sábado, 11 de dezembro de 2010

À PROCURA DO AMADO!

Após a reforma litúrgica, levada a cabo após o Concílio Vaticano II, a Solenidade de São da Cruz foi colocada no dia da sua morte, ou seja no dia 14 de Dezembro.  Para nós carmelitas, é mais um momento que nos é oferecido para intensificar a vivência do Advento, e consequentemente mais uma motivação para preparar o Natal do Senhor.


Felizmente, após a reforma litúrgica, levada a cabo após o Concílio Vaticano II, a Solenidade de São da Cruz foi colocada no dia da sua morte, ou seja no dia 14 de Dezembro (antes do Concílio a Solenidade de São João da Cruz tinha lugar no dia 24 de Novembro). Pelo menos, para nós carmelitas, é um momento que nos é oferecido para intensificar a vivência do Advento, e consequentemente mais uma motivação para preparar o Natal do Senhor.
São João da Cruz, ou melhor, João de Yepes, nasceu em Fontiveros, na província de Castela, em Espanha, possivelmente no dia 24 de Junho do ano de 1541, filho de Gonçalo de Yepes  e de Catarina Alvarez.
As crianças quando nascem sentem-se felizes, independentemente de nascerem numa família rica ou pobre, desde que se sintam amadas! Cremos foi isso que aconteceu com o pequenino João. Mas, ainda não tinham passado muitos anos e João sentiu um vazio na sua vida. Não sabia ainda o que era a morte, mas sentiu a tristeza quando de um momento para outro deixou de ter as carícias e os mimos do pai. Possivelmente não terá compreendido a ausência do pai! Talvez, pensaria, tenha ido a uma qualquer feira comprar tecidos para o seu labor de cada dia, estava a demorar-se! Não, Joãozinho estava enganado; o pai falecera, e ele 
doravante seria um órfão. Por isso,  não admira que João,  tivesse um olhar  sombrio, pesado, tristonho, pois nunca mais recebera as carícias  e os beijos do pai, e às vezes, tinha fome, e era pouca a comida.
Pouco tempo depois deixou de ter a companhia do seu irmãozinho, com quem tantas vezes brincara, o Luís, a quem, na sua inocência, Deus levar para si. Tinham-se acabado algumas brincadeiras, e se a tristeza de João aumentava, mais aumentavam as dores e preocupações de sua mãe. Nada corria bem; o negócio ia de mal em pior, os familiares não lhe prestavam ajuda, e tinha duas crianças para alimentar!
Catarina Alvarez não se resigna, não cruza os braços, e como a mulher forte, de que nos fala a Bíblia, deixa Fontiveros, e em 1548 parte para Arévalo, procurando uma sorte diferente. Foi uma desilusão, e por isso não admira que passados três anos a encontremos na então próspera cidade de Medina del Campo, famosa pelas suas feiras. 
Não aconteceu qualquer milagre, mas alguma coisa mudou!  João, graças à sua simpatia e dedicação, encontrou um mecenas que lhe proporcionou os estudos, a par de um trabalho de menino de recados. Após as primeiras letras, estuda humanidades com os Jesuítas de Medina del Campo de 1559 a 1563. Neste ano ingressa na Ordem do Carmo e prossegue os seus estudos na Universidade de Salamanca e no Colégio carmelita de Santo André, da mesma cidade.
Ordena-se sacerdote em 1567 e em Setembro celebra sua Primeira Missa em Medina, onde se encontra com Santa Teresa de Jesus, que lhe fala do seu projecto de Reforma da Ordem… e 28 de Novembro de 1568 começa uma vida nova para Fr. João. É certamente em Duruelo que se reforça, em João da Cruz, a busca do encontro íntimo com Deus. Talvez aí tenha começado a meditar nos primeiros versos que iriam dar corpo ao seu “Cântico Espiritual”,  que mais tarde iria redigir quando esteve encarcerado no Convento de Toledo, desde aquele tenebrosa noite de 3 de Dezembro de 1577 até ao dia da “Senhora de Agosto” do ano seguinte.
Aquele Poema, a que chamaram “Cântico Espiritual”, e que inicia com os versos: “Aonde é que tu Amado, Te escondeste deixando-me em gemido? Fugiste como o veado, havendo-me ferido; clamando fui por Ti; tinhas partido!”, narram-nos as vicissitudes que a alma [o homem] percorre a até se unir com Deus [o Amado].
Inspirado no “Cântico dos Cânticos”, aliado à poesia pastoril, então bastante em moda, ao longo de vários anos, São João da Cruz vai compondo o poema, que mais tarde irá glosando, e explicando.
O Cântico Espiritual  tem como pano de fundo a experiência pessoal do seu autor, São João da Cruz, sendo uma síntese da sua vida interior e exterior vivida em  íntimo amor.
Foi em momentos  de profunda vivência  mística que São João da Cruz escreveu a maior parte dos poemas da sua obra mais querida, a quem ele com ternura chamava: “As Canções”.
Como Ele continuemos a procurar o Amado!

Chama n.º 774 | 12 Dezembro ‘10

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