quinta-feira, 29 de novembro de 2007

CONVITE

Conferência: O sonho do Pai é o amor!
Conferencista: D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

Segunda-feira, 3 de Dezembro 21:00h
Salão de São João da Cruz Igreja do Carmo de Aveiro
7 NOITES, 7 TEMAS é uma organização do grupo de oração jovem, Adoramus Te

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Pregão do Advento


Anuncio-vos que o Advento está a começar.
Erguei o olhar, limpai os olhos, perscrutai o horizonte.
Apurai a vossa sensibilidade. Apurai o ouvido.
Captai os gritos e os sussurros, o vento e a vida...

Começamos o Advento: uma vez mais renasce a esperança no horizonte.
Ao longe, começa a clarear o Natal.
Um Natal sossegado e íntimo, pacífico e fraterno,
solidário e encarnado,
e também superficial, desvinculado, violento...;
mas sempre, sempre desposado com a esperança.

É Advento, essa menina esperança,
que, sem saber como, todos levamos nas entranhas;
uma chama tremeluzenta, impossível de apagar,
que atravessa a espessura das eras e dos tempos;
um caminho de solidariedade bem percorrido;
a alegria contida em cada trajecto;
umas pegadas que não enganam;
uma gravidez cheia de vida;
um contido anúncio de Boa Nova;
uma ternura que transborda...

Estai alerta. Escutai.
Isaías grita cheio de esperança:
— Caminhemos à luz do Senhor.
Com esperança, João Baptista apregoa:
— Convertei-vos, porque está a chegar o reino de Deus.

Com toda a esperança dos pobres de Israel,
Com toda a esperança, Maria sussurra uma palavra de aceitação:
— Faça-se em mim, segundo a tua palavra!

Rejubilai! Saltai de alegria!
Vesti-vos com as melhores roupas, com roupas de festa.
Perfumai-vos com perfumes caros.
Que se veja bem que estais alegres!
Que se veja bem que Deus vem!
Avivai a alegria, a paz e a esperança.
Preparai o caminho: já chega o nosso Salvador.

Deus vem. Deus está a chegar. Já está à porta.
Acordai para a vida!


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VIGÍLIA DE ADVENTO
NA IGREJA DO CARMO AVEIRO
SEXTA-FEIRA 30 DE NOVEMBRO 21:00H

sábado, 24 de novembro de 2007

Vigília de Advento

As ruas estão iluminadas. As montras engalanadas. Já nos prepararam o Natal. Mas que Natal? Não chegues lá de qualquer maneira. Abre as portas do Advento. Como Maria prepara o coração para o Senhor que vem. Vinde, Senhor Jesus!
É na Sexta-feira, 30 de Novembro, pelas 21:00h.
(Chama 648, 25 de Novembro de 2007)

[INRI] Jesus nazareno, Rei dos Judeus


Celebramos neste último domingo do Tempo Comum a Solenidade de Cristo Rei do universo e com ela terminamos o Ano Litúrgico.
«Rei de Israel», «Rei dos judeus», «reino do Filho» são expressões com que a liturgia deste domingo nos recorda a gozosa realidade de Jesus Cristo, nosso Senhor e Rei do universo.
O cartaz que estava na cruz onde Jesus morreu para nos salvar, anunciava: «Jesus nazareno, rei dos judeus». Historicamente o título de rei dos judeus surge com David, de quem Jesus descendia segundo a carne.
O apóstolo Paulo recorda-nos que pela obra salvadora de Cristo somos cidadãos do Reino do Filho: «O Pai transferiu-nos para o reino do seu muito amado Filho, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados


