sábado, 25 de junho de 2011

APRENDER A SABER AMAR!

A Lei de Deus é a Lei do Amor! Nas páginas do Evangelho, tantas vezes Jesus nos exorta a amar a Deus e ao Próximo. Mas, jesus vai mais longe e convida-nos a “amar os inimigos”, a “orar pelos que nos perseguem”! Contudo, o amor aos pais, tão enaltecido nos escritos do Velho Testamento, parece ser ofuscado pelas palavras que Jesus hoje nos dirige no Evangelho, como se eles [os pais, filhos e irmãos] fossem menos merecedores que os próprios inimigos!  
Santo Agostinho, o Doutor Angélico, vai-nos ajudar a reflectir nestas palavras de Jesus!

Já passaram as festas pascais! Embora tenhamos retomado o Tempo Comum após a Solenidade de Pentecostes, de facto, somente hoje isso sucede em relação aos domingos, pois no passado Domingo celebrámos a Festa da Santíssima Trindade, que está intimamente unida ao Mistério Pascal.
Se muitas vezes o Evangelho de Jesus nos causa apreensão, pelas suas muitas exigências, que parecem verdadeiras contradições, como “orar pelos inimigos” ou pior, ainda, “amar os inimigos”, hoje, parece ir longe de mais, pois, após tanto insistir no amor ao próximo, e de tantas exortações a amar os pais, mesmo “quando a sua mente enfraquece”, hoje as suas palavras parecem ultrapassar o razoável, quando lemos: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim, e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim”.
Para nos ajudar a compreender estas palavras de Jesus, oferecemos um comentário a este trecho evangélico, tirado dos Sermões de Santo Agostinho (Sermão 344, 1-2):
“Nesta vida toda tentação é uma luta entre dois amores: o amor ao mundo e o amor a Deus; o vencedor dos dois atrai para si, à semelhança da gravidade, o seu amante. Chegamos até Deus, de facto, não com asas nem com os pés. Pelo contrário, prendem-nos à terra os afectos contrários, não os nós nem qualquer corrente material. Cristo veio transformar o amor e fazer de um apaixonado da terra um amante da vida celestial; por nós se fez homem aquele que nos fez homens: Deus assumiu a condição de homem para fazer dos homens deuses. Eis o combate que temos pela frente: a luta contra a carne, contra o demónio, contra o mundo. Mas, tenhamos confiança, porque quem preparou o combate é espectador que nos traz a sua ajuda e nos exorta a que não presumamos das nossas forças. De facto, quem presume das mesmas forças, enquanto homem que é, presume das forças de um homem […]. Os mártires, inflamados na chama deste piedoso e santo amor, deixaram queimar a fragilidade da sua carne com o vigor da sua mente, mas chegaram íntegros no seu espírito até Àquele que lhes tinha ateado o fogo. Na ressurreição dos corpos foi concedida a devida honra à carne que desprezaram essas mesmas coisas. Assim, portanto, foi semeada na ignomínia, para ressuscitar na glória.
Ardendo neste amor ou, melhor, para podermos arder nele, diz [Jesus]: “Quem ama o pai ou a mãe mais que a Mim não é digno de mim, e quem não toma a sua cruz para Me seguir não é digno de mim (Mt 10,37-38). Não eliminou o amor aos pais, à esposa, aos filhos, mas sim colocou-o no lugar que lhe corresponde. Não disse: “Quem ama”, mas sim “Quem ama mais que a Mim”. É o que diz a Igreja no Cântico dos Cânticos: Ordenou em mim o amor (Cant 2,4). Ama a teu pai, mas não mais que ao Senhor; ama a quem te gerou, mas não mais do que a quem te criou. Foi o teu pai quem te gerou, porém não foi ele quem te formou, pois quando o fez desconhecia quem ou como irias nascer. O teu pai alimentou-te, contudo, não retirou de si o pão para te saciar. Por último, seja o que for o que teu pai te deixa na terra, ele morre para que tu lhe sucedas, e com a sua morte ocupas o seu lugar nesta vida. Ao contrário, Deus é Pai e o que reserva, guarda-o juntamente consigo, para que possuas a herança juntamente com o mesmo Pai e não tenhas que esperar a sua morte para suceder-lhe, mas que, permanecendo sempre n’Ele, te unas a quem permanece para sempre. Ama, pois, a teu pai, mas não o coloques acima de Deus; ama a tua mãe, porém não ponhas por cima da Igreja, que te gerou para a vida eterna.
Finalmente, calcula, a partir do amor que sentes pelos teus pais, quanto deves amar a Deus e à Igreja. Porque se tanto deves amar aqueles que te geraram para a morte, com muito mais amor devem ser amados aqueles te geraram para que possas chegar à vida eterna e vivas por toda a eternidade! Ama a tua esposa, ama os teus filhos segundo a Lei de Deus, incutindo-lhes que adorem juntamente contigo a Deus. Una vez que te tenhas unido a Ele, não hás-de temer separação alguma. Portanto, não deves amar mais que a Deus a quem com toda certeza amas mal, se desleixas em levá-los contigo a Deus.” 

Chama n.º 802 | 26 Junho ‘11

Sem comentários: