sábado, 26 de fevereiro de 2011

OS LÍRIOS DO CAMPO

No trecho do Evangelho deste Domingo, que se insere no contexto do Sermão da Montanha, Jesus alerta-nos para dois perigos que devemos evitar: O primeiro é o apego ao dinheiro, e quem diz dinheiro, diz bens materiais; o segundo é não vivermos obcecados com o amanhã. 
Assim como Deus cuida das aves do céu e dos lírios do campo, também providenciará para que nada falte aos seus filhos. 
Quando lemos um trecho do Evangelho sempre nos deparamos com a sabedoria de Jesus. Desconhecemos o local onde estudou, pelo que não sabemos se a sua ciência foi aprendida nos bancos da escola, e possivelmente a pequena cidade de Nazaré não seria prendada de famosos rabinos, se foi formado na escola da vida (e é uma boa escola!) ou se sua sabedoria é uma comunicação do Pai.
Prosseguindo a sua catequese do Sermão da montanha, Jesus  fala-nos de dois perigos que devem ser evitados pelos cristãos.
O primeiro é o apego ao dinheiro. Jesus diz aos seus ouvintes que não podem servir a dois senhores, porque não se pode dedicar aos mesmos de maneira idêntica, porque ambos o tratam de maneira diferente. É normal que o amo que se torna mais atencioso e dedicado connosco, se torne mais querido e o outro menos amado, e, inclusive odiado se for exigente e prepotente.
Perante esta constatação Jesus adverte os seus discípulos que de igual modo não podem “servir a Deus e ao dinheiro”.
E afirma-o porque conhece a sedução do dinheiro, como também nós a conhecemos! Todos nós temos consciência de que necessitamos do dinheiro para a nossa vida de cada dia. De contrário todos teríamos de mendigar, e teríamos de nos ajoelhar diante daqueles que o possuíam, o que por sua vez teríamos de censurar, ou então voltar à idade da pedra onde o homem vivia dos frutos selvagens, da caça e da pesca! 
No entanto, deixamo-nos seduzir pelo dinheiro, não porque o pretendamos para viver honradamente cada dia, ainda que na simplicidade, mas sim para encontrarmos uma segurança de que nada nos faltará; queremo-lo para gozar de um maior comodismo, e dessa maneira é ele quem comanda a nossa vida impondo-nos uma tripla preocupação  de ganhar, de adquirir ou comprar e de garantir e assegurar o nosso futuro. 
Jesus não aceita essa lógica, e para nos  conquistar para o seu Evangelho manda-nos contemplar a natureza. Diz-nos: “Olhai à vossa volta! Olhai para as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis vós muito mais do que elas?”, por isso não vos preocupeis com o que haveis de comer, não vivais obcecados com o alimento. Também não nos devemos inquietar com o vestuário, e de novo nos diz:”Olhai a natureza! Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles”.
Deveremos levar a sério estas recomendações de Jesus? Será que ele quer que comportemos como gente irresponsável? Devemos deixar de trabalhar e confiar na providência ou na boa vontade do nosso próximo ou das instituições de caridade? Vamos viver como os insensatos, que só pensam no presente, porque amanhã é outro dia! Ou vamos confiar no “Deus”-Estado que nos dará um pequeno subsídio ou pensão se sobrevivência?
Claro que  essa não era a ideia de Jesus! Ele não diz que não devamos trabalhar, mas que não nos devemos deixar levar pela angústia e pela ansiedade, pois não são remédio, e tantas vezes  só nos acarretam mais sofrimento ao que já temos.
Jesus unicamente vem dizer-nos que temos um Pai no Céu, em quem devemos acreditar e confiar! Um Pai, certamente, muito mais perfeito que os pais biológicos, a quem os filhos tantas vezes acorrem, confiantes de que serão atendidos nos seus pedidos. Quantos filhos, já casados, hoje vão matar a fome à casa dos pais? Quantos pais não pagam actualmente a prestação ao banco da casa dos filhos? Assim como os filhos sabem que podem contar com o auxílio dos pais, também o cristão podem confiar em Deus, e por isso Lhe pedimos, quando rezamos: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje!”.
Se Deus se interessa pelas aves do céu e pelas flores do campo, muito mais motivos tem para se preocupar com a vida e problemas de seus filhos.
O cristão, na fé de cada dia, poderá passar por sucessos e incertezas, terá de enfrentar, certamente, muitas dificuldades, mas pode ter a certeza de que não está só, porque Deus, não o abandonará, pelo contrário, estará sempre a seu lado.

Chama nº 785 | 27 Fevereiro ‘11

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