DAVID, REI DE ISRAEL

Os israelitas conquistaram a Terra Prometida em finais do séc. XIII aC, sob o comando de Josué. A conquista foi progressiva e muito demorada. Quando foi considerada concluída procedeu-se à distribuição das terras pelas tribos de Israel. Seguiu-se algum tempo de paz e autonomia. As uniões entre as tribos eram esporádicas e com um intuito: defender-se de agressões externas. Apesar de tudo, durante este período foi aparecendo uma diferenciação: por um lado, as tribos do Norte; por outro, as do Sul.
Quando Samuel ungiu David como rei, fê-lo só sobre as do Sul: Judá, Benjamin e Efraim. E sobre elas governou sete anos.
Mas David era duma personalidade extraordinário, tinha voz de comando e génio militar que o levaram à conquista da fortaleza de Jerusalém, considerada inexpugnável. Os êxitos induziram as tribos do Norte a proclamá-lo rei, e assim foi.
Foi um passo decisivo para Israel: Com David, pela primeira vez, alcançava-se a unificação das Doze Tribos. Havia agora um só rei, um só comando político-militar.
Jerusalém era capital.
O reinado de Cristo é continuação do de Israel; está igualmente composto por doze tribos, sob um único rei com capital em Jerusalém, a capital dum reino messiânico, inaugurado na Cruz.

JESUS, REI DOS JUDEUS

Jesus morre na cruz porque era rei. Rei dos judeus. Esse motivo foi denunciado aos habitantes de Jerusalém e aos peregrinos da Páscoa do ano 30, por um cartaz em hebraico, latim e grego.
Mas que judeu aceitaria um crucificado como rei? Tal ignomínia era inaceitável, por isso as autoridades judias pediram a Pilatos que mudasse o texto. Pilatos, respondeu: «O que escrevi, está escrito». E muitos se riram...
Dentre todos, somente um dos ladrões percebeu que o reino desse Crucificado tinha um estilo outro, diferente dos da terra. Por isso, lhe disse: «Jesus, lembra-te de mim quanto estiveres no teu Reino». Na verdade o título de rei é verdadeiro, mas remete-nos para um Reino diferente: um Reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz.
Jesus foi crucificado pelos poderes do mundo. É assim o seu jeito de anunciar o seu Reino de Amor!

O REINO DO FILHO

Pelo sacramento do Baptismo o Pai chamou-nos à fé e por ela inseriu-nos no Reino do seu Filho. O filho é Jesus de Nazaré, o Crucificado, que agora vive ressuscitado e glorioso, como vencedor! O seu Reino já não é duma só raça ou dum só povo, nem só do íntimo dos corações. É um Reino de todos o cosmos e de toda a criação, porque «por Ele foram criadas todas as coisas; tudo foi criado por Ele e para Ele».

Para o Filho o título de rei é a sua verdade. Ele é Rei! Ele é o Rei! Nada está fora do seu reinado e poderio, nem o tempo nem o fora de tempo. Ele é o Rei do Universo. Ele é o rei da história, é Ele quem orienta os acontecimentos humanos para o seu fim. É o Rei de cada homem e cada mulher; reina sobre eles pela fé e pela esperança, pela caridade e pela justiça, pela paz e pela solidariedade.


(Chama 648, 25 de Novembro de 2007)

Publicidade

Senhor Frei Rui:
Sou um pobre pecador e um homem um pouco tímido, fruto dos desgostos da vida. Mas sou feliz.
Gosto de todos os actos praticados na nossa Igreja do Carmo. Gosto por isso do livro Filhos do Carmo que está a ser vendido pelos irmãos. O livro é uma experiência religiosa muito rica. Posso dizê-lo, porque já o li.
Eu não sou letrado, pois só tenho a Terceira Classe que fiz há sessenta anos. Por isso, quando comecei a ler o livro julguei que ia ter leitura para um ano. Mas não, a leitura era tão enriquecedora que o li num instante. Li-o muito rapidamente.
Fiquei feliz e muito contente pelos testemunhos que nele li. Quero dar os meus parabéns ao sr. Frei Rui, ao sr. Frei Silvino e ao sr. Frei João pelo bem que nos fazem e pedindo que os santos da Igreja do Carmo me protejam.
Ofereço esta pequena oferta para as obras da Igreja que vejo ainda não estão pagas. Obrigado pela atenção prestada.
(Carta assinada)

Caro amigo:
Também li a sua carta e fiquei muito sensibilizado. Muito obrigado pela sua leitura, pelas suas palavras e pela sua oferta. Deus lhe pague. Aceite a oração da nossa Comunidade por si. A bênção,
Frei João.
(Chama 648, 25 de Novembro de 2007)

sábado, 17 de novembro de 2007

Como é bela a vida de São Rafael!


