntos» no dia seguinte à Solenidade de Todos os Santos, como ainda hoje se faz.
Os séculos seguintes testemunharam o incremento e multiplicação destas missas.
A memória dos defuntos é hoje um dos centros psicológicos da Missa, e é consensual e até necessário mencionar publicamente os seus nomes. Na verdade, a morte possibilita que nos abramos completamente Àquele que nos fez viver na terra; e tanto assim é que quer os vivos quer os mortos comungam o mesmo mistério da Graça: a incorporação em Cristo, no Corpo Místico de Cristo! É por isso que, vivos e mortos, verdadeiramente nos encontramos na Eucaristia.
Exceptuando a memória terna que deles fazemos na oração da Igreja, é bem sabido que a nossa época se esforça por esquecer publicamente a agonia e a morte. É assunto por demais desagradável e inibidor para os de hoje. Será porque nos recorda os nossos limites? Será porque um dia nos tocará? Será porque lhes disseram que seriam quase deuses intocáveis e, afinal, pereceremos como os outros? Será que a morte para além da separação parece uma derrota? Será porque na morte não vimos um sinal da presença do amor de Deus? Será por isto, será por aquilo ou por tudo?
É porém verdade que aquilo que nos afasta da comunhão espiritual dos mortos nos afasta também da poderosa força da mensagem cristã da ressurreição. Quem perde uma perde a outra também.
A fé cristã exprime-se na comunhão do crente com Deus, na comunhão dos crentes entre si e também na comunhão dos vivos com os mortos. Entre os fiéis vivos e os fiéis defuntos existe uma solidariedade de que ambos beneficiam.
A comunhão com Deus — como Deus dos vivos! — é tanto mais expressiva quanto mais os mortos significam para nós, através da comunhão dos santos que professamos quando rezamos o Credo.
Por sua vez, quando rezamos:

Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno
entre os esplendores da luz perpétua;
que descansem em paz. Amen,


estamos a rezar aquela mesma palavra de amor, que os nossos irmãos mortos pronunciam sobre nós desde a plenitude de Deus, e que é:



Depois das lutas da vida
dai, Senhor, a estes irmãos
[isto é, a nós que ainda vivemos na Terra]
a quem, como nunca, amamos no Vosso amor,
o descanso eterno e que a Vossa luz
igualmente brilhe sobre eles.

Essa é a comunhão plena dos santos, aquela que ansiamos, que professamos e que já vivemos, embora desde a perspectiva da fé, não do amor pleno e definitivo.
A Eucaristia é memorial da Paixão e Morte de Jesus. Essa é a razão pela qual ela é o lugar onde melhor podemos recordar os mortos. Ali recordamos a morte do Rei da vida e professamos a sua ressurreição, por isso a recordação da morte dos nossos defuntos é também a da sua ressurreição!
Não é humano não fazer memória dos mortos.
Celebremos, pois, a Eucaristia com a certeza de que nela se reactualiza a Nova Aliança. De que por ela nos aproximamos confiadamente de Deus. De que nela fundamentamos a nossa existência, lhe conferimos densidade e renovamos a comunhão com Deus e os irmãos, isto é, retomamos o projecto inicial de amor no qual Deus nos criou.
(Chama 644, 28 de Outubro de 2007)

sábado, 20 de outubro de 2007

Testemunhos na primeira pessoa (IV)

Ir para missão fez-me sair da acomodação a que estava habituado. Partilhei novas experiências pessoais com outro povo e procurei cumprir a tarefa que Deus me
atribuiu: mostrar um caminho diferente de viver a fé que recebi no baptismo.
O coração falou mais alto e fui ajudar os outros, dar e repartir o que tinha de melhor. Agora percebo os testemunhos dos que já viveram uma experiência de missão e que dizem que quando fazemos um balanço do que se fez, nos apercebemos de que se recebeu muito mais do que se deu. Sente-se algo que é inexplicável por palavras…
Nuno Óscar Vilela Fereira
Leigo Missionário Carmelita em Pemba, Moçambique
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

Testemunhos na primeira pessoa (III)

