sábado, 10 de abril de 2010

TOMÉ, O ESPÍRITO E A MISSÃO


Antes da Ressurreição nunca Jesus infundira o Espírito Santo nos Apóstolos. Fá-lo no Dia de Páscoa para os enviar em missão. Também nós, os crentes, sob a orientação dos sucessores dos Apóstolos, somos convidados a continuar essa missão, ou seja trabalhar por um Mundo Novo.

Todos os anos, no Segundo Domingo de Páscoa, lemos um trecho do evangelho de São João, que nos narra a aparição de Jesus Ressuscitado aos seus discípulos. No entanto, aquilo que mais facilmente retemos na nossa mente é o episódio de Tomé; para além desse pequeno pormenor, o que devemos reter deste trecho do Evangelho, é proeminência do “primeiro dia da semana”, o Domingo.
No primeiro Domingo de Páscoa (e “Domingo” quer dizer Dia do Senhor, “Dies Domini”, em latim) é o dia da manifestação do Ressuscitado, primeiro às mulheres, depois aos Discípulos. A primeira preocupação do Senhor foi reunir os discípulos depois do escândalo da Cruz.
No Domingo seguinte, no primeiro dia da semana, ou seja, hoje, o Ressuscitado novamente reúne os discípulos para os confirmar na fé. Assim, Jesus diz-nos que o seu dia é o Domingo porque escolhera esse dia para estar com os seus Discípulos. Mas no Domingo também celebramos o nosso encontro com os irmãos: é aqui onde pela fé e pela Eucaristia nos encontramos com o Senhor.
Quer numa quer na outra aparição o Ressuscitado, saúda os seus Discípulos dizendo: “A paz esteja convosco”, mas o primeiro gesto, que fez foi soprar sobre eles, dizendo: “Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhe-ão retidos”.
Antes da Ressurreição, nunca Jesus tinha derramado ou infundido nos Discípulos o Espírito Santo. Na tarde daquele primeiro Domingo de Páscoa, Jesus ressuscitado ao soprar sobre os Apóstolos, está a levar a cabo uma nova criação, como outrora fizera na criação de Adão.
O Espírito é o alento da nova criação; o Espírito é a força que recebem os Apóstolos que os transforma em homens novos, que lutam contra o mal, libertadores do pecado, para ir formando no mundo a nova criação.
Na História da Salvação, quem recebe um dom é porque se lhe confia uma missão. Não pode haver um dom em vão. A doação do Espírito por parte do Ressuscitado inclui a missão, como sucede também no final dos três evangelhos: “Como o Pai Me enviou assim também Eu vos envio “. Os discípulos são enviados a prosseguir a missão do Filho de Deus, morto e ressuscitado, missão que Este recebeu do Pai. O Espírito tornará efectiva esta missão para destruir o reino do pecado e da morte, destruindo o pecado, fazendo uma nova criação, na que persista a “paz” para sempre, a “paz” que é um dom messiânico por excelência e que o Ressuscitado comunica também hoje, a seus discípulos.
Nós, todos os crentes, sob a orientação dos sucessores dos Apóstolos, somos convidados a continuar essa missão.
No entanto, nem sempre é fácil essa missão de facto um dos discípulos de Jesus, Tomé, que tinha o cognome de o “Gémeo”, que um dia declarando o seu amor ao Mestre, desafiou os companheiros dizendo: “Vamos nós também para morrer Ele”, apresenta-se como o mais renitente a acreditar na Ressurreição de Jesus.
Quando em dia de Páscoa, Jesus aparecera aos Discípulos, que estavam com as portas fechadas (a sete chaves) com medo dos Judeus, temendo eventualmente igual sorte, ou evitando ser vítimas de chacota, Tomé não estava presente.
Quando se reuniu ao grupo, como é natural, os companheiros, transmitiram-lhe as notícias mais importantes. E, como seria de esperar, a primeira tinha de ser a da aparição de Jesus Ressuscitado. A quem tinha sido testemunha de tantos milagres, podia acreditar em mais um... mas Jesus, ele tinha-o visto, tinha morrido! Já não havia lugar a mais milagres, e Tomé põe as suas condições: “Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei”.
Não foi preciso, pois oito dias depois, quando Jesus aparece novamente, o primeiro convite que faz a Tomé é fazer o que antes tinha exigido, e o que ele recusa, proferindo a bela mensagem de fé: “Meu Senhor e meu Deus!”
Embora tantas vezes sejamos tentados a reagir como Tomé, disponhamo-nos a aceitar a missão que o Senhor nos confia!

nº 749 I 11 Abril ‘10

Sem comentários: