sábado, 4 de junho de 2011

SEREIS MINHAS TESTEMUNHAS

Vivemos num mundo secularizado! Há muitos cristãos que lamentam que Deus esteja cada vez mais “ausente” no nosso mundo. No entanto, esquecem-se que tal acontece devido à sua falta de compromisso.
Em Domingo de Ascensão recordemos as palavras de jesus, antes de partir para o Pai: “Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos”.


Diziam os antigos “tempus fugit”, o tempo foge, corre veloz! Quando os anos vão passando por nós experimentamos a mesma, sensação, e quando mergulhamos no livro das memórias, não conseguimos evitar a frase: “parece que foi ontem!”.
Também aqueles quarenta dias que mediaram entre a Ressurreição de Jesus e a sua Ascensão passaram tão rápido para os discípulos: entre o medo dos judeus e as alegrias proporcionadas pelas saborosas aparições do Ressuscitado foi um instante.
Quando falamos da Ascensão, geralmente, entendemo-la como a separação de Jesus dos seus discípulos. Nesta perspectiva a Ascensão, enquanto partida de Cristo, deveria entristecer-nos devido à sua ausência. Mas, felizmente tal não aconteceu, porque Cristo permanece connosco “sempre até ao fim dos tempos”. 
A Ascensão é uma manifestação do poder de Cristo, e consequentemente a intensificação da sua presença no nosso meio, como assim o testemunha (essa é a nossa fé) a Eucaristia. Assim devemos ler  o trecho dos Actos  dos Apóstolos como a narração da última aparição de Cristo ressuscitado aos seus discípulos, e não tanto como a data da sua glorificação.
Isso não nos impede de ver na Ascensão  a plenitude da Encarnação. Quando se fez carne Jesus não  podia encarnar senão num único homem, porém mediante a Ascensão, pela força do Espírito que o ressuscitou de entre os mortos, torna-se  «mais íntimo connosco do que nós próprios», de tal modo que Paulo ousou dizer «já mão sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.
A Ascensão de Jesus é uma co-responsabilização de todos os que se confessam cristãos. Assim como “no princípio criou Deus o céu e a terra” e todas as coisas e, uma vez criado o mundo, o submeteu à responsabilizar do homem, que terá de dar conta da gestão ante o Criador, assim também o relato da Ascensão acentua a subida ao céu de Jesus, para que fique claro que a terra fica nas  mãos e sob a responsabilidade dos seus discípulos, que terão que responder da sua gestão perante Jesus, que há-de voltar para pedir-nos contas, pelo  que a Ascensão do Senhor se pode definir o tempo da responsabilidade cristã.
Na Ascensão, Jesus não abandonou este mundo; porém muitas vezes ouve-se falar, e escreve-se, sobre a ausência de Deus, lamentando que estejamos abandonados ou afastados do olhar de Deus.
Felizmente isso não corresponde à verdade, porque Deus não nos abandona,embora constatamos que há tremendo absentismo cristão, inclusive humano, no mundo em que vivemos; absentismo no sentido de que não estamos onde deveríamos estar e não fazemos o que seria de  esperar dos que confessam cristãos.
Em tempos idos, estávamos acostumados a viver a fé numa sociedade, que tinha aceite o mundo de cristandade. Porém, hoje esse mundo já não existe! Agora, parece que somos nós, os cristãos, que andamos perdidos, sem saber qual o lugar e missão que nos cabe desempenhar no nosso meio.
Infelizmente tantos e tantos baptizados, que em “sondagens” ou em outros “inquéritos de opinião” se confessam cristãos pouco ou  nada se empenham em testemunhar a sua fé  em Jesus Ressuscitado. Seríamos benevolentes, se não o denunciássemos  publicamente, até para evitar males maiores. É que, de facto, esquecemos as palavras de Jesus, dirigidas aos seus discípulos, e a nós também, antes de subir ao Céu: “sereis minhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra”.
Porém, parece que essas palavras nos passam ao lado, e não admira que vivamos num mundo secularizado, não só graças a todas as ideologias que hostilizam a Igreja, mas também devido à inoperância dos cristãos. Neste ambiente de secularização não é Deus quem está ausente, somos nós  que nos temos colocado fora de cena do contexto deste mundo em que vivemos!
A missão da Igreja, e dos cristãos, é fazer presente no mundo o reino de Deus, como bem nos ordenou Jesus antes de partir para o Pai: “Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei”.

Chama n.º 799 | 05 Junho ‘11

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