domingo, 15 de junho de 2008

A MESSE É GRANDE

ANUNCIAR E COMPROMETER-SE COM O REINO DOS CÉUS INTRODUZ-NOS CADA VEZ MAIS NA DOR DA HUMANIDADE. QUANTO MAIS INTENSAMENTE SE AMA, TANTO MAIS SE SENTE NA PRÓPRIA CARNE AS INJUSTIÇAS E SOFRIMENTOS DOS HOMENS.
Há dias ouvíamos um desabafo de alguém que dizia que, nos próximos anos Portugal teria de importar trabalhadores qualificados da construção civil para as grandes obras que se estavam a lançar, ou em vias de lançamento, como seja o novo pacote de auto-estradas, e das novas barragens (e nem sequer foram referidas as empreitadas do comboio de alta velocidade), porque nos últimos anos houve uma deslocação maciça de operários da construção civil, para Espanha, e que os mesmos não estariam dispostos a regressar tendo em conta a disparidade de salários entre os dois países! Parece que temos "messe", mas poucos trabalhadores!
Talvez isto nos ajude a penetrar no âmago do Evangelho deste Domingo. Caminhava Jesus, anunciando o Reino. Quando uma grande multidão O acompanhava, e ao ver a multidão "encheu-se de compaixão, porque andavam fatigadas e abatidas , como ovelhas sem pastor", e então disse aos seus discípulos: "a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; pedi ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara".
Quando uma obra surge é natural que falte tudo, como faltou à Igreja no seu início. Jesus tomou nos seus ombros a difícil tarefa de fundar a Igreja. Começou por anunciar a Boa Nova do reino, e muitos, desapontados como o judaísmo instalado e ritualista, aderiram aos seus ensinamentos e seguiam-No por todos os recantos da Galileia. Tudo estava no princípio, e por isso tudo faltava. Era necessário que Jesus tivesse mais colaboradores no anúncio da sua Mensagem, e Ele mesmo dirigindo-se aos seus discípulos, pede-lhes que rezem para que o dono da Seara envie mais trabalhadores...
Passados vinte séculos, as palavras do Mestre continuam actuais; de facto messe é cada vez maior e os trabalhadores cada menos.
Hoje a Igreja debate-se com uma terrível crise de vocações, e mais premente na Europa. As causas podem ser diversas:
Porque não rezamos suficientemente ao Senhor.
Porque os que deveriam chamar não o fazem ou fazem-no mal!
Porque os que poderiam responder fazem ouvidos moucos.
Porque a nossa vivência cristã nem entusiasma nem causa ilusão.
Porque os valores que a sociedade nos propõe são opostos ao do Evangelho, etc.
No entanto, seja qualquer que seja a razão é que hoje em muitas igrejas locais o problema vocacional é muito grave. Mas convém recordar que os operários provêm da mesma messe, ou seja, a messe não está madura até que não dê trabalhadores! Enquanto uma comunidade cristão não der frutos vocacionais, seja uma igreja local, seja mesmo a igreja doméstica, que é a família, deveria considerar-se território de missão!
Se hoje acusamos, com razão, a sociedade pela crise vocacional, também o devemos fazer às famílias. Hoje estamos a educar os jovens na idolatria pelo trabalho, pela produção e pelo êxito, e se para tal é necessário incentiva-los à perseverança, com os inerentes sacrifícios, esquecemos de lhes incutir os valores que
fazem o homem diferente de toda a criação: os ideais do altruísmo, abnegação e entrega aos irmãos.
Por isso não nos podemos lamentar depois chorando porque os jovens são frios, porque o nosso mundo está gelado!
Mas, apesar de tudo, temos de ter coragem de criar uma Igreja aberta e sem medo combatendo a apatia que invade tantos cristãos. Temos de continuar a obra do Mestre. Ele não pretendeu prescindir dos homens para levar a cabo a sua missão, e, por isso, chamou os doze Apóstolos, com nomes próprios, porque a Igreja não é uma massa anónima, mas sim um conjunto de homens e mulheres, com uma missão específica, missão essa que consiste em imitar Jesus Cristo, levando aos demais homens a mesma mensagem libertadora que ele mesmo transmitiu.
Jesus escolheu os doze e enviou-os em missão, dizendo-lhes: "Ide e proclamai que está perto o reino dos Céus: Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça". Lembrou-lhes, enfim, que em vez de exercer o seu ofício, o seu ministério sacerdotal, fariam melhor se se empenhassem em vivê-lo porque a paixão por Cristo só é contagiante quando cada um vive alegremente a sua fé, mesmo no meio da dor, porque quem gasta a sua vida no amor ganha a vida, ainda que fisicamente a possa perder.
Anunciar e comprometer-se com o reino dos céus introduz-nos cada vez mais na dor da humanidade. Quanto mais intensamente se ama, tanto mais se sente na própria carne as injustiças e os sofrimentos dos homens.
Hoje continuam a escassear operários na messe, mas Jesus continua a chamar, a apelar, a exortar a deixarmos o nosso comodismo, para que, com a nossa colaboração, possa prosseguir a sua missão.
Mas, afinal, qual é a nossa resposta?
Chama nº 677 ­ - 15 Junho ‘08

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