sábado, 5 de dezembro de 2009

Um voz clama no deserto

João Baptista é estímulo para cada um de nós e modelo de fiel para toda a Igreja. Preparando o Natal aprendamos dele a receber verdadeiramente a Palavra de Deus, a experimentar a conversão, a viver com simplicidade e coerência, a ser testemunhas valentes do Evangelho.
No Advento, todos os anos, no segundo Domingo, o Evangelho apresenta-nos a figura de João Baptista, pois foi ele quem possibilitou que Deus levasse por diante e a bom termo as suas promessas.
São Lucas, começa por precisar a data histórica do início da pregação do Baptista, bem como elencar os respectivos chefes políticos e religiosos, indicando assim que João é um verdadeiro profeta.
Profeta não é aquele prevê o futuro, mas sim quem sabe interpretar a História desde a perspectiva de Deus.
O profeta geralmente não enfrenta a sociedade civil, mas sim a sociedade religiosa. O profeta exorta a sociedade religiosa a uma mudança de mentalidade e de comportamento. Só a partir de uma profunda transformação é que todos poderão ver a salvação de Deus.
Um autor antigo, Flávio Josefo, mais ou menos contemporâneo da primitiva Igreja, faz referência ao Baptista, e apresenta-o como um homem de bem que exortava os judeus a serem bons entre si e piedosos em relação ao seu Deus. O seu gesto distintivo era o baptismo, que consista numa purificação do corpo, depois da alma ter sido purificada previamente através da prática das virtudes, tendo a sua pregação atraído a atenção de muitos, de tal modo que, inclusive, Herodes, temendo uma rebelião do povo, se apressou a dar-lhe a morte.
E se o testemunho de Flávio Josefo é importante na medida em que é uma referência ao Baptista extra-bíblica, no entanto desfigura o carácter da sua mensagem, apresentando-o como um pregador moralista e inofensivo, enquanto os relatos evangélicos parecem ser muito mais fidedignos ao precisar que João não expõe uma moral mais ou menos estóica, mas sim que anuncia o juízo de Deus sobre os homens (judeus e pagãos)
Parece que João falava da vinda iminente de Deus: Já não há tempo de escapar, ninguém pode refugiar-se em privilégios mais ou menos herdados. É preciso que todos se convertam e recebam o baptismo como sinal do perdão dos pecados. Só quem agir consoante esse modo poderá livrar-se da ira (do castigo) que se avizinha.
João Baptista, o filho de Zacarias e Isabel, possivelmente depois de ter pertencido ao movimento religioso de “Qun Rân”, resolve cortar com o o passado e iniciar uma nova etapa na sua vida.
Vai para o deserto, certamente recordando os tem em que os seus antepassados pelo mesmo vagueavam antes de entrarem na Terra Prometida, qual etapa de purgação e purificação, começa a preparar o povo para a vinda do Messias.
Como mote da sua pregação retoma o oráculo de Isaías: “Uma voz clama no deserto: “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas: sejam alteados todos os vales e abatidos todos os montes; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus’”.
A um povo que se sentia oprimido e abandonado, estas palavras caíram como em terra fecunda, e muitos sentiram-se interpelados por este convite, submetendo-se ao rito do baptismo, como sinal do recomeço de uma nova vida.
Hoje, também, a Igreja necessita de profetas, de profetas verdadeiros. O Baptista intitula-se “a voz que clama no deserto”, porque ele bem sabia que Jesus era a “Palavra”, como escreve no Prólogo o evangelista São João. Nos dias que correm há muitas pessoas que sob o pretexto de serem “profetas” se apresentam como a “palavra”, oferecendo soluções e remédio para todas as maleitas. E muitos correm atrás deles, quando de facto, o que realmente é necessário, é que continuemos a “Preparar os caminhos do Senhor”, a aplanar os vales das desigualdades, a abater as montanhas das injustiças, e a endireitar as nossas tortuosas vidas.
João Baptista é estímulo para cada um de nós e modelo de fiel para toda a Igreja. Preparando o Natal aprendamos dele a receber verdadeiramente a Palavra de Deus, a experimentar a conversão, a viver com simplicidade e coerência, a ser testemunhas valentes do Evangelho.
Chama Viva do Carmo I 731 I 06 Dezembro '09

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