quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Tu és o meu filho muito amado

Idênticas palavras são dirigidas a cada um dos baptizados. Todos somos filhos queridos de Deus, ainda que tantas vezes nós não tomemos consciência dessa realidade.

A Igreja no Domingo depois da Epifania celebra a Festa do Baptismo do Senhor, encerrando assim o ciclo de Natal.
À primeira vista parece-nos uma festa deslocada do tempo de Natal, pois até aqui fomos convidados a fixarmo-nos na infância de Jesus, enquanto hoje contemplamos Jesus Cristo adulto, dando início à sua vida pública. Este é, pois, um domingo de transição já que sendo o domingo com que se encerra o ciclo natalício por outro lado é a porta que abre o Tempo Ordinário, pelo que não existe o Primeiro Domingo do Tempo Comum!
O Baptismo de Jesus é uma cena epifánica que atesta mais uma vez a divindade de Cristo. Neste sentido o Baptismo coroa o ciclo natalício: se o Natal é a manifestação de Jesus no ambiente humilde de Belém e a Epifania é a manifestação universal a todos os povos, o Baptismo é a primeira manifestação pública e absoluta em plenitude da divindade de Cristo. De facto poderíamos afirmar que propriamente, o Baptismo é o eco ou continuação da festa da Epifania, já que completa o seu sentido, com outra cena de tipo epifánico ou teofánico.
No Evangelho deste Domingo encontramos João a pregar, anunciando a chegada de alguém mais forte do que ele, e tão importante que o próprio Baptista se sente indigno de desatar as correias das suas sandálias. E como se não bastasse, enquanto João baptiza com água esse Alguém baptizará no Espírito Santo...
Dia após dia João repetia as mesmas palavras e praticava os mesmos rituais e, sem saber, quando ele acedeu baptizar um homem que tinha vindo da Galileia, e que pacientemente aguardara na fila de espera dos penitentes, acabara de realizar o que seu pai Zacarias anunciara: "E, tu menino, serás chamado profeta do Altíssimo". Sim, quando o homem vindo da Galileia saiu das águas do Jordão, rasgaram-se os céus, e o Espírito, como uma pomba, desceu sobre Jesus, e dos céus ouviu-se uma voz: "Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência".
João bem dizia que baptizava com água, e Jesus ao colocar-se na fila dos pecadores, que manifestavam o seu arrependimento e se predispunham a converter-se, é um sinal da encarnação de Deus entre os homens
Este é sem dúvida a maior "teofania" narrada nos evangelhos, já que Jesus é apresentado como o ungido pelo Espírito Santo e proclamado Filho de Deus, pela voz do Pai, desde o Céu, com um fundo trinitário: O Pai revela que Jesus é o seu Filho e unge-O com o dom do Espírito Santo, e partir de agora Jesus já pode iniciar e levar a bom termo a missão, que o Pai Lhe encomendou.
É verdade que o sentido do Baptismo que Jesus recebeu é distinto do Baptismo cristão. Foi o próprio Baptista que disse : "Eu baptizo-vos com água, mas Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo". O baptismo de João era um baptismo de conversão, o gesto do desejo de quem se queria converter. Por outro lado o nosso Baptismo é um sacramento real, que nos torna filhos de Deus e, que por acção do Espírito Santo, nos incorpora a Cristo, morto e ressuscitado. No entanto, o baptismo de Jesus prefigura o nosso, pois, assim como naquele momento o Pai testemunhou a filiação divina de Jesus, ungindo-O com o Espírito Santo, antes de dar início à sua missão, também nós no Baptismo somos consagrados filhos de Deus em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, e assim os cristãos sepultdos em Cristo, renascem para uma vida nova; ficam limpos de todo o pecado e convertem-se em filhos adoptivos, começando a formar parte de um povo sacerdotal que proclama ao mundo as maravilhas de Deus.
No Jordão, ouviu-se a voz do Pai: "Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência", e as mesmas palavras são dirigidas a cada um dos baptizados. Todos somos filhos queridos de Deus, ainda que tantas vezes nós não tomemos consciência dessa realidade.
Nesta Festa do Baptismo do Senhor, perguntemo-nos como temos vivido a nossa fé: o Pai também se alegra, se compraz, com o nosso modo de viver?

(Chama Viva do Carmo nº 695 - 11 JANEIRO ‘09)

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