sábado, 21 de novembro de 2009

REI DA VERDADE


Hoje, como, aliás, ao longo da História os reis deste mundo, e todos os que detêm o poder, têm muito a aprender de Cristo. D’Ele deveriam aprender a servir, e a governar em verdade, mas, infelizmente, constatamos que tantos chefes de estado continuam a comportar-se como verdadeiros déspotas, e em vez de alimentar a verdade, vivem da e na mentira.

Celebramos neste Domingo a Solenidade de Cristo, Rei do Universo, instaurada pelo Papa Pio XI no ano de 1925 como consequência lógica das solenidades das festas do Corpo de Deus e do Sagrado Coração de Jesus, com o fim de remediar os problemas que afligiam o mundo, respondendo desta maneira aos regimes políticos ateus e totalitários que negavam os direitos de Deus e da Igreja. O Papa pensava que a criação duma solenidade podia ser mais capaz de produzir frutos duradouros do que a simples promulgação dum documento, mesmo que fosse uma encíclica.
Desde que esta Solenidade foi instituída até à Reforma Litúrgica do Concílio Vaticano II a mesma era celebrada no último Domingo de Outubro, situando-se assim entre o Dia Mundial das Missões, igualmente instituído por Pio XI, e a Solenidade de Todos os Santos, tornando-se evidente que o tema de Cristo Rei pretendia reafirmar a presença da Igreja em toda a humanidade; a pregação da fé por todo o mundo preparava esse “reino”, sendo a glorificação dos Santos o seu cume.
Tudo isso se compreende se tivermos em conta que o papa estava “prisioneiro” no castelo de Santo Ângelo, em consequência da questão dos Estados Pontifícios. Por isso não admira que os temas da pregação fossem profundamente saudositas, e assim se ia
alimentando, uma vaga esperança de restaurar a cristandade, o que só é compreensível à luz dos factos históricos. Com a reforma litúrgica do papa Paulo VI, em 1970, foi colocada no fim do ano litúrgico, surgindo a solenidade de Cristo Rei como síntese dos mistérios de Cristo comemorados no curso do ano, como o vértice em que resplandece com mais intensidade a luz da figura do Jesus Cristo, Senhor e Salvador de todas as coisas.
O trecho do Evangelho que neste ciclo litúrgico nos é proposto leva-nos até ao interior do Pretório, onde Pilatos interroga Jesus. Encontramos um Pilatos interessado, mas também perturbado, pela pessoa de Jesus, procurando saber quem é Ele realmente, como se depreende da pergunta um tanto irónica: “És o Rei dos Judeus?”, à Jesus, decifrando uma certa inquietação que Pilatos não consegue disfarçar, lhe responde com uma pergunta: “Dizes isso por ti mesmo, ou outros to disseram de Mim?”.
Mas Jesus não já não quer esconder a sua verdadeira condição: “Tu o dizes: Sou Rei!”.
Certamente Pilatos sentiu calafrios, porque Jesus apesar da sua aparência de um farrapo, tudo poderia ser possível.No entanto, antes que o seu interlocutor confundisse as coisas, Jesus procura acalmá-lo, dizendo que a sua realeza não é de ordem temporal ou de ordem nacional, mas sim de ordem espiritual.
Enquanto autoridade espiritual Jesus é Rei, e essa autoridade somente pertence a Deus, pois não vem deste mundia, foi-Lhe conferida pelo Pai. Por conseguinte Jesus é Rei, não tanto no sentido político da palavra, como Pilatos poderia ter compreendido, quando lhe retorquiu: “Então Tu és Rei”.
É Então que Jesus esclarece: “Sou Rei; para isso nasci e vim ao mundo para dar testemunho a verdade”.
Talvez este último pormenor tenha escapado tantas vezes aos que governam a Igreja e aos cristãos! O Reino de Deus nada tem a ver com os reinos deste mundo, e os reis deste mundo pouco ou nada têm a ver com o Reino de Deus. Infelizmente, ao longo de muitos séculos a Igreja comportou-se como os reinos terrenos, confundindo o poder espiritual com o poder temporal, querendo ombrear em forças com os fortes deste mundo. Como estava estão distante da maneira de agir e de se comportar como o Mestre…
Mas hoje, como, aliás, ao longo da História também os reis deste mundo, e todos os que detêm o poder, têm muito a aprender de Cristo. D’Ele deveriam aprender a servir, e a governar em verdade, mas, infelizmente, constatamos que tantos chefes de estado continuam a comportar-se como verdadeiros déspotas, e em vez de alimentar a verdade, vivem na e da mentira.
Os “folhetins” não terminam, e verficamos que aqueles que deveriam ser modelos para o comum dos cidadãos, e para quem foram, ou são tão exigentes, no fundo tornaram-se em verdadeiros devoradores “das casas das viúvas” a qualquer pretexto.

nº 729 I 22 Novembro ‘09

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