sábado, 10 de novembro de 2007

— MUITOS, MAS NEM TODOS!

Terríveis foram em Espanha os anos de 1934 e os de 36 a 39 do século passado. O ódio aos Católicos (Os Protestantes foram poupados!) foi tão extenso e tão intenso que certo Ministro do Governo escreveu no seu relatório: «A Igreja acabou hoje».
E de facto parecia.
Queimaram-se milhares de igrejas, inutilizaram-se outras tantas. Mataram-se quase 4000 sacerdotes, cerca de 2500 religiosos, 300 religiosas e 11 bispos. Entre os leigos contabilizam-se dezenas de milhares de mortos. Trazer uma medalha religiosa era passaporte suficiente para a morte.
Houve dioceses que num só ano perderam 90% do clero. Vários sacerdotes morreram como Cristo: flagelados, coroados de espinhos, insultados e crucificados. Os perseguidores tinham bem aprendida a catequese! E eles também, pois que morreram a perdoar!
Certa mãe dum jesuita foi afogada porque cometera o crime de ser mãe... dum jesuita! Mas primeiro tragou o crucifixo que trazia.
A certa altura, na frente de combate faltou a gasolina: havia sido requisitada para a queima de católicos, obras de arte antigas e as bibliotecas da Igreja!
Ainda hoje se sofre! Ainda hoje não sararam as feridas. Ainda hoje não secou o sangue mártir no solo espanhol, nem dos ares se esfumou o cheiro do ódio à religião.
Deve-se em grande parte ao sereno arrojo do Papa João Paulo II a prevalência da memória dos mártires católicos espanhóis do séc. XX.
A 22 de Março de 1986 aprovou o Decreto de beatificação de três Carmelitas mártires de Guadalajara. No passado domingo, 28 de Outubro, em Roma, foram beatificados mais 498 mártires. 32 era Carmelitas Descalços. Eram muitos, mas não foram todos!

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Conta S. Teresa no Livro da Vida (40,13) que um santo (Talvez S. Alberto da Sicília) lhe disse que na sua Ordem «haveria muitos mártires». Bem o adivinharam ambos...
O primeiro mártir Carmelita Descalço é português de Paredes de Coura a chama-se B. Redento da Cruz. Junto a ele vem o B. Dionísio da Natividade. Foram martirizados pela firmeza da sua fé, nos arredores da cidade de Achem, Ilha da Sumatra, na Índia, no dia 29 de Novembro de 1638.
Seguiram-se-lhes outros muitos na França, Holanda, Alemanha, Polónia e Espanha. No dia 28 de Outubro passado foram declarados Beatos mais trinta e dois: 1 de Oviedo, 14 de Barcelona mais um seminarista, 16 de Toledo. E ainda 4 Irmãs Carmelitas Missionárias e 1 Carmelita da Caridade.
Em datas anteriores tinham já sido beatificadas outras nossas irmãs: três Carmelitas Descalças de Guadalajara e a Madre Maria Sacrário de São Luis Gonzaga.

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Em comunhão com toda a Ordem do Carmo rejubilámos com a beatificação de mais 32 irmãos nossos, no passado domingo 28 de Outubro, em cerimónia presidida pelo cardeal José Saraiva Martins. Os nossos estavam entre os 498 novos beatos, a maior beatificação realizada pela Igreja numa só cerimónia.
Vozes vários se ergueram contra; e outras a favor. A Igreja espanhola do século XX foi perseguida e por isso se viu coroada com muitos mártires. Até à data foram já elevados aos altares 966, 11 deles reconhecidos como santos.
São muitos, mas ainda não são todos!
A Igreja espanhola recordou que só há mártires quando há perseguição. Assim foi. Na homilia da celebração o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos declarou: «Os mártires nunca são património exclusivo duma diocese ou duma nação: pertencem ao mundo inteiro e à Igreja universal». E assim é, de facto. Entre os agora beatificados estavam também dois franceses, dois mexicanos e um cubano.
Porque cremos que as contas não nos falham, ficou a faltar um Carmelita português, natural de Semide. A sua vocação era de Carmelita. Depois de ordenado trabalhou no Seminário e Sé de Coimbra, no Seminário e Sé de Évora. O seu amor à Ordem fez dele um coluna (ignorada) do edifício da restauração do Carmo em Portugal. Regressou a tempo ao seu convento de Toledo donde foi expulso, perseguido e levado para o martírio. Não aparece jamais nomeada a sua pertença, conventualidade e martírio. Nós sabemo-lo e acreditamo-lo. Por isso dizemos: Muitos, mas não todos!

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«Perdoem e abençoem e amem a todos, como eu vos amo, perdoo e abençoo.»
(Da Carta de despedida do B. Tirso de Jesus Maria à sua família.)


(Chama 646, 11 de Novembro de 2007)

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