Estive na missão católica de Safim, na Guiné. Diziam-nos que fica a 15 km de Bissau, mas quando íamos à capital pareciam mais. As Irmãs de São José de Cluny que nos acolherem são de origem angolana.
Fiquei impressionada por ver mamãs e bébés desnutridos... Ali muitas pessoas fazem apenas uma refeição por dia.
Quando estive doente todos se mostraram preocupados comigo. Quando passávamos pela rua, os meninos pediam-nos amêndoa (doces, rebuçados).
Mas no meio do caos da pobreza e da miséria também havia generosidade: quando comiam chamavam-nos para comer também!
É muito importante ser capaz de estar, viver e de amar os outros, contribuindo um pouco para a alegria, para um mundo melhor.
Se toda a gente contribuísse...
Aprendi a dar mais valor à minha própria vida, a ter mais atenção com certas coisas que antes me passavam um pouco ao lado.
Gisela Ferreira
Voluntária missionária de Esgueira
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

Testemunhos na primeira pessoa (II)

Sou missionário numa Igreja fundada por S. Francisco Xavier, no séc. XVI. Foi perseguida e humilhada. Foi publicamente proscrita logo nos seus começos e banida até à entrada dos Padres das Missões de Paris, que passados mais de 2 séculos encontraram cristãos que rezavam às escondidas diante de imagens, que do lado de fora eram figura de Buda, mas do de dentro eram de Cristo ou Maria. Sem sacerdotes viveram este tempo todo, não se esquecendo da Doutrina cristã, do Credo, da Ave Maria ou do Pai Nosso.
Pe. Domingos Areais
missionário português em Osaka, Japão
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

Testemunhos na primeira pessoa (I)

Era dia de baptismos. Toda a comunidade estava reunida. Tinha chegado o momento. Eram cinco crianças. Uma delas, de 4 anos, prendeu-me a atenção: Estava sempre sorrir! Quando fiz o sinal da cruz na sua testa, ela sorriu, e eu correspondi. Quando a ungi com o óleo dos catecúmenos, fez aquele sorriso de quem está feliz e em paz. Quando chegou o momento de derramar a água na cabeça, chamei pelo seu nome, e perguntei-lhe: “Ketelen você quer ser baptizada?” Ela respondeu com uma convicção profunda: “Sim”. Toda a assembleia ficou sorrindo com a resposta pronta. Derramei a água em sua cabeça. E às minhas palavras: “Eu te baptizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, enquanto pais e padrinhos ficaram quase calados, ela respondeu com alegria e força: “AMEN!”. Todos ficamos admirados com a sua convicção. É algo que nós, baptizados, precisamos: alegria e força de fé.
Pe. Hugo Ventura
missionário português na Amazónia, Brasil
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

Todas as Igrejas para o Mundo inteiro!

O mês de Outubro entra nas comunidades cristãs como um imenso apelo para a missão. Nas Igrejas locais e nas Comunidades Religiosas, como a nossa, palpita esta ânsia, sente-se este apelo. Vamos ajudar os missionários, vamos rezar pelos missionários. Que eles bem precisam: Nos últimos 25 anos morreram quase vinte missionários portugueses em emboscadas na estrada, em ataques às missões, no meio de raptos e sequestros; foram crimes pensados para eliminar quem defendia a justiça e a verdade. Porque amavam morreram; perderam para salvar.
A Igreja de Jesus Cristo está em Aveiro, Paris, Angola, Roma, Tóquio ou Corinto. Não interessa o lugar não interessa o nome, interessa que Jesus está onde está um cristão, e todos, pela moção do Espírito Santo, estamos em comunhão com Cristo.
Caminhamos todos embarcados na barca de Pedro, que é a de Cristo. Entre as diferentes Igrejas não há distância, mas comunhão; não há separação, mas união e fraternidade. Em cada comunidade ou em cada porçãozinha do Povo de Deus, late o coração da Igreja Universal, de toda a Igreja. As dores e debilidades de uns são as de todos, as alegrias e as riquezas igualmente.
As Igrejas têm a sua cor e a sua tradição, as suas sensibilidades, condições, disposições, sonhos, esperanças e calor humano próprios. Porém as diferenças não deixam ninguém à deriva, ninguém separado, ninguém abandonado.
Somos todos responsáveis por todos.
A mensagem do Papa para este dia responsabiliza‑nos mutuamente: Todas as Igrejas para o mundo inteiro, escreveu o Papa. E disse mais: «Demos graças ao Senhor pelos frutos abundantes obtidos por esta cooperação missionária em África e noutras regiões da Terra. Multidões de sacerdotes, depois de terem deixado as comunidades de origem, dedicaram as suas energias apostólicas ao serviço de comunidades acabadas de surgir, em zonas de pobreza e em vias de desenvolvimento. Entre eles encontram-se não poucos mártires que, ao testemunho da palavra e à dedicação apostólica, uniram o sacrifício da vida».
O envio missionário de Cristo é para ser ouvido por todos: «Ide por todo o mundo!». Ninguém deve sentir-se de fora nesta tarefa de anunciar a alegria do Evangelho aos quatro cantos da Terra. Todos, bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos, jovens e famílias: «Cada comunidade cristã nasce missionária, e é com base na coragem de evangelizar que se mede o amor dos crentes para com o Senhor».
A todos cabe partilhar a preocupação pela difusão do Evangelho; cada um deve sentir-se protagonista da missão da Igreja. Deste Dia Missionário Mundial espera o Papa que se favoreça a cooperação entre as Igrejas e a preparação de novos missionários. Porém, conclui: «Não esqueçamos que o primeiro e prioritário contributo que somos chamados a oferecer à acção missionária da Igreja é a oração».
(Chama 643, 21 de Outubro de 2007)

sábado, 13 de outubro de 2007

Pelos labirintos do mundo

A marca do início é sempre algo feliz e esperançoso. Iniciar um novo Ano Pastoral deve despertar-nos para a novidade da Presença Divina, que vem aos nossos corações e à nossa comunidade de forma sempre nova e cheia de graça. Da minha leitura do próximo Ano Pastoral deixo-vos cinco marcas especiais:

Primeira marca: O labirinto
Terminaram as obras. Estamos cansados e de arcas vazias, mas não abatidos nem vencidos. A fachada da igreja ficou limpa e digna; o Adro parece maior, a sobriedade torna-o mais belo. Como tudo o resto.
À entrada do adro inscrevemos um desenho dum labirinto. Pode parecer estranho que ao virmos à igreja nos receba um símbolo tão inesperado. Ele apenas quer dizer que os passos que passam pelos caminhos do mundo, se encontram todos ali. Quanto custa às vezes, vir à igreja rezar em comunidade! Quantas vezes a nossa vida pessoal e familiar é um emaranhado de confusões e de estorvos!
O labirinto quer recordar-nos que tudo é mais fácil com Deus: basta confiar! Ele recorda‑nos que os caminhos duros da vida, se levados com Deus são auto-estradas largas e fáceis; e que os caminhos largos e sem Deus são abismos escuros, são precipícios terríveis onde nos espera a derrota e a morte.
O labirinto recorda-nos o que nos ensina Santa Teresa: Não chega fazer a viagem à igreja; falta depois fazer a viagem ao interior da nossa alma — tantas vezes mais confuso que a vida exterior! É necessário que tu caminhes até ao mais profundo centro da tua alma, aonde só se chega depois de vencidas seis moradas. Aí, na sétima, no centro mais profundo, unir-te-ás intimamente ao teu Senhor.
Vem, vinde ao Carmo. Pisai aquele labirinto. Recordai que à canseira física sucedem os trabalhos do espírito. Vinde e reconciliai-vos. Vinde e alimentai-vos do Pão da Vida para não desistirdes nem fraquejardes na peregrinação.

Segunda marca: A atenção aos pobres
O novo Ano Pastoral pede-nos que prestemos atenção aos pobres. O título oficial é O serviço aos pobres é o sinal visível da verdadeira Igreja de Jesus Cristo. A Igreja foi sempre mais verdadeira quanto mais olhou o rosto dos pobres e nele reconheceu o rosto de Jesus Cristo. Perguntei-me o que poderia fazer a nossa Comunidade do Carmo pelos pobres. Será preciso gastar muito dinheiro? Será preciso privar-nos dos nossos bens? E a resposta surgiu-me em dois pontos. Assim:
1. A partilha de bens é necessária e ajuda o pobre. Mas não é suficiente se, como pede o Papa, não «fizermos um exigente exame de consciência» à nossa vida e aos nossos haveres. O exame nos dirá que é possível valorizar a gratuidade; que podemos fazer muito bem sem recorrermos aos subsídios do Estado; que podemos valorizar o mais: é sempre possível fazer mais, fazer melhor, fazer com o coração, fazer com o sorriso, aquele sorriso que nasce da oração. É sempre possível valorizar o mais e viver com menos! Será que já o tentámos?
2. Existem uns pobres que estão impossibilitados de arrastar-se até às portas das igrejas, às esquinas das ruas ou aos mercados. São os pobres de relação, aqueles que ninguém visita, a que ninguém oferece o toque da mão.
São Policarpo dizia: «Quando puderdes fazer o bem não adieis». E eu dir-vos-ei: Quando puderdes visitar alguém que seja tão pobre que não consiga atravessar-se à frente do vosso olhar, visitai! Visitai, porque essa caridade é da melhor.
No breviário do papa João Paulo I — o Papa do sorriso! — foi encontrada uma oração doce como uma súplica de criança, escrita pelo seu punho. Reza assim a sua oração: «Peço-te uma graça: gostava que Tu estivesses a meu lado na hora em que eu fechar os olhos para a vida terrena. Gostava que apertasses a minha mão na tua, como faz a mãe com o seu filho pequeno, no momento do perigo. Obrigado, Senhor.»

