sábado, 16 de julho de 2011

MÃE E RAINHA

Alguns  cristãos que participaram nas Cruzadas do Oriente, depois terem colaborado na reconquista da Terra Santa, e dos Lugares Santos, quiseram abraçar um novo estilo de vida, procurando imitar o Profeta Elias.
Solicitaram a Santo Alberto, Patriarca  Latino de Jerusalém, uma regra de vida, de acordo com os seus ideais. Atendido o seu pedido, eles mesmos se intitularam “Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo”, escolhendo Maria como Mãe e Rainha.


Chegamos ao Domingo de Nossa Senhora do Carmo!
Celebrar Nossa Senhora do Carmo é um convite a contemplar as nossas origens, como há mais de quatro séculos exortava Teresa de Jesus a fazê-lo às suas irmãs religiosas.
Todos nós temos um certo carinho pelo local em que nascemos, pela nossa terra. Mesmo que há muito a tenhamos deixado ela tem sempre para nós um sabor especial, pois foi aí que bebemos o primeiro leite, foi aí que fizemos as primeiras amizades, foi aí que pela primeira vez contemplámos o sol e a natureza.
Por isso, não é de admirar, que desde sempre  os cristãos  tenham tido, pela   Terra Santa, um carinho especial, aliás sentimento idêntico ao que os judeus nutriam em relação a Jerusalém.
Muitos cristão rumavam àquelas paragens para percorrer os mesmos caminhos que Jesus tinha palmilhado, visitar os locais onde se realizaram os seus milagres, mas sobretudo, os Lugares Santos de Jerusalém intimamente ligados ao Mistério Pascal. Uns peregrinavam à Terra Santa por pura devoção, enquanto outros aí se dirigiam 
para cumprir as penas impostas no sacramento da penitência, quando graves eram os seus pecados! No entanto, todos os que peregrinavam a Jerusalém eram chamados “Palmeiros”, porque, durante a viagem, levavam, como distintivo, uma palma na mão.
Não admira, pois, que a Europa cristã entrasse em choque quando a  Terra Santa foi ocupada pelos Turcos Seljúdiças, vedando o caminho aos peregrinos cristãos. Papa, imperadores, reis e bispos apelaram à Cruzada Santa, para reconquistar os queridos Lugares Santos. Muitos foram os que se alistaram, uns, quais mercenários, procurando repartir os “despojos”, outros movidos pela fé mais genuína.
Entre estes devemos incluir aqueles cruzados que estiveram na origem da Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Terão certamente lamentado os atropelos que muitos colegas terão cometido, e sei lá, talvez, para reparar os males causados, decidiram dar início a uma piedosa e penitente forma de vida.
Retiraram-se para o bíblico Monte Carmelo, o “Jardim” ou “Vinha do Senhor”, onde Elias  venceu os idólatras de Baal, e procurando imitá-lo deram início a uma nova forma de vida consagrada. Para melhor alcançar os seus intentos pediram ao Patriarca Latino de Jerusalém, Alberto Avogrado, uma regra de vida, diferente daquelas que já se viviam no Ocidente, especialmente a de São Bento de Núrsia.
O Santo Patriarca acedeu ao pedido daqueles eremitas, e poderíamos a resumir a Regra do Carmo a “meditar dia a noite a lei do Senhor”.
Além disso a Regra preconizava: “O oratório, conforme for mais fácil, construa-se no meio das celas e aí vos devereis reunir todos os dias pela manhã para participar na celebração eucarística, quando as circunstâncias o permitam”.  
Por estranho que pareça na Regra de Santo Alberto não há qualquer referência a Nossa Senhora!
No entanto, quando os eremitas do Monte Carmelo construíram o oratório que  se situava no centro das celas, dedicaram-no a Nossa Senhora do Monte Carmelo, e a partir de então começaram a intitular-se “Irmãos  da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo”.
Os Carmelitas intitularam-n’A Irmã, mas acolheram-n’A como Mãe,  a quem pretendiam amar e imitar, mas também acorrer nos momentos mais difíceis, alguém com quem sempre pudessem contar. 
Contudo, também a intitularam Rainha, como muitas vezes podemos constatar na iconografia, mormente no Oriente, onde  ela está sentada no seu trono, e reflectindo-se igualmente nas invocações carmelitanas: “Rainha e Formosura do Carmelo”, “Rainha dos Mares”, etc.
Honremos Nossa Senhora do Carmo como Rainha e Ela proteger-nos-á como Mãe!
Foi isso mesmo que ela prometeu a São Simão Stock, quando em Aylesford, Inglaterra, lhe entregou o Escapulário no ano de 1251.

Chama nº 805 | 17 Julho ‘11

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