sábado, 12 de março de 2011

A QUARESMA E O BAPTISMO

Estamos a viver a Quaresma, tempo litúrgico que nos conduz à Páscoa. No seu zelo pastoral o Papa, para ajudar os cristãos a viver mais intensamente este tempo penitencial, costuma dirigir uma Mensagem a toda a Igreja.
Este Ano o Santo Padre põe em relevo a íntima relação da Quaresma com o Baptismo. Dessa mensagem vamos partilhar convosco alguns parágrafos.  
Neste primeiro Domingo da Quaresma, em jeito de comunhão com o Santo Padre, e consequentemente com toda a Igreja, na nossa Chama Viva vamos oferecer alguns pensamentos extraídos da Mensagem de Bento XVI  para esta Quaresma.

Depois de afirmar que a Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, porque  “a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor”, o Santo Padre escreve:
“Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Baptismo, quando, ‘tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo’  iniciou para nós ‘a aventura jubilosa e exaltante do discípulo’. São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O facto que na maioria dos casos o Baptismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria existência ‘os mesmos sentimentos de Jesus Cristo’ é comunicada gratuitamente ao homem.[...]
O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo.
Um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar ‘mais abundantemente os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal’. De facto, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos. Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Baptismo como um acto decisivo para toda a sua existência.”
De seguida, o Santo Padre, meditando sobre os textos evangélicos que nos são propostos ao longo dos vários domingos da Quaresma, oferece-nos uma catequese das diversas etapas do ‘caminho a iniciação cristã’, escrevendo:
“O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida. [...] 
O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, ‘em particular, a um alto monte’.[...] É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus [...]
O pedido de Jesus à Samaritana: ‘Dá-Me de beber’, que é proposto na liturgia do terceiro Domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da ‘água a jorrar para a vida eterna’ [...]. Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, ‘enquanto não repousar em Deus’, segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.
O Domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: ‘Tu crês no Filho do Homem?’. ‘Creio, Senhor’, afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso Salvador.
Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: ‘Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?’ [...].  A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia.”
E Bento XVI depois de reafirmar a íntima união  da Quaresma e o Baptismo  que se torna mais evidente na Renovação das Promessas do Baptismo na Vigília Pascal, lembra-nos algumas práticas religiosas a ter em conta neste tempo litúrgico: a esmola, o jejum e a oração.
E o Papa conclui: “Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é ‘fazer-se conformes com a morte de Cristo’, para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.”
Enfim, a Quaresma é um convite à renovação!

Chama n.º 787 | 13 Março ‘11

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