sábado, 22 de novembro de 2008

Ovelhas e Cabritos

No "Juízo Final" seremos incluídos no grupo dos mansos, como as ovelhas, ou no grupo dos rebeldes, como os cabritos? Seremos convidados a receber o "reino, prometido desde o princípio do mundo" ou seremos chamados "malditos", com a respectiva condenação?

Chegamos ao último Domingo deste Ciclo Lítúrgico, e assim celebramos a Solenidade de Jesus Cristo Rei e Senhor do Universo. O trecho do Evangelho que hoje nos é oferecido é geralmente conhecido como o "Juízo Universal" ao qual todos temos de comparecer, pois para o mesmo todos seremos citados.
Quando falamos de "Juízo Final", todos nós nos assustamos um pouco, pois ninguém, de boa fé, gosta de andar num tribunal, mas São Mateus apresenta-nos o Rei-Juiz, como um pastor, que aparta as ovelhas dos cabritos, colocando à sua direita as ovelhas, e à sua esquerda os cabritos, como faziam à noite os pastores em Israel, separando as indefesas ovelhas dos irriquietos cabritos!
No entanto, o Evangelho de hoje, fala-nos sobretudo do encontro de Jesus com aqueles que não O conheceram, que pelas razões mais diversas, nunca antes se tinham encontrado com Ele; fala-nos, sobretudo, de como serão julgados por Deus aqueles que nunca ouviram falar d’Ele! Jesus perguntará ao que não O conhecem como trataram os seus irmãos. Aceitá-los-á ou não tendo em conta a maneira como trataram o seu próximo, segundo se tenham ou não preocupado em aliviar os seus sofrimentos.
A única lei que Jesus aplicará é a "Lei do Amor", comum aos homens de todos os tempos e lugares, pois é uma lei natural inscrita no coração de cada homem.



Àqueles que já conhecem Jesus, que são baptizados e se confessam cristãos, Ele perguntará qual o fruto que produziram, perguntar-lhes-á como puseram os talentos recebidos a render, como nos recordava o Evangelho do Domingo passado.
A esse propósito ocorre-me recordar uma parábola, que se intitula: "A parábola dos ateus ‘cristãos’ e dos cristãos ‘ateus’!".
A mesma diz que cristãos ‘ateus’ são aqueles se confessam crentes, que dizem adorar Jesus Cristo e que aceitam como verdades inquestionáveis tudo o que a Igreja lhes propõe, mas na sua maneira de viver são "ateus" de Jesus Cristo, porque vivem para si mesmos, porque fogem do serviço e do amor efectivo, o verdadeiro distintivo do cristão. Os denominados cristãos ‘ateus’, são assim chamados porque não fazem de Jesus Cristo rei das suas vidas e do mundo, pelo contrário atrasam a chegado do Reino com o seu comportamento em contradição com o Evangelho de Jesus.
Por sua vez os ateus ‘cristãos’ são os que se
confesssam ateus, agnósticos, não cristãos e inclusive não crentes, mas na sua vida quotidiana servem os demais, estão juntos dos pobres sem os identificar com Jesus Cristo a quem ainda não descobriram (talvez por nossa culpa, ou pela contradição que há entre a nossa fé e as nossas vidas), trabalhando por estabelecer no mundo a justiça, por libertá-lo de todas as escravidões, por aliviar as suas penas e tristezas. Estes ‘ateus’, sem o saberem, seguem a Cristo, o Bom Pastor, e no juízo final, serão chamados "benditos de meu Pai".
Naturalmente que para nós cristãos, (pressupondo que não nos queremos integrar no grupo dos cristãos ‘ateus’), o objecto do exame final não serão os ritos litúrgicos, nem os actos exteriores, nem a doutrina fielmente expressa. As perguntas que nos farão, ou melhor as constações, serão tão simples e lineares: como alimentámos os pobres, visitamos os doentes, libertámos os oprimidos, vivemos a solidariedade, como servimos? Enfim o mesmo que São João da Cruz resumiu tão magistral e profundamente no dito: "Ao cair da tarde serás examinado no amor!"
E ao fim da nossa reflexão unicamente nos cabe perguntar: Somos cristãos discípulos autênticos de Cristo ou somos cristãos ‘ateus’? No Juízo Final seremos incluídos no grupo dos mansos, como as ovelhas, ou no grupo dos rebeldes, como os cabritos? Seremos convidados a receber o "reino, prometido desde o princípio do mundo" ou seremos chamados "malditos", com a respectiva condenação?
Não sabemos a resposta, mas somos nós que a escolhemos!

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