segunda-feira, 12 de maio de 2008

Ó ESPÍRITO, DADOR DE VIDA!


Segundo alguns especialistas (norte-americanos, como só poderia ser!) a maioria das pessoas vive utilizando apenas dez por cento das suas capacidades. Talvez seja verdade.
Mas o certo é que é sempre difícil fazer uma estimativa do género. Ainda assim...
Tomemos como certo que a maioria dos humanos só usa dez por cento das suas capacidades. A ser assim a maioria de nós só vê dez por cento da beleza do mundo que nos rodeia, seja da beleza natural, seja da beleza criada pelo homem.
A ser assim a maioria de nós só ouve dez por cento da música, dez por cento da poesia e dez por cento da vida que pulula à nossa volta. Só estamos abertos a dez por cento das emoções, da ternura e do pensamento!
Sabemos que não é assim que se fazem estatísticas, e que este valor talvez seja indicativo. Porém, é muito significativo que o coração humano vibre com quase um resíduo da sua capacidade de amar. (Que sucederia ao nosso coração e à nossa vida se sentíssemos mais, se amássemos mais, se vibrássemos mais?)
Creio que assim dito o que acaba de ser dito, facilmente se entende que globalmente somos pessoas que vivemos pouco, e que, sobretudo, morremos sem termos vivido verdadeiramente.
Viver com os sentidos a dez por cento é uma experiência vital tão escassa quanto mirrada!
Algo parecido se poderia dizer dos cristãos. A maioria de nós, cristãos, morrerá sem jamais ter conhecido, por experiência pessoal, o que poderia ter sido para si mesmo o valor e a extraordinária grandeza e beleza da vida de fé.
Isto é uma verdade dura de dizer e dura de assumir, mas também é verdade que ao longo deste dia de Pentecostes muitos de nós voltaremos a recitar distraidamente a nossa fé no Espírito Santo. Confessaremos acreditar no Espírito Santo, «Senhor que dá a vida», mas estaremos muito longe de reconhecer a força, a energia, o impulso e a vida imensa que d’Ele recebemos.
Se realmente a bitola é a dos dez por cento, percebemos muito pouco do Espírito Santo. (Mas serão mesmo dez por cento?)
É o Espírito quem traz toda energia misteriosa da vida íntima de Deus, e nessa dinâmica um presente que o Pai concede por Jesus aos que neles crêem a fim de os plenificar de vida.
É o Espírito quem verdadeiramente nos ensina a saborear a vida em toda a profundidade, a não desperdiçá-la de qualquer maneira, e a não passar distraidamente pelo essencial.
É o Espírito quem reafirma em nós o gosto pela existência e nos ajuda a encontrar uma nova harmonia com o ritmo mais profundo da nossa vida.
É o Espírito quem nos abre para uma comunicação nova e mais profunda com Deus, connosco mesmos e como os outros.
É o Espírito quem nos invade com uma alegria secreta e nos oferece uma transparência interior, uma confiança em nós mesmos e uma amizade nova com as coisas.
É o Espírito que nos livra de cairmos no vazio interior e na terrível solidão, devolvendo-nos a generosa capacidade de dar e receber, de amar e ser amados.
É o Espírito quem nos ensina a permanecer atentos a tudo o que é bom e simples, com uma atenção dedicadamente fraterna a quem sofre por causa da falta de alegria de viver.
É o Espírito quem nos faz renascer cada dia e, apesar do cansaço diário e do pecado, renova em nós a novidade do começo.
O Espírito é a vida de Deus que se nos oferece como dom. O homem mais rico, mais poderoso e mais satisfeito, sem a vida que o Espírito confere é um homem pobre e desgraçado.
Este Espírito não se compra, não se adquire, não se inventa, não se fabrica. É uma dádiva que Deus dá. A nós só nos resta uma única atitude: preparar e acomodar o coração com uma fé simples e atenção interior para O acolher!

Chama nº 672 ­ - 11 Maio ‘08

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