A terceira marca: A celebração de Centenários
Por graça de Deus, neste novo Ano Pastoral é-nos renovada a alegria da celebração de novos centenários. Durante o Ano anterior celebramos uns, agora serão outros. Assim é porque somos uma família com muita história e de boa memória.
Uma comunidade é sempre alicerce dos que hão-de vir. Os que nos precederam, vivendo e amando o Carmo antes de nós, legaram-no-lo e são os nossos fundamentos. Nós caminhamos sobre a santidade dos nossos irmãos. É por isso que não me resigno a ter de celebrar mais centenários. Não me resigno; alegro-me e agradeço a Deus essa graça.
A 19 de Novembro completam-se os cem anos da morte de S. Rafael Kalinowski, restaurador do Carmo polaco (Vede a sua imagem à entrada; vede como é bonita aquela sua atitude de bênção sobre o mundo...); celebraremos o VIII centenário da nossa Regra, e o I do nascimento da Irmã Lúcia.
Hoje celebramo-los a eles, e nós?, e nós que somos fundamento do futuro, quando nos celebrarão a nós? Ou melhor dito: quem de nós estará disposto a sofrer e a amar tanto o Carmo, que venha a merecer ser recordado como uma pedra ou uma coluna que o construiu, o engrandeceu e o sustentou? Quem?

Quarta marca: Os Filhos do Carmo
Saiu hoje um livro que se chama Filhos do Carmo. São pequenas histórias de alguns filhos desta casa. Pode ser encontrado na Lojinha. Este livro é uma pequena estratégia para angariar fundos que paguem a Cruz Processional. Agradeço sentidamente a vossa filiação carmelitana, particularmente a dos biografados que favoreceram esta causa. Por favor: Levai-o! É uma ajuda que nos fazeis, e que ele nos estimule a sermos santos como os que lá estão.
Há dias, nós, os três frades, ponderávamos a compra de algo necessário. Mas logo parámos: não há dinheiro, concluímos. Até que um os frades exclamou: «Arre!, que o dinheiro está sempre a estorvar as coisas de Nosso Senhor!» Assim é, entre nós e entre vós. Porém, que só Deus seja sempre louvado nas nossas vidas. Só Deus, jamais o dinheiro!


Última marca: As contas das obras
Parece que só falo delas, e falo. Eu falo do que é meu dever falar. Direi o que já disse uma vez: Só fizemos o que devíamos ter feito! Fizemo-lo sem dar passo algum maior que a perna. Desde o início das obras do Adro que o Empreiteiro conhecia as nossas dificuldades, pois cuidamos em denunciá‑las com humildade. Pela estima que nos tem, aceitou trabalhar sabendo que as facturas poderiam tardar em ser pagas. As posteriores dificuldades que caíram sobre a sua empresa não as contava ele nem nós. Portanto, se muito falo das nossas dívidas é também por dever de solidariedade com quem aqui amassou o pão justo de cada dia!
Os peditórios mensais renderam: 537,50€, em Junho; 900,00€, em Julho; 565,00€, em Agosto; e 1.090,00€, em Setembro. O total não chega a 10% da penúltima factura que temos de pagar! E depois falta a última! Porém, a minha confiança mais firme é a de que nunca Deus faltou a quem por Ele trabalhou!
Aqui termino, confiando-vos que vivo e rezo confiado. Confio que tudo isto é para louvor de Nossa Senhora do Carmo e para honra da Santíssima Trindade. São Eles a quem mais amamos e servimos. Que eles nos abençoem e nos acompanhem nos labirintos deste novo Ano Pastoral.

Homilia da Eucaristia de abertura do novo Ano Pastoral
6 de Outubro de 2007
Frei João Costa, Prior

(Chama 642, 14 de Outubro de 2007)