sábado, 6 de junho de 2009

O ROSTO DE DEUS

A Liturgia deste Domingo da Santíssima Trindade convida-nos "ver" um Deus diferente; diferente da imagem de Deus oferecida por outras religiões, que também dizem adorar o Deus Único e Criador. A Trindade é Deus-Pai que está nos céus, é Deus-Palavra que se nos revela, é Deus-Espírito que continua no nosso interior a presença do nosso irmão Jesus Cristo e faz com que Deus seja realmente um Deus próximo, um Deus-connosco.

Neste Domingo, o primeiro após a Solenidade de Pentecostes, celebramos a festa da Santíssima Trindade. Talvez para muitos cristãos, mormente os que se julgam mais esclarecidos, possa parecer estranho ter sido instituída uma festa específica em honra da Santíssima Trindade, pois a mesmo pode parecer desnecessária. De facto a teologia Ocidental ou Latina apresenta a Trindade de um modo bastante metafísico: Três pessoas distintas, mas uma só natureza divina. É que por muitos esforços que se façam esta concepção continua a ser muito abstracta.
Não sabemos ao certo quando esta festa foi introduzida na Igreja. No entanto já no século IX encontramos igrejas dedicadas à Santíssima Trindade, como é o caso do mosteiro de São Bento de Aniano. No entanto pouco se encontra acerca da instituição desta festa. Contudo já no ano 1030 se celebrava a festa da Santíssima Trindade, que rapidamente se propagou pela Igreja ainda que tenha encontrado a oposição de muitos bispos e inclusive tenha tido a oposição do papa Alexandre II no século XII. Mas apesar de tudo isso, a festa continuou a celebrar-se sendo cada vez mais do agrado dos fiéis, sendo finalmente aprovada pelo papa João XXII no ano 1334, estendendo a sua celebração à Igreja Universal, tendo sido fixada no Domingo a seguir ao Pentecostes.
A Liturgia deste Domingo da Santíssima Trindade convida-nos "ver" um Deus diferente; diferente da imagem de Deus oferecida por outras religiões, que também dizem adorar o Deus Único e Criador, mas também diferente da Teologia Especulativa. A liturgia, quer a latina quer a oriental, não se cansam de mostrar a actividade das Três Pessoas divinas na obra da salvação e na reconstrução do mundo, mas a teologia grega tem a vantagem de expor de uma maneira vital o que é a Trindade.
Já Israel nos oferece uma imagem diferente da que tinham os povos de então. No trecho do livro do Deuteronómio que a Liturgia hoje nos oferece, vemos que o povo hebreu chega ao conhecimento de Deus, não pela via da inteligência mas através da História: "Quem é Deus? Recorda a tua história, Israel, e contempla como Ele se comportou contigo; reconhece, pois, hoje, e contempla no teu coração que o Senhor é o único Deus…, e segue os caminhos que Ele te indica para que sejas feliz". É um Deus que intervém pessoalmente na acção da história livrando-o da escravidão. E assim surge o contraste do Deus de Israel com o deus dos povos vizinhos: Israel experimentou Deus através da sua realidade histórica.
O livro do Deuteronómio apresenta-nos aquilo que Israel considerava a sua grande honra, o seu grande tesouro: ter um Deus próximo do povo, um Deus que falou ao povo por Sua iniciativa. A mesma prerrogativa tem a liturgia: mostrar-nos a actividade das Pessoas Divinas. Já desde os primeiros tempos da Igreja, a Liturgia faz finca-pé na actividade da Trindade ou no nosso louvor em sua honra. Assim o vemos nas doxologias, como o Glória ao Pai..., alguns hinos antigos t como o Glória a Deus nas alturas ou o "Te Deum", etc. Mas a honra de Israel não era mais que a preparação para o que essa honra em plenitude não fosse já de um povo, mas sim de toda a humanidade: Deus não é já somente o Deus que se aproxima, mas é o Deus que se faz um de nós; Deus não liberta já o povo desde fora, mas liberta os homens colocando-se junto deles; Deus já não diz aos homens o que é que têm que fazer, mas veio aqui à terra mostrar-nos o que devemos fazer! Deus é mesmo assim; Deus não é somente Deus-Pai que está nos céus, mas também é Deus-Palavra que se nos revela. Esta proximidade tem uma nova nuance. Jesus Cristo, o Deus-Palavra, diz: "Eu estou convosco todos os dias, até ao fim dos tempos". Está connosco não como una recordação, mas como algo muito profundo que se entranha no coração de cada homem. O seu Espírito penetrou no nosso interior e converte-nos em filhos como Ele. Temos igualmente aquele Espírito que une Jesus ao Pai, o Espírito que não deixou que Ele experimentasse a corrupção do sepulcro.
A Trindade é tudo isto: é Deus-Pai que está nos céus, é Deus-Palavra que se nos revela, é Deus-Espírito que continua no nosso interior a presença do nosso irmão Jesus Cristo e faz com que Deus seja realmente um Deus próximo, um Deus-connosco.
Chama nº 716 I 07 Junho ‘09

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