sábado, 2 de julho de 2011

PALAVRAS DE ESPERANÇA

O escritor e pensador francês George Bernanos diz que a Igreja tem o monopólio da alegria. 
Nos tempos que nos toca viver no presente, em que a situação de crise nos ataca por todos os lados, crise não só económica e financeira, mas também, e sobretudo, uma crise de valores éticos e religiosos, a mensagem do Documento Conciliar “Gaudium et Spes” [Alegria e Esperança] é mais do que necessária e oportuna
Já se encontra entre nós há mais de um mês! Alguns já o conhecem, quer pela celebração do Sacramento da Reconciliação ou da presidência da Eucaristia, e outros de encontros mais personalizados.
Estamos a referir-nos ao Sr. Padre Fernando Reis, o novo superior da Comunidade de Aveiro.
Para que as suas palavras pudessem chegar a todos, sugeri-lhe que escrevesse  um pequeno artigo para a “Chama Viva”. Aceitou o desafio e aqui deixamos o texto:
“Gaudium et Spes, ou em linguagem portuguesa ‘Alegria e Esperança’ é o quarto de muitos documentos promulgados pelo Concílio Vaticano II com o título oficial “Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo actual”. Estamos a falar do século XX, naquele espaço de tempo entre 1959-1965.
O mundo, a sociedade e a história tem altos e baixos, alegrias e tristezas, épocas de conforto e bem-estar, mas também épocas de profunda crise. E o Concílio Vaticano II não quis apenas falar de aspectos doutrinais e teológicos, mas ser um marco de luz e de esperança para o mundo, atormentado com tantas tragédias, fome, pobreza e guerra. Então os Padres Sinodais quiseram vincar também os aspectos pastorais da Igreja e estar bem mais perto dos homens, partilhar as suas angústias e inquietações, mostrando-se mais solidários com eles. É que o nome de Deus é ‘Emmanuel’ que quer dizer ‘Deus connosco’. Ele está no meio de nós; é um Deus que partilha, que vive a nossa condição humana e sofre connosco. E os responsáveis da Igreja tomaram consciência que esta não deveria mais estar afastada do mundo, de costas voltadas para o mundo, mas estar aberta ao mundo, sofrer com os problemas do mundo, sendo solidária, vencendo os medos, os temores e a ‘fuga mundi’. A Igreja, guiada e iluminada pelo Espírito, conseguiu dar a volta e ser cada vez mais Mãe e Mestra para este mundo. Daí a razão deste Documento do Vaticano II ser intitulado ‘Alegria e Esperança’. A Igreja quis e quer ser porta-voz desta mensagem. 
O escritor e pensador francês George Bernanos diz que a Igreja tem o monopólio da alegria. O mundo não resolve verdadeiramente os problemas do homem.
E nos tempos que nos toca viver no presente, em que a situação de crise nos ataca por todos os lados, crise não só económica e financeira, mas também, e sobretudo, uma crise de valores éticos e religiosos, a mensagem deste Documento ‘Alegria e Esperança’ é mais do que necessária e oportuna, pois as pessoas já vivem na descrença e na desconfiança no referente às instituições e em que se diz que Portugal bateu no fundo.
A voz da Igreja não deve de ser de pessimismo nem de derrotismo, mas uma voz que clama Esperança, pois das cinzas ainda é possível fazer reavivar a chama da Vida.
O Concílio Vaticano II deixou à Igreja e ao mundo cristão um espírito novo, um humanismo novo, uma nova esperança e uma nova visão, histórica e transcendente, do mundo em que vivemos. Se todos os Concílios, depois de terminados, continuam ressoando na história, este Vaticano II está chamado a exercer uma influência profunda dentro da Igreja e fora dela. Nunca, na história dos Concílios, se acendeu e projectou um raio de luz que se possa comparar a este, pois a Igreja tomou consciência sobre si mesma e sobre a sua missão mediadora. 
Que este boletim nos faça compreender que ‘tristezas não pagam dívidas’ e que um ‘santo triste é um triste santo’.
Por isso, é hora de todos dizermos ‘corações ao alto’ e de todos respondermos ‘o nosso coração está em Deus’.”
(Pe. António Fernando Sá dos Reis)

Chama n.º 803 | 03 Julho ‘11

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