Na Chama Viva do Carmo nº 636, de 24 de Junho passado, motivados pela ocorrência da celebração do I centenário da sua morte, publicávamos uma pequena biografia de S. Rafael Kalinowski. É um santo marcante na vida da nossa ordem, da igreja polaca e também da universal. Ao encerrarmos o seu centenário registamos aqui alguns testemunhos eloquentes sobre a sua vida santa. Só podem ser lidos com profunda reverência e agradecimento. Agradecemos ao Senhor ser ele nosso modelo eficaz no caminho da santidade; reverenciámo-lo porque hoje melhor que nunca podemos rezar como os seus companheiros de prisão: pela oração de s. Rafael Kalinowski, salvai-nos senhor!

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«JOSÉ ESTAVA CHEIO
de actos de misericórdia; sem se queixar suportava todas as dificuldades. A sua bondade, a sua devoção e a sua vida ascética comoveram tanto os seus companheiros de desterro que na Ladainha dos Desterrados inseriram esta litania: ‘Pela oração de Kalinowski, salvai-nos Senhor!’.»
(Testemunho de Michal Janik, escritor)

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«TINHA TODAS AS QUALIDADES
dum anjo e nenhum dos defeitos dos humanos. A sua tolerância angelical, o seu amor pelo género humano, o seu respeito pelas opiniões diferentes, etc., faziam dele uma pessoa duma qualidade humana tal, que não existe hoje alguém parecido entre a geração actual.
Se alguém pode ser considerado como santo, na primeira fila da santa memória está o padre Rafael.»
(Duma carta ao irmão mais novo de S. Rafael, escrita pelo Prof. Benedykt Dybowski,
católico que havia abandonado a fé, com quem o nosso Santo trabalhou numa investigação científica no Lago Baika, na Sibéria
.)

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«COMO É BELA A VIDA DESTE HOMEM!
Vive entregue à oração e ao bem-fazer; ocupa-se nas boas obras. Na cidade de Usole chamam-lhe O Santo e até o maior dos ateus teve de admirar com extraordinária modéstia a sua verdadeira superioridade. Se houvesse uma criança abandonada, ele educava-a; se houvesse um doente para atender, aí se encontrava ele; se era necessário fazer algum trabalho incómodo, era o primeiro a fazê-lo; e estava sempre presente na igreja e no confessionário; que Deus o salve por todas as suas virtudes.»
(Da carta duma deportada,
escrita desde a cidade de Irkurk
.)

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«ERA PARA AS ALMAS RELIGIOSAS
um pai, um irmão, o amigo mais sacrificado e o mais fiel imitador do nosso Divino Salvador... Quanto mais dificuldades uma pessoa lhe causava, mais ele mostrava a sua misericórdia e a sua entrega. Não suportava a mais pequenas das imperfeições numa pessoa consagrada.
(Testemunho duma Carmelita Descalça.)

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«JOSÉ KALINOWSKI,
actualmente Padre Rafael, era um homem de grande carinho e de extraordinária amabilidade, um verdadeiro anjo de bondade. Quando os russos falavam dele, diziam: «o Santo polaco». Foi a sua fama de santidade que o salvou da forca. Quando Murawiew, o cruel governador russo de Vilna o quis enforcar, um dos seus generais explicou-lhe que Kalinowski era estimado como santo, não apenas entre os polacos mas também entre os russos. E sentenciá-lo era torná-lo mártir dos polacos. No Natal de 1865 estávamos na prisão siberiana de Usole. Éramos mais de trezentas pessoas reunidas numa só barraca, à volta das mesas para a ceia. Depois dos sacerdotes rezarem as orações em latim, fez-se um enorme silêncio cheio de comoção. Depois, segundo a tradição polaca, todos começaram a partilhar pedaços de pão obreia, desejando-se os melhores votos. Ali todos berravam por alguém a quem desejar felicidades e oferecer um pedacinho de pão com as palavras rituais. A maioria de nós rodeava Kalinowski, a quem todos amavam e admiravam. Todos queriam oferecer-lhe do seu pão unindo-se assim a ele, pensando que lhes traria felicidade. Ele andava daqui para ali: a todos sorria e dava um beijo.
As esposas dos desterrados também o chamaram. Depois foram os sacerdotes a quem ele beijava as mãos que eles escondiam, e por fim todos se abraçavam.
Esta cena não terminaria nunca, mas o cozinheiro-chefe com a sua voz potente pediu que todos se sentassem. Não o fizeram logo, pois outros se levantaram para o abraçar. Vi então muitos secarem as lágrimas depois de o terem abraçado, enquanto outros se contentaram em olhá-lo de longe como se tentassem ver nele a pátria longínqua e os seus entes queridos.
(Duma carta do P. Wenceslau Nowakowski, Capuchinho, colega de São Rafael nos trabalhos forçados no desterro da Sibéria.)

(Chama 647, 18 de Novembro de 2007)

Para memória futura

Solene entronização das imagens dos
BB. Redento da cruz e Dionísio da Natividade

Na Eucaristia da Festa de Todos os Santos do Carmo,
em festa, com orações, incenso e palmas
entronizamos na nossa igreja,
as imagens dos proto-mártires da nossa Ordem:
o B. Redento da Cruz, ex‑capitão do exército português,
e o B. Dionísio da Natividade, ex-cientista francês,
martirizados em 1638 e beatificados em 1900.
As imagens encontram-se na parede nascente
do corpo do templo,
recentemente melhorado e beneficiado.
Assim se enriquece o nosso património,
se estimula a devoção dos fiéis
e se vinca a nossa matriz carmelitana implantada em Aveiro.
Do outro lado ficaram vazias duas peanhas.
A seu tempo receberão os respectivos inquilinos.

(Chama 647, 18 de Novembro de 2007)

Oração de São Rafael Kalinowski a Nossa Senhora

Virgem Santíssima, Mãe Imaculada,
olhai misericordiosamente as angústias
da minha alma a vós consagrada para sempre.
Sede para mim um escudo defensor
dos ataques do Inimigo;
aplacai as tempestades do meu espírito;
imprimi em meu coração
a Paixão do vosso divino Filho;
infundi em mim a contrição por amor;
mostrai-me o caminho da sincera penitência
das minhas constantes infidelidades;
fazei que eu morra desejando a Deus;
conservai-me o último dos últimos
no reino dos Santos e dos Justos;
não tardeis a libertar-me
das contínuas preocupações pela salvação;
e pela vossa misericórdia acolhei-me a mim,
tão miserável, no repouso eterno de Deus.

Vosso filho pródigo,
Rafael de São José

(Chama 647, 18 de Novembro de 2007)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Breve biografia de São Rafael de S. José

No I centenário da sua morte
(1835-1907-2007)
Nobre de ascendência, foi jovem audaz e estudante brilhante. Engenheiro empreendedor, militar e defensor da Pátria. Perdeu nas armas, ganhou na vida. Deportado e exilado encontrou-se consigo mesmo nas solidões gélidas da Sibéria. Ensinou reis e venceu-se finalmente a si mesmo. Consagrou-se como Carmelita e sacerdote para erguer do chão o Carmo polaco. É santo. Morreu há cem anos.

