sábado, 6 de março de 2010

A PARÁBOLA DA FIGUEIRA


No trecho do Evangelho deste Domingo Jesus conta-nos a parábola da figueira. O dono, durante vários anos, no Verão, ia à procura dos frutos e encontrando-a reiteradamente estéril, pretende arrancá-la. Não o faz porque intervém suplicante o vinhateiro que se oferece para a tratar cuidadosamente. Nós, tantas vezes somos como essa figueira que não dá frutos. Só deixaremos de ser estéreis quando verdadeiramente nos convertermos ao Senhor.

Frequentemente ouve-se dizer que a Quaresma é um tempo de conversão, tempo de reflexão, tempo de propósitos.
Se por um lado isso é evidente, convém, no entanto, não esquecer, que a conversão passa por nós mesmos, pelo que devemos rever a nossa vida, e cheguemos à profunda convicção de que sou “eu”, e não os outros, quem tem necessidade de converter-se.
O trecho do Evangelho situa-se dentro da narração da viagem para Jerusalém, isto é, do caminho de Jesus e de todos os que querem ser seus discípulos, e ressalta esta necessidade pessoal de conversão.
Jesus é informado do assassinato de uns galileus, quando ofereciam sacrifícios, pelos soldados romanos, executando ordens de Pilatos. Existia então, a convicção generalizada de que determinadas desgraças pessoais eram consequência de um pecado precedente. Tendo presente este modo de pensar Jesus faz-lhes a seguinte pergunta: “Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus?”. E o próprio Jesus acrescenta um segundo acontecimento: recorda-lhes os mortos causados pela derrocada da torre de Siloé, em Jerusalém. Quer num “acidente” político quer num acidente laboral, as vítimas não eram piores do que os seus interlocutores, que, como nós,

estavam convencidíssimos de que “os outros é que são maus!”. É por isso que tantasvezes, consciente, ou inconscientemente, pensamos que não temos necessidade de mudança, de conversão, mas são os outros que devem mudar.
Então Jesus continua a instruir os seus discípulos sobre a necessidade da conversão pondo diante dos seus olhos a atitude do dono de uma figueira que durante vários anos, no Verão, vai à procura dos frutos e encontrando-a reiteradamente estéril, pretende arrancá-la. Não o faz porque intervém suplicante o vinhateiro que se oferece para a tratar cuidadosamente, e assim a salva conservando-a por mais algum tempo.
Deus quer que demos fruto, que o seu amor frutifique em nós e não se contenta com respostas hipócritas. Mas, ao mesmo tempo, Deus nunca perde a esperança, espera sempre que nos abramos à sua chamada e assim daremos fruto de vida. Deus espera que confiemos mais no seu amor e que não nos atormentemos com o nosso pecado. Não tenhamos medo hoje de reflectir no que exige de cada um de nós esta chamada à conversão. Converter-se é não ficar estéril, seco e morto, é libertar-nos do mal que há em nós para nos abrirmos à vida de Deus; de Deus que nos espera no caminho quotidiano de cada um. E o fruto, que devemos produzir, segundo as palavras de Jesus são o amor, lutar pela justiça, a fé, aprender a viver como filhos do Pai que é bom.
Todos os dias Deus vem ao nosso encontro procurando os frutos da nossa vida, aproxima-se no velhinho, no órfão, no que carece de alegria e de esperança; abeira-se de nós no que sofre para encontrar o lenitivo na dor e possivelmente no que goza para encontrar autêntico sentido para a sua alegria. Deus aproximar-se-á a nós e esperará pacientemente, podemos ter a certeza, que respondamos com o tom com que Ele espera que o façamos.
“Este é o tempo da conversão; este é o tempo é o tempo da renovação”, pois, por estranho que nos pareça, Deus continua, a interpelar-nos. Devemos afastar de nós o modo de pensar dos judeus, que viam nas catástrofes o castigo Divino. Deus é como o vinhateiro que com trabalho amoroso trata da figueira, esforçando-se por tratá-la amorosamente para que dê fruto. Mas, perante as catástrofes naturais que ultimamente se têm abatido sobre a terra, como o sismo no Haiti, com cerca de meio milhão de mortos, as chuvas e deslizamentos de terras na Madeira, o violento tremor de terra no Chile, com algumas centenas de mortos e milhões de desalojados, a tragédia recente dos Açores, ou o vendaval ou tempestade Xynthia, que devastou a Europa, provocando mais de mais de meia centena de mortos, ou ainda outras catástrofes recentes, causando muito danos materiais no nosso país, já para não lembrar outras, que um pouco têm acontecido, um pouco por todo o mundo.
Naturalmente que não devemos ver isso como um castigo de Deus, pois Deus é Amor, mas sim como um apelo de Deus a meditar no sentido da nossa vida.

nº 744 I 07 Março ‘10

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