sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Breve biografia de São Rafael de S. José

No I centenário da sua morte
(1835-1907-2007)
Nobre de ascendência, foi jovem audaz e estudante brilhante. Engenheiro empreendedor, militar e defensor da Pátria. Perdeu nas armas, ganhou na vida. Deportado e exilado encontrou-se consigo mesmo nas solidões gélidas da Sibéria. Ensinou reis e venceu-se finalmente a si mesmo. Consagrou-se como Carmelita e sacerdote para erguer do chão o Carmo polaco. É santo. Morreu há cem anos.

José Kalinowski nasceu em Vilna, Lituânia, numa família profundamente católica. É o segundo filho de Josefina e André. Sua mãe morre poucas semanas depois do nascimento. André casa-se com a irmã da defunta e desta nascem-lhe três filhos. Nove anos depois também esta lhe morre pelo que casará terceira vez, com Sofia Puttkamer de quem nascerão quatro filhos. Se todas foram mães de José, a terceira, Sofia, pouco mais velha que ele, será providencial quando lhe sobrevier a crise de fé por causa da nefasta influência da vida académica.
Por aquelas alturas, Polónia e Lituânia estavam unidas federalmente, e ambas subjugadas pela Rússia desde 1772. Os kzares haviam fechado as escolas nacionais e obrigado os jovens a estudar na capital da Rússia. É aí, em S. Petersburgo, na Escola de Engenharia Militar, que vemos José profundamente empenhado. Conclui os estudos em 1857 e fica com a patente de Tenente-engenheiro. De imediato exerce a sua profissão na construção do caminho de ferro em Kursk, uma região solitária no coração da Rússia. O que mais marcou o jovem engenheiro nessa altura? — A solidão e a leitura das Confissões e dum pequeno livrinho de piedade mariana. É a aurora da sua conversão: «Agora vivo a vida com mais calma. E os seus o prazeres perderam para mim o seu encanto», dirá.
Seguidamente vemo-lo em Brest, na Polónia, onde testemunha a perseguição russa aos católicos. Kalinowski só vê uma solução: abandonar as armas russas e consagrar-se à defesa da sua nação!
Em Janeiro de 1863 dirige a insurreição contra as forças militares russas. O combate contra a «russificação da Polónia» está perdido à partida, mas ainda assim ele luta. No dia 24 de Março de 1864 é feito prisioneiro e depois condenado à morte. A pena será comutada para dez anos de trabalhos forçados na Sibéria! Para aí é deportado com os seus compatriotas em finais de Junho. A deportação dura dez meses e supõe enormes sofrimentos. José sofre como todos, mas, sobretudo, reza e auxilia os companheiros mais fracos e desvalidos. Desse período horrível testemunhou numa carta: «O mundo pode privar-me de tudo, mas há uma coisa que não me pode tirar: a oração! Pela oração eu junto passado, presente e futuro e uno-os na esperança!»
O longo período de exílio será providencial. É nele que se sente chamado ao sacerdócio. Dez anos depois, terminada a pena, é libertado sob condição: pode estabelecer-se na Polónia, mas não na Lituânia, sua terra natal. É para ali que vai.
Ao chegar à Polónia, o reconhecimento das suas qualidades e da sua fé leva-o a ser requisitado para preceptor do príncipe Augusto Czartoyski, de 16 anos. Pelo seu trabalho com o Príncipe entra em contacto com a sua tia, religiosa Carmelita Descalça, Madre Maria Xavier de Jesus, que desde há longos anos rezava e anima a rezar por um enviado do Céu, que erguesse o Carmo na Polónia. As preces haviam sido ouvidas: a Princesa reconheceu o enviado em José Kalinowski, que permanecerá dez anos em Paris cuidando da educação do Príncipe.
No Outono de 1876 declara por carta à sua família o desejo de se fazer Carmelita Descalço. No Verão seguinte pede licença ao jovem Príncipe para ingressar no Noviciado carmelita de Grantz, na Austria. Entrou no dia 15 de Julho! Tinha 42 anos.
Recebe o nome de Frei Rafael de S. José e emite os primeiros votos, a 26 de Novembro de 1878. De Grantz é enviado para o convento de Raab, na Hungria, para estudar Filosofia e Teologia. Três anos depois pronuncia os Votos Solenes e é enviado para o convento de Czerna, na Polónia. Foi ordenado sacerdote em 1883, aos 46 anos de idade. Um ano depois é nomeado Prior de Czerna. É daqui que brotará o florescimento do Carmo polaco!
O ministério de Frei Rafael de São José será profundamente fecundo. A ele se deve a fundação de 10 carmelos (um na Ucrânia), o convento do Carmo de Wadowice e um Seminário Menor, início da formação carmelitana dos rapazes.
A ele se deve também a reorganização dos leigos carmelitas, especialmente a Ordem Terceira e a Confraria do Carmo. Deve-se-lhe ainda a recuperação dos arquivos conventuais dos conventos que suprimidos pelo Estado e que se encontravam dispersos e a perder-se.
Frei Rafael de São José merece bem o título de «Restaurador do Carmo polaco». Merece-o pelas suas fundações, restaurações e edições de livros, mas sobretudo pela sua vida de união a Deus, animada pela oração e pelo recolhimento, pelo silêncio e austeridade de vida. Dele são as seguintes palavras: «No Carmo, a nossa principal ocupação é falar com Deus, em todos os nossos trabalhos».
Morreu aos 72 anos de idade, no Carmo de Wadowice, no dia 15 de Novembro de 1907, dia em que ainda hoje se comemoram os Defuntos da nossa Ordem. Foi beatificado em Cracóvia, no dia 22 de Junho de 1983, pelo Papa João Paulo II que sempre declarou grande ternura pelo nosso irmão: «É o Santo da minha cidade», dizia!
Foi canonizado em Roma no dia 17 de Novembro de 1992, no pontificado de João Paulo II.

(Chama 636, 24 de Junho de 2007)

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