José Kalinowski nasceu em Vilna, Lituânia, numa família profundamente católica. É o segundo filho de Josefina e André. Sua mãe morre poucas semanas depois do nascimento. André casa-se com a irmã da defunta e desta nascem-lhe três filhos. Nove anos depois também esta lhe morre pelo que casará terceira vez, com Sofia Puttkamer de quem nascerão quatro filhos. Se todas foram mães de José, a terceira, Sofia, pouco mais velha que ele, será providencial quando lhe sobrevier a crise de fé por causa da nefasta influência da vida académica.
Por aquelas alturas, Polónia e Lituânia estavam unidas federalmente, e ambas subjugadas pela Rússia desde 1772. Os kzares haviam fechado as escolas nacionais e obrigado os jovens a estudar na capital da Rússia. É aí, em S. Petersburgo, na Escola de Engenharia Militar, que vemos José profundamente empenhado. Conclui os estudos em 1857 e fica com a patente de Tenente-engenheiro. De imediato exerce a sua profissão na construção do caminho de ferro em Kursk, uma região solitária no coração da Rússia. O que mais marcou o jovem engenheiro nessa altura? — A solidão e a leitura das Confissões e dum pequeno livrinho de piedade mariana. É a aurora da sua conversão: «Agora vivo a vida com mais calma. E os seus o prazeres perderam para mim o seu encanto», dirá.
Seguidamente vemo-lo em Brest, na Polónia, onde testemunha a perseguição russa aos católicos. Kalinowski só vê uma solução: abandonar as armas russas e consagrar-se à defesa da sua nação!
Em Janeiro de 1863 dirige a insurreição contra as forças militares russas. O combate contra a «russificação da Polónia» está perdido à partida, mas ainda assim ele luta. No dia 24 de Março de 1864 é feito prisioneiro e depois condenado à morte. A pena será comutada para dez anos de trabalhos forçados na Sibéria! Para aí é deportado com os seus compatriotas em finais de Junho. A deportação dura dez meses e supõe enormes sofrimentos. José sofre como todos, mas, sobretudo, reza e auxilia os companheiros mais fracos e desvalidos. Desse período horrível testemunhou numa carta: «O mundo pode privar-me de tudo, mas há uma coisa que não me pode tirar: a oração! Pela oração eu junto passado, presente e futuro e uno-os na esperança!»
O longo período de exílio será providencial. É nele que se sente chamado ao sacerdócio. Dez anos depois, terminada a pena, é libertado sob condição: pode estabelecer-se na Polónia, mas não na Lituânia, sua terra natal. É para ali que vai.
Ao chegar à Polónia, o reconhecimento das suas qualidades e da sua fé leva-o a ser requisitado para preceptor do príncipe Augusto Czartoyski, de 16 anos. Pelo seu trabalho com o Príncipe entra em contacto com a sua tia, religiosa Carmelita Descalça, Madre Maria Xavier de Jesus, que desde há longos anos rezava e anima a rezar por um enviado do Céu, que erguesse o Carmo na Polónia. As preces haviam sido ouvidas: a Princesa reconheceu o enviado em José Kalinowski, que permanecerá dez anos em Paris cuidando da educação do Príncipe.
No Outono de 1876 declara por carta à sua família o desejo de se fazer Carmelita Descalço. No Verão seguinte pede licença ao jovem Príncipe para ingressar no Noviciado carmelita de Grantz, na Austria. Entrou no dia 15 de Julho! Tinha 42 anos.
Recebe o nome de Frei Rafael de S. José e emite os primeiros votos, a 26 de Novembro de 1878. De Grantz é enviado para o convento de Raab, na Hungria, para estudar Filosofia e Teologia. Três anos depois pronuncia os Votos Solenes e é enviado para o convento de Czerna, na Polónia. Foi ordenado sacerdote em 1883, aos 46 anos de idade. Um ano depois é nomeado Prior de Czerna. É daqui que brotará o florescimento do Carmo polaco!
O ministério de Frei Rafael de São José será profundamente fecundo. A ele se deve a fundação de 10 carmelos (um na Ucrânia), o convento do Carmo de Wadowice e um Seminário Menor, início da formação carmelitana dos rapazes.
A ele se deve também a reorganização dos leigos carmelitas, especialmente a Ordem Terceira e a Confraria do Carmo. Deve-se-lhe ainda a recuperação dos arquivos conventuais dos conventos que suprimidos pelo Estado e que se encontravam dispersos e a perder-se.
Frei Rafael de São José merece bem o título de «Restaurador do Carmo polaco». Merece-o pelas suas fundações, restaurações e edições de livros, mas sobretudo pela sua vida de união a Deus, animada pela oração e pelo recolhimento, pelo silêncio e austeridade de vida. Dele são as seguintes palavras: «No Carmo, a nossa principal ocupação é falar com Deus, em todos os nossos trabalhos».
Morreu aos 72 anos de idade, no Carmo de Wadowice, no dia 15 de Novembro de 1907, dia em que ainda hoje se comemoram os Defuntos da nossa Ordem. Foi beatificado em Cracóvia, no dia 22 de Junho de 1983, pelo Papa João Paulo II que sempre declarou grande ternura pelo nosso irmão: «É o Santo da minha cidade», dizia!
Foi canonizado em Roma no dia 17 de Novembro de 1992, no pontificado de João Paulo II.

