sábado, 17 de abril de 2010

TU SABES, SENHOR, QUE TE AMO!


Pedro amava profundamente Jesus. Num momento de fracasso, e de desânimo, negou três vezes o Amigo. Quando tomou consciência do que fizera, bastou um olhar de Jesus, para que ele derramasse copiosas lágrimas.
Também Jesus exigiu que Pedro Lhe confessasse por três vezes o seu amor, e ele, entristecido, disse: “Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo”.

Já o dissemos, mais de uma vez que, foi terrível para os Apóstolos enfrentarem e conviverem com o drama da Paixão e da morte de Jesus no alto do Calvário. Até aqui achamos que tudo é natural, pois há sempre uma mágoa profunda quando perdemos um amigo, e o tormento torna-se maior, quando do amigo esperávamos uma bela recompensa material. (Mais de uma vez os evangelhos nos apresentam os discípulos altercando entre si, sobre qual deles seria o maior.)
No entanto, torna-se menos compreensível perceber como os discípulos, e os amigos, de Jesus têm tantas dificuldades em aceitar a Ressurreição de Jesus, principalmente, porque ele mais de uma vez anunciara-lhes qual era a sua missão; tinha-lhes dito que o “Filho do Homem”, iria ser rejeitado pelos príncipes dos sacerdotes, que havia de sofrer muito, que seria escarnecido, e que iria ser morto às mãos dos homens… mas passado três dias ressuscitaria!
E, embora, Jesus tenha aparecido por diversas vezes, aos seus amigos mais íntimos, mas também aos doze, ficamos um pouco desconcertados com o Evangelho de hoje. É verdade que os apóstolos eram galileus, e que nada justificaria a sua permanência em Jerusalém, mas pelo menos seria de esperar que regressassem à Galileu e aí prosseguissem
as pisadas do Mestre. O regresso era inevitável, até por medo dos judeus, mas contrariando toda a lógica, os Apóstolos regressaram ao seu antigo trabalho. Eram pescadores e voltaram a pescar.
Agora encontram-se no lago de Tiberíades, e procuram adaptar-se aos antigos misteres (foram cerca de três anos sem exercer a arte, embora tenham cruzado o lago em muitos ocasiões oferendo “boleia” ao Mestre). De novo devem aperfeiçoar a arte, e, como tantas outras vezes, acontecera, tentaram, infrutuosamente, encher as redes de peixes. Toda a noite labutando e nada tinham pescado. De repente, um homem desde a margem diz-lhes: “Lançai as redes para a direita do barco e encontrareis”, e as redes enchem-se de peixes.
Os Apóstolos ficaram assombrados mas só um encontra a resposta para o sucedido. O discípulo Amado grita para Pedro: “É o Senhor!”. E Pedro, decido como de costume, lançou-se ao mar para se encontrar com o Mestre.
Há algo de especial em João que o faz descobrir a presença do Senhor nos acontecimentos. É possível que fosse esse amor de predilecção que nutria por Jesus, e que ele tanto sublinha e enfatiza no Evangelho que leva o seu nome.
João é protótipo e paradigma do discípulo de Jesus. Possui um “sexto sentido” que, guiado pelo Espírito, o leva a reconhecer Jesus em tantas situações da vida.
Aceitar o Espírito é entrar em cheio na dinâmica do risco porque é, nem mais nem menos, que viver a sério a fé, não como um dourado e calculado compromisso; é apostar na paixão radical por Cristo e pelo homem.
É importante para um cristão encontrar-se com Jesus na própria vida. Se não o fazemos corremos o risco de estar na faina “toda a noite” (a vida inteira) e não conseguir nada; corremos o perigo de correr muito, de estar bem preparados, de competir activamente..., mas ter as redes vazias; vazias de dedicação efectiva ao irmão; vazias de alegria no cumprimento dos nossos deveres.
Ser cristão não consiste em fazer coisas distintas, mas em fazer as coisas que todos fazem, mas com um estilo diferente, o estilo de quem é capaz de encontrar-se com o Senhor no trabalho, na amizade, na família, na diversão, no esforço, na alegria, na dor; em resumo: na vida, com toda a riqueza que a vida leva em si.
Foi certamente isso o que descobriu Pedro após aquele diálogo, a sós com o Mestre. Pedro não tinha aquele “sexto sentido” de João, mas amava profundamente Jesus. Num momento de fracasso, e de desânimo, negou três vezes o amigo, mas quando tomou consciência do que fizera, bastou um olhar de Jesus, quando saía do Pretório, com sentença já exarada, para ele derramar copiosas lágrimas.
Também Jesus exigiu que Pedro Lhe confessasse o seu amor, e ele, entristecido, disse: “Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo”.

nº 750 I 18 Abril ‘10

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