(Chama 636, 24 de Junho de 2007)

sábado, 10 de novembro de 2007

— MUITOS, MAS NEM TODOS!

Terríveis foram em Espanha os anos de 1934 e os de 36 a 39 do século passado. O ódio aos Católicos (Os Protestantes foram poupados!) foi tão extenso e tão intenso que certo Ministro do Governo escreveu no seu relatório: «A Igreja acabou hoje».
E de facto parecia.
Queimaram-se milhares de igrejas, inutilizaram-se outras tantas. Mataram-se quase 4000 sacerdotes, cerca de 2500 religiosos, 300 religiosas e 11 bispos. Entre os leigos contabilizam-se dezenas de milhares de mortos. Trazer uma medalha religiosa era passaporte suficiente para a morte.
Houve dioceses que num só ano perderam 90% do clero. Vários sacerdotes morreram como Cristo: flagelados, coroados de espinhos, insultados e crucificados. Os perseguidores tinham bem aprendida a catequese! E eles também, pois que morreram a perdoar!
Certa mãe dum jesuita foi afogada porque cometera o crime de ser mãe... dum jesuita! Mas primeiro tragou o crucifixo que trazia.
A certa altura, na frente de combate faltou a gasolina: havia sido requisitada para a queima de católicos, obras de arte antigas e as bibliotecas da Igreja!
Ainda hoje se sofre! Ainda hoje não sararam as feridas. Ainda hoje não secou o sangue mártir no solo espanhol, nem dos ares se esfumou o cheiro do ódio à religião.
Deve-se em grande parte ao sereno arrojo do Papa João Paulo II a prevalência da memória dos mártires católicos espanhóis do séc. XX.
A 22 de Março de 1986 aprovou o Decreto de beatificação de três Carmelitas mártires de Guadalajara. No passado domingo, 28 de Outubro, em Roma, foram beatificados mais 498 mártires. 32 era Carmelitas Descalços. Eram muitos, mas não foram todos!

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Conta S. Teresa no Livro da Vida (40,13) que um santo (Talvez S. Alberto da Sicília) lhe disse que na sua Ordem «haveria muitos mártires». Bem o adivinharam ambos...
O primeiro mártir Carmelita Descalço é português de Paredes de Coura a chama-se B. Redento da Cruz. Junto a ele vem o B. Dionísio da Natividade. Foram martirizados pela firmeza da sua fé, nos arredores da cidade de Achem, Ilha da Sumatra, na Índia, no dia 29 de Novembro de 1638.
Seguiram-se-lhes outros muitos na França, Holanda, Alemanha, Polónia e Espanha. No dia 28 de Outubro passado foram declarados Beatos mais trinta e dois: 1 de Oviedo, 14 de Barcelona mais um seminarista, 16 de Toledo. E ainda 4 Irmãs Carmelitas Missionárias e 1 Carmelita da Caridade.
Em datas anteriores tinham já sido beatificadas outras nossas irmãs: três Carmelitas Descalças de Guadalajara e a Madre Maria Sacrário de São Luis Gonzaga.

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Em comunhão com toda a Ordem do Carmo rejubilámos com a beatificação de mais 32 irmãos nossos, no passado domingo 28 de Outubro, em cerimónia presidida pelo cardeal José Saraiva Martins. Os nossos estavam entre os 498 novos beatos, a maior beatificação realizada pela Igreja numa só cerimónia.
Vozes vários se ergueram contra; e outras a favor. A Igreja espanhola do século XX foi perseguida e por isso se viu coroada com muitos mártires. Até à data foram já elevados aos altares 966, 11 deles reconhecidos como santos.
São muitos, mas ainda não são todos!
A Igreja espanhola recordou que só há mártires quando há perseguição. Assim foi. Na homilia da celebração o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos declarou: «Os mártires nunca são património exclusivo duma diocese ou duma nação: pertencem ao mundo inteiro e à Igreja universal». E assim é, de facto. Entre os agora beatificados estavam também dois franceses, dois mexicanos e um cubano.
Porque cremos que as contas não nos falham, ficou a faltar um Carmelita português, natural de Semide. A sua vocação era de Carmelita. Depois de ordenado trabalhou no Seminário e Sé de Coimbra, no Seminário e Sé de Évora. O seu amor à Ordem fez dele um coluna (ignorada) do edifício da restauração do Carmo em Portugal. Regressou a tempo ao seu convento de Toledo donde foi expulso, perseguido e levado para o martírio. Não aparece jamais nomeada a sua pertença, conventualidade e martírio. Nós sabemo-lo e acreditamo-lo. Por isso dizemos: Muitos, mas não todos!

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«Perdoem e abençoem e amem a todos, como eu vos amo, perdoo e abençoo.»
(Da Carta de despedida do B. Tirso de Jesus Maria à sua família.)


(Chama 646, 11 de Novembro de 2007)

sábado, 3 de novembro de 2007

— Quem és tu, Zé Pedro?

Em tempos de aparente esmorecimento é consolador e reconfortante testemunhar certos gestos pequeninos e delicados que sabem tanto melhor e tanto mais alegram e animam quanto mais têm de inesperado. Ainda há calor e surpresa. O mais insólito mas não o último passou-se com o Zé Pedro, que eu jamais vira. O encontro com ele (e a avó) foi tão inesperadamente delicado e tocante que hoje resolvi contá-lo, na Chama deste Domingo. Também é certo que uma vez mais nos aprestamos a pedir a sua esmola para as obras do adro e da fachada da Igreja. Mas a coisa, aquele encontro, foi assim tão... tão... (Tão divina?) que eu apeteceu-me perguntar: — Quem és tu, Zé Pedro?
E ainda não sei responder se naquele dia falei com um Anjo ou só com um menino.

Conheci o Zé Pedro num dia em que a avó o trouxe. São vizinhos do Carmo. Ambos poderiam figurar no livro Filhos do Carmo. Mas não, não estão lá. Fica para a próxima, se Deus quiser.
Um dia a avó trouxe-me o mealheiro do neto. Contou-me que lhe contava coisas desta casa, da Igreja, da casa de Jesus, de Nossa Senhora, do convento novo, de como isto foi ficando bonito, que nem sempre assim fora. O neto, claro, não sabe. Sabe só o que vê, e ainda assim vê pouco. Ele é tão pouquenino. Mas nestas coisas não importa o que se vê, mas o como se ama!
Quando abri o mealheiro — na minha terra dizem migalheiro — tirei dele quase 50,00€, contando algumas moedas de escudo.
(Era antigo, portanto).
Um dia a avó trouxe o neto. Oh, como lhe agradeci! Como me encantei! O miúdo parecia que sabia ao que vinha. Espevitado, não se intimidou, nem por ter de falar com os grandes, nem por estar num convento. Enfim, falamos tu a tu, como se fôssemos parceiros de há longos anos.
Tratou-me por tu. Conversámos. (Eu tive de fazer quase — não muito — de miúdo.) E depois despediu-se. Deveria haver alguma senha entre eles, pois foi simultâneo o desejo de partir. Mas não, não saiu sem me apertar a mão e me agradecer três vezes por me ter conhecido.
(Ora, Zé Pedro, bute lá! Eu não sou grande peça!)
Foram-se. Hoje garanto-me, para me convencer: se fosse de chorar, teria chorado naquela hora. O miúdo comoveu-me. Não me conhece de lado algum e foi genuíno no trato, nos gestos, no estar, no falar, e, claro, nas distracções.
— Prazer em conhecê-lo, sabe? despedia-se. E eu ainda oiço essa música nos meus ouvidos.
Obrigado, Zé Pedro! Obrigado, avó! São coisas assim de simples que ajudam a refrescar o meu barro resseco! Sim, obrigado Zé Pedro, isto é por ti. É mesmo por ti! Tudo isto é por ti. Por ti e por todos os que tu naqueles minutos representas-te diante de mim. Esses olhitos que me remiraram perante o sorriso da tua avó, quando, como homens nos apertámos as mãos, fazem-me lembrar outros meninos. Muito outros meninos e meninas.
Sim. Isto é por ti, Zé Pedro. Por ti e por eles. Pela Ana, pela Francisca, o Marcus, o Miguel, o Tiago...
Sabes, saberás, tu, Zé Pedro, que tudo isto só tem sentido porque é um legado que me foi entregue e eu recebi — eu e muitos outros comigo e antes de mim! — pelo que será um prazer entregar-te um dia a Igreja do Carmo. Sim, é verdade: um dia o Carmo será para ti e para a Ana que se debruça sobre o Altar quando celebro a Eucaristia, e para o Tomás que quer mas não é capaz de vir apertar-me a mão no Momento da Paz, e para o Alberto que não consegue ficar toda a Missa acordado, e para a Joana que já canta no Voces Carmeli tão bem quanto a mãe, e para o David que ao colo do pai é tão simpático quanto tu, e para a Alice a quem impus o Escapulário enquanto dormia ao colo do pai, e para a Elisabete que fez aqui a Primeira Comunhão antes de ir para Inglaterra e que prometeu e cumpriu vir dar-me um beijinho sempre que viesse a Aveiro, e para a Nininha que há muito tempo não a vejo por aqui com a sua saíta de fada. E para... E para...
É para ti, Zé Pedro. Tudo isto não faria sentido se tudo isto não fosse já herança tua, tua e de todos eles. Esses e outros que, entretanto, hão-de vir.
Sim, como vês, enquanto não chegar a tua vez, cuidaremos bem da igreja e do convento que muito amamos. Já viste como os velhinhos — a Dona Olga e outros — sobem mais desafogadamente as rampas? Sabes que há mais velhinhos a vir à igreja, porque já não se cansam tanto? Nem tropeçam tanto? Sabias isso? Pois, é verdade.
Cresce, Zé Pedro! Cresce, depressa, Zé Pedro. Que isto dá muito trabalho e eu estou ansioso por entregar-te a nossa Igreja do Carmo. Entretanto, como te disse, cuidaremos dela e defendê-la-emos como a menina dos olhos. Queremo-la para ti!
Aparece por aí, mesmo sem migalheiro. Porque para mim foi uma imensa alegria conhecer-te. Desta será a minha vez. Quero dizer-te três vezes que foi uma imensa alegria conhecer‑te. (Eu que não sei nada de ti, a não ser que gostas de aqui vir voando no sorriso da tua avó.)
(Chama 645, 04 de Novembro de 2007)