segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

QUARTA-FEIRA DE CINZAS (III)


8 de Fevereiro
21:00 Igreja do Carmo de Aveiro
VIGÍLIA PENITENCIAL JOVEM


Quem vive na opulência e não reflecte
é semelhante aos animais que são abatidos.
(Salmo 49:21)



Na primeira volta da segunda escada
voltei-me e vi lá em baixo
o mesmo vulto enrodilhado no corrimão
sob os miasmas que no fétido ar boiavam
combatendo o demónio das escadas, oculto
em dúbia face de esperança e desespero.
Na segunda volta da segunda escada
deixei-os entrançados, rodopiando lá em baixo;
nenhuma face mais na escada em trevas,
carcomida e húmida, como a boca
imprestável e babugenta de um ancião,
ou a goela serrilhada de um velho tubarão.
Na primeira volta da terceira escada
uma túmida ventana se rompia como um figo
e além do espinheiro em flor e da cena pastoril
a silhueta espadaúda de verde e azul vestida
encantava maio com uma flauta antiga.
Doce é o cabelo em desalinho, os fios castanhos
tangidos por um sopro sobre os lábios,
cabelos castanhos e lilases;
frémito, música de flauta, pausas e passos
do espírito a subir pela terceira escada,
esmorecendo, esmorecendo; esforço
para além da esperança e do desespero
galgando a terça escala.

Senhor, eu não sou digno
Senhor, eu não sou digno

mas dizei somente uma palavra.


T. S. Eliot (1888-1965)
Tradução de Ivan Junqueira

domingo, 27 de janeiro de 2008

Oração pela unidade dos cristãos


Meu Deus, sabeis que amo a vossa Igreja!
Porém vejo... que noutros tempos a vossa Igreja teve, quer na vida civil quer na vida humana mais ampla, um enorme e nobre papel, ao passo que hoje não tem nenhum.
Meu Deus, oxalá que a vossa Igreja fosse mais compreensiva, mais estimulante. Meu Deus, a vossa Igreja é tão latina e está tão centralizada!
É verdade que o Papa é o «doce Cristo na terra»,
e que nós só vivemos de Cristo, vinculados a Cristo. Porém, Roma não é o mundo; nem a civilização latina, nem a humanidade.
Meu Deus, Vós criastes o homem e só podeis receber um louvor digno (ou o menos indigno) se multiplicais... as raças e as nações.
Meu Deus! Vós quisestes que a vossa Igreja, desde o seu nascimento, falasse diversas línguas... a fim de que a verdade fosse inteligível a todos os ouvidos humanos.
Meu Deus, dilatai os nossos corações! Fazei que a humanidade nos compreenda e que também nós compreendamos a humanidade!

Meu Deus!
Não sou mais que um pobre pequeno;
Porém, Vós podeis dilatar e abrir o meu coração à medida das necessidades do mundo. À medida das necessidades que os vossos olhos vêem, que são muitas, muitas mais que aquelas que eu possa aqui dizer.
Meu Deus! É urgente que nos deis muitos trabalhadores, trabalhadores que, sobretudo, tenham um grande coração...
Há muito trabalho para fazer.
Meu Deus! Fazei a minha alma conforme à vossa Igreja. A vossa Igreja é ampliíssima e prudente, rica e prudente, imensa e prudente.
Meu Deus! Já chega de banalidades, pois não temos tempo para nos entretermos com banalidades!
Oh! Meu Deus!
Há tanto trabalho para fazer!
Como é ingente a União das Igrejas!

Porque é que, meu Deus, a vossa Igreja, que é santa e única, santa e verdadeira, tem frequentemente um rosto austero e carrancudo, quando, na verdade, está cheia de juventude e de vida?
A verdade, meu Deus!, é que o rosto de Deus somos nós; somos nós que construímos a sua visibilidade.
Concedei, meu Deus, à vossa Igreja um rosto verdadeiramente vivo. Eu gostaria muito de ajudar os meus irmãos a contemplar o verdadeiro rosto da Igreja!
Meu Deus, é verdade que existem erros em todas as confissões cristãs. Porém, como permitis que a vossa Igreja feche os olhos à Verdade para a qual todas caminham?... Porque não acendeis nos seus olhos o fulgor da inteligência e da coragem, que são o segredo da Esposa e sobretudo da Mãe?
Meu Deus! Como é difícil o trabalho pela União das Igrejas Cristãs! Como é pesada essa missão para ombros tão humanos!
Ajudai-nos! Alargai, purificai, iluminai, organizai, inflamai, enchei de prudência e avivai as nossas pobres almas! Amen.

(Chama 657, 27 de Janeiro de 2008)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

QUARTA-FEIRA DE CINZAS (II)

8 de Fevereiro
21:00 Igreja do Carmo de Aveiro
VIGÍLIA PENITENCIAL JOVEM


Quem vive na opulência e não reflecte
é semelhante aos animais que são abatidos.
(Salmo 49:21)


Senhora, três leopardos brancos sob um zimbro
ao frescor do dia repousavam, saciados
de meus braços meu coração meu fígado e do que havia
na esfera oca do meu crânio. E disse Deus:
viverão tais ossos?
Tais ossosviverão? E o que pulsara outrora
nos ossos (secos agora) disse num cicio:
raças à bondade desta Damae à sua beleza, e porque ela
a meditar venera a Virgem,
é que em fulgor resplandecemos. E eu que estou aqui dissimulado
meus feitos ofereço ao esquecimento, e consagro meu amor
aos herdeiros do deserto e aos frutos ressequidos.
Isto é o que preserva
minhas vísceras a fonte de meus olhos e as partes indigestas
que os leopardos rejeitaram. A Dama retirou-se
de branco vestida, orando, de branco vestida.
Que a brancura dos ossos resgate o esquecimento.
A vida os excluiu. Como esquecido fui
e preferi que o fosse, também quero esquecer
assim contrito, absorto em devoção. E disse Deus:
profetiza ao vento e ao vento apenas, pois somente
o vento escutará. E os ossos cantaram em uníssono
com o estribilho dos grilos, sussurrando:
Senhora dos silêncios
serena e aflita
lacerada e indivisa
rosa da memória
rosa do oblívio
exânime e instigante
atormentada tranquila
a única Rosa em que
consiste agora o jardim
onde todo amor termina
extinto o tormento
do amor insatisfeito
da aflição maior ainda
do amor já satisfeito
fim da infinita
jornada sem termo
conclusão de tudo
o que não finda
fala sem palavra
e palavra sem fala
louvemos a Mãe
pelo Jardim
onde todo amor termina.
Cantavam os ossos sob um zimbro, dispersos e alvadios,
alegramo-nos de estar aqui dispersos,
pois uns aos outros bem nenhum fazíamos,
sob uma árvore ao frescor do ~a, com a bênção das areias,
esquecendo uns aos outros e a nós próprios, reunidos
na quietude do deserto. Eis a terra
que dividireis conforme a sorte. E partilha ou comunhão
não importam. Eis a terra. Nossa herança.
T. S. Eliot (1888-1965)
Tradução de Ivan Junqueira

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

QUARTA-FEIRA DE CINZAS (I)


8 de Fevereiro
21:00 Igreja do Carmo de Aveiro
VIGÍLIA PENITENCIAL JOVEM

Quem vive na opulência e não reflecte
é semelhante aos animais que são abatidos.
(Salmo 49:21)


Porque não mais espero retornar
porque não espero
porque não espero retornar
a este invejando-lhe o dom e àquele o seu projecto
não mais me empenho no empenho de tais coisas
(Por que abriria a velha águia suas asas?)
por que lamentaria eu, afinal,
o esvaído poder do reino trivial?
Porque não mais espero conhecer
a vacilante glória da hora positiva
porque não penso mais
porque sei que nada saberei
do único poder fugaz e verdadeiro
porque não posso beber
lá, onde as árvores florescem e as fontes rumorejam,
pois lá nada retorna à sua forma
porque sei que o tempo é sempre o tempo
e que o espaço é sempre o espaço apenas
e que o real somente o é dentro de um tempo
e apenas para o espaço que o contém
alegro-me de serem as coisas o que são
e renuncio à face abençoada
e renuncio à voz
porque esperar não posso mais
e assim me alegro, por ter de alguma coisa edificar
de que me possa depois rejubilar
e rogo a Deus que de nós se compadeça
e rogo a Deus porque esquecer desejo
estas coisas que comigo por demais discuto
por demais explico
porque não mais espero retornar
que estas palavras afinal respondam
por tudo o que foi feito e que refeito não será
e que a sentença por demais não pese sobre nós
porque estas asas de voar já se esqueceram
e no ar apenas são andrajos que se arqueiam
no ar agora cabalmente exíguo e seco
mais exíguo e mais seco que o desejo
ensinai-nos o desvelo e o menosprezo
ensinai-nos a estar postos em sossego.
Rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte
rogai por nós agora e na hora da nossa morte.

T. S. Eliot (1888-1965)
Tradução de Ivan Junqueira

domingo, 20 de janeiro de 2008

Novena ao Menino Jesus de Praga


No segundo Domingo do Tempo Comum celebramos na nossa comunidade do Carmo de Aveiro a festividade do Divino Menino Jesus de Praga. Com nossos pais São João da Cruz e S. Teresa de Jesus aprendemos a amar a contemplação dos mistérios da Incarnação e Santa Infância do Menino Jesus.
Aqui fica uma novena para ser rezada ao longo dos nove dias antecedentes ao 25 de cada mês.

PRIMEIRO DIA
Ó dulcíssimo Menino Jesus, consciente da minha pequenez prostro-me a Vossos pés e me dirijo a Vós, porque sois todo meu. Preciso muito de Vós, ó Jesus.
Lançai-me o vosso olhar cheio de ternura. Vós que sois omnipotente, vinde socorrer-me nas minhas necessidades.
Pai Nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.
Oração de todos os dias: Pela vossa divina infância, ó Jesus, concedei-me a graça que insistentemente vos peço (faz-se o pedido), se for para meu bem e conforme a vossa vontade. Não olheis aos meus pecados, mas à minha fé, segundo a vossa misericórdia.

SEGUNDO DIA
Ó celeste esplendor do Pai em quem brilha a divindade, adoro-Vos profundamente
e confesso que sois verdadeiro Deus.
Ofereço-Vos a humilde homenagem de todo o meu ser. Não permitais que jamais me separe de Vós, ó Sumo Bem.
Pai Nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.

TERCEIRO DIA
Ó Menino Jesus, ao contemplar a vossa face sinto uma grande confiança em Vós. Sim, eu espero tudo da vossa bondade.
Ó Jesus, lançai sobre mim e sobre os meus as vossas graças. Assim poderei cantar infinitamente a vossa misericórdia.
Pai Nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.

QUARTO DIA
Ó Jesus, reconheço-Vos como meu soberano absoluto. Não quero servir outro senhor, nem as minhas paixões nem os meus pecados. Reinai, ó Divino Rei, no meu pobre coração e tornai-o vosso para sempre.
Pai Nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.

QUINTO DIA
Eu Vos contemplo, ó dulcíssimo Redentor, revestido dum manto de púrpura. É o vosso uniforme real: como ele me recorda o sangue! Sangue que foi derramado por mim.
Fazei, ó Jesus, que eu corresponda a tão grande sacrifício e não recuse nenhum
sofrimento por vossa causa.
Pai Nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.

SEXTO DIA
Ó amabilíssimo Menino, ao contemplar-Vos segurando o mundo o meu coração inunda-se de alegria. Também me sustentais a mim em todos os momentos de minha vida,
e me guardais como vossa propriedade.
Cuidai de mim, ó Jesus, e socorrei-me em todas as minhas necessidades.
Pai Nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.

SÉTIMO DIA
Sobre o vosso peito, ó Menino Jesus, brilha uma cruz: eis o estandarte de nossa redenção! Ó Divino Salvador, também eu tenho a minha cruz! Mas ela é bem mais leve que a vossa. Ainda assim eu me angustio muito.
Ajudai-me a carregá-la, para que eu possa colher os seus frutos. Bem sabeis, Divino Reizinho, o como sou fraco.
Pai Nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.

OITAVO DIA
Sob a cruz, vislumbro no vosso peito,
ó Menino Jesus, a imagem de vosso pequenino coração. Vós sois o verdadeiro amigo,
que generosamente vos repartis e imolais por todos os vossos irmãos que são objecto do vosso terno amor.
Enchei-me o vosso amor, ó Jesus, e ensinai-me a corresponder aos vossos apelos.
Pai Nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.

NONO DIA
A vossa mão direita é poderosa,
ó Menino Jesus! Quantas bênçãos derramais sobre aqueles que Vos honram e Vos invocam!
Abençoai-me também a mim e bendizei toda minha vida. Abençoai os meus desejos e socorrei-me em todas as necessidades.
Escutai, benigno, os meus pedidos e eu bendirei o vosso Santo Nome todos os dias da minha vida.
Pai Nosso. Ave Maria. Glória ao Pai.

(Chama nº 656 de 20 Janeiro 2008)

Uma oração para a Semana da Unidade

Senhor, dai-me serenidade para aceitar
o que eu não posso mudar;
dai-me coragem para mudar
o que pode ser mudado;
e dai-me sabedoria para discernir
uma e outra coisa.

Fazei que eu me contente
em viver um dia de cada vez;
que eu aproveite bem o momento presente;
que aceite as dificuldades como sendo
o caminho que me leva à paz;
que eu aceite, como vós aceitastes, este mundo pecador tal como ele é
e não como eu gostaria que fosse;
que eu me volte para Vós,
pois cumprireis tudo o que é bom,
se eu me abandonar à vossa vontade.

Concedei-me ser feliz nesta vida e conhecer, na vida eterna,
a felicidade suprema de estar
convosco para sempre. Amén.

Reinhold Niebuhr
(inspirando-se em João XXIII)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A Casa de Vila Real


Chegou-me hoje às mãos um considerável tomo de investigação histórica intitulado A CASA DE VILA REAL E A CONSPIRAÇÃO DE 1641 CONTRA D. JOÃO IV.
A autora, D. Mafalda de Noronha Wagner, Marquesa de Vagos e Representante da Casa de Vila Real, licenciada em História pela Faculdade de Letras da UL, dedicou ao tema e à causa os últimos 10 anos da sua vida.
Fazemos merecedor eco deste trabalho porque D. Beatriz de Lara, benfeitora da nossa Comunidade, é filha dos primeiros duques de Vila Real e a seu pedido encontra-se sepultada no presbitério da nossa Igreja do Carmo.
De D. Beatriz de Lara conservamos grata memória. Os séculos passaram mas em nós, Carmelitas, não se esvaiu o reconhecimento e a gratidão.

De menor fôlego mas de igual apreço e consideração e em boa hora a Confraria de Nossa Senhora do Carmo promoveu a edição duma monografia sobre a ilustre figura da nossa benfeitora. Dela falaremos posteriormente.

A Comunidade parabeniza D. Mafalda de Noronha Wagner por esta obra em que luz a Casa de Vila Real e agradece-lhe a oferta dum exemplar do livro.

MUITO OBRIGADO

Muito obrigado a todos os que com carinho, fé e generosidade nos abriram as portas do coração e nos abençoaram com a sua estima e amizade.
Que Deus Todo-poderoso vos pague e torne a nossa vida merecedora de rezar por vós
.

7 NOITES, 7 TEMAS: O FILHO PRÓDIGO


Segunda-feira, dia 14, pelas 21:00h
O Grupo Adoramus Te convida os jovens da nossa comunidade para uma noite de reflexão e oração em torno ao relato do Filho Pródigo. Animação orientada pelos Missionários Verbum Dei.

CANTAR DE REIS

(pode cantar-se com a música Abençoa, Senhor, a família)

Mais uma ano passou e de novo está em meu lar,
Este grupo que nunca se esquece de os Reis vir cantar.
Traz consigo a fé e a bênção de Nosso Senhor
Enchem a nossa casa de felicidade e amor.

Não sei onde ir buscar as palavras para agradecer
Estes lindos momentos de paz e grande prazer.
E por isso a todos o nosso muito obrigado,
Por de nós nesta noite tão bela se terem lembrado.

Abençoa, Senhor, a Família Carmelita.
Abençoa, Senhor, para sempre bendita!

Peço ao Pai, ao Espírito Santo e também a Jesus
Que o novo ano que agora começa vos encha de luz.
Tenham tudo de bom: Paz, saúde e muita alegria.
É o que rogo a Deus para vós neste tão lindo dia!

E desejo a todos os Frades da Congregação,
Frei Silvino, Frei Rui e também para o Frei João:
Alegrias sem fim e que a vossa vida seja
Muito longa, para bem da fé dos cristãos desta Igreja.

Santos Reis de 2008
Odete Trindade e João Trindade

O mais belo dos dons de Deus

O Baptismo é o mais belo e magnífico dos dons de Deus.
Chamamos-lhe dom, graça, unção, iluminação,
veste de incorruptibilidade, banho de regeneração,
selo e tudo o que há de mais precioso.

Dom, porque é conferido àqueles que não trazem nada.
Graça, porque é dado mesmo aos culpados.
Baptismo, porque o pecado é sepultado nas águas.
Unção, porque é sagrado e régio.
Iluminação, porque é luz irradiante.
Veste, porque cobre a nossa vergonha.
Banho, porque lava.
Selo, porque nos guarda e é sinal do senhorio de Deus.
(S. Gregório de Nazianzo, séc. IV)

Os sinais do Baptismo


A celebração da Festa do Baptismo do Senhor deve levar-nos a recordar e a renovar
o nosso Baptismo, que, é o mais certo, nenhum de nós se lembra. A celebração deste sacramento é composta por um conjunto de rituais e sinais verdadeiramente
maravilhosos. Importa meditar sobre eles, porque nos dizem que somos cristãos.
E de como é uma felicidade verdadeira ser-se cristão!

A ÁGUA
É o símbolo central do Baptismo. Os primeiros cristãos submergiam-se nus na fonte baptismal, donde depois eram retirados. Era muito mais impactante que o actual verter de algumas gotas de água na cabeça.
A água é a origem da vida. A fonte do Baptismo é um poço onde vamos tirar água, que em nós se converte em fonte que jamais seca. Por essa razão, a nossa sede de amor jamais se esgotará: da fonte do Baptismo podemos beber sempre. Além disso a água é purificadora dos erros do passado e símbolo da fecundidade espiritual. A fonte que em nós jorra lembra-nos que jamais nos deixa ressequir.

A UNÇÃO
No Baptismo, aquele que se vai baptizar é ungido duas vezes: com o óleo dos catecúmenos e, depois, com o crisma.
O óleo dos catecúmenos é o óleo da salvação, exprime a força salvadora, que vem de Jesus Cristo. É mais forte qualquer das feridas que se venham a receber, pois não estamos sós.
O óleo do crisma é o óleo da unção real. É sinal de que a bênção de Deus está com o baptizando. Por esta unção a bênção de Deus repousa sobre nós, para que a nossa vida exale um perfume bom e vivificante.

A VELA BAPTISMAL
Toda a pessoa baptizada é esperança para o mundo, por isso se acende uma vela no círio pascal que depois lhe é entregue.
Em cada baptizado, mesmo criança, chega uma luz ao mundo. Em cada ser humano que nasce o mundo deve tornar-se mais luminoso e mais quente, porque o Baptismo é uma iluminação que abre os nossos olhos para que reconheçamos a luz de Deus.
Mantendo a luz acesa junto da criança, a Igreja deseja que ela possa trazer luz à escuridão do mundo e calor aonde haja frio ou onde os sentimentos ameaçam gelar as relações.

A VESTE BRANCA
Os primeiros cristãos desciam nus para a fonte baptismal e, a seguir, ao emergir, impunham-lhes as vestes brancas. Este não é apenas um sinal exterior, mas algo que transforma a pessoa toda, até o seu coração.
Pelo Baptismo tornamo-nos outra pessoa, adquirimos outra existência. Estamos cheios do Espírito Santo, que quer fazer resplandecer o nosso corpo com a dignidade de templo.

O SINAL DA CRUZ
É feito na fronte da criança, quer pelo sacerdote quer pelos pais e padrinhos. Com o sinal da cruz exprimimos que a criança pertence a Deus e não ao Estado, nem ao rei nem ao imperador ou a qualquer outra organização.
Ao assinalarmos a criança com o sinal da cruz é como se lhe disséssemos: Tu existes para seguir em liberdade o verdadeiro caminho e não para satisfazer as exigências dos outros.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Praceta S. João da Cruz





A Câmara Municipal colocou hoje a placa toponímica da Praceta de São João da Cruz. Parabéns. São João da Cruz esteve (e voltou a estar) tão ligado a Aveiro que lhe chamaram — sem cá ter nascido, vivido ou visitado — O SANTO DE AVEIRO!
Foi com muita alegria, foi mesmo com júbilo, que no dia 3 de Abril de 2005, ao inaugurar o novo Convento do Carmo descerrámos a estátua do Santo Padre João da Cruz, a primeira que Portugal lhe dedicou. Ele mereceu-a.
Merecia uma rua, e ela lá está (mas sem placa). Mereceu que defronte ao convento lhe dedicássemos uma praceta, e lá nasceu uma praceta.
A memória que Aveiro guarda do seu Santo justifica-o.
O Santo, porém, apesar de pobre e humilde que sempre foi, não merece uma praceta assim.
Nem nós merecemos uma praceta assim. Sobretudo nós, que temos de a encarar todos os dias e todos os dias por ela passar.
Basta ver para ajuizar.
Virão dias melhores, concerteza. Assim esperamos.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Morreu a Glórinha


Morreu a Glórinha. O seu nome verdadeiro era, afinal, Mabília da Glória Pereira. Tinha 94 anos. Não era de Aveiro, vivia perto da cidade. A sua igreja era a nossa Igreja do Carmo. Éramos dela e ela era nossa. Era da Senhora do Carmo de quem era filha.
Conheci-a há quatro ou cinco anos, já velhinha. Mas conhecia serena e ágil, de passinhos curtos e certos. E direita, de sorriso fácil, dois beijinhos e não muitas palavras. Era pobre e por esse bilhete de identidade era conhecida de Deus e de nós.
Dias seguidos, dias e dias a fio, durante as Laudes, pressenti os seus passos a chegar. Passos curtinhos e serenos, almofadados. Não custava nada a arrumar-se. Porque se valia bem era das primeiras a chegar, ainda o portão do adro estava fechado. Fosse tempo de calor, de frio ou de chuva ela vinha. Não faltava nunca. Só faltava ao Domingo porque os transportes públicos também lhe faltavam. Mas tempos houve em que não lhe faltaram pernas para caminhar e vir. E veio sempre.
Era como uma avó velhinha a rezar por nós, e por mim, ali, duas cadeiras à sua frente.
Rezava muito, como sempre rezara. Como sempre soubera rezar!
Não sei muito da sua vida, porque era poupada de palavras. Era duma cepa distinta, daquelas que envelhecem na carne e reverdecem no espírito, porque são mais e cada vez mais de Deus e para Deus.
Quando tomou consciência que as forças se lhe iam aceitou agradecida uma mão, uma ajuda, uma sopinha, uma atenção, uma companhia, um carinho, uma visita, uma flor, uma influência, um telefonema. Confiou-se aos que nada lhe eram pela lei da carne, mas a quem se unira pelos vínculos do espírito de amor.
Morreu quando Deus se dignou chamá-la. Teve para ela desígnios de respeitosa ternura. Cumpriu-se tudo o que desejava, depois duma vida longa.
No funeral, hoje, às onze horas, éramos um punhadinho de amigos espirituais e de parentes afastados. Fomos os três, presidiu o Frei Rui. Ele que todos os dias lhe abria a porta do adro pediu a Deus que não lhe fechasse as portões das mansões da misericórdia.
Foi-se de nós uma velhinha, uma irmã e avó. Fique connosco a sua bênção e oração. Seja para ela a nossa gratidão e para o Pai a nossa acção de graças. Perdoe-lhe Deus os seus pecados e lhe conceda a paz dos justos.
(Obrigado também ao Grupo das Visitadoras que tanto desvelo filial lhe consagraram. Deus lhes pague.)

7 noites, 7 temas (II)


Segunda-feira, dia 14 de Janeiro, 21:00h, continuamos o ciclo de reflexão e oração 7 noites, 7 temas. As conferências são mensais e têm lugar no Antecoro da nossa Igreja.
Depois do sr. D. António Francisco dos Santos nos ter falado da Encíclica Spe Salvi e do amor como o sonho do Pai, os Missionários Verbum Dei falar-nos-ão da experiência do Filho Pródigo.
Os jovens são especiais convidados.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Sobre a Ceia

Hoje, 5 de Janeiro, sob o olhar terno de Nossa Senhora do Carmo, celebramos mais uma Ceia de Reis. Foi a última duma já longa lista de quinze. Não há Ano Novo do Carmo bem começado que não tenha nos princípios a Ceia de Reis.
A festa começou com a Celebração da Eucaristia da Epifania do Senhor presidida pelo Prior da Comunidade. Seguiu-se, depois, no Salão do Centro Pastoral de São da Cruz, um sereno repasto em tons calorosos e familiares. No elenco das iguarias não faltou o bacalhau nem o bolo rei. Aliás, jamais o bacalhau faltou à ceia (e sem se repetir a receita)!
Éramos mais de cem comensais, o que fez do Salão um espaço muito acanhado e cheio de muito calor humano. Mas tudo se resolveu com a boa disposição de todos e a disponibilidade e simpatia dos que serviram às meses. A todos — aos que comeram e aos que prepararam — muito se agradecem estes momentos tão amáveis.
Se juntarmos aos comensais toda a equipa que preparou a festa (desde o descascar das batatas ao limpar dos pratos), então, pode dizer-se, éramos mais que muitos! Muitos mesmo.
Assim se ergue uma comunidade, comendo à Mesa do Cordeiro e não faltando à do bacalhau.
Deus seja louvado. Deus vos recompense.
Aqui ficam algumas fotos, que testemunham melhor que as palavras.













sábado, 5 de janeiro de 2008

O quarto Rei Mago

Que os Reis Magos eram quatro di-lo uma lenda russa.
Depois de avistarem a estrela partiram juntos, do Oriente, levando cada um os seus presentes de ouro, incenso e mirra. O quarto levava vinho e azeite ao lombo duma récua de burritos todos janotas.
Depois de penetrarem no deserto caiu sobre eles uma tal noite tormentosa, que mais não tiveram que descer das cavalgaduras. O quarto Mago como não tinha camelos atrás dos quais se pudesse defender, refugiou-se numa cabana dum pobre pastor. Pela manhã, passada a tempestade, o Mago viu-se diante do seguinte dilema: ou ajudava o bom homem a recolher as ovelhas dispersas e atrasar-se-ia, ou seguia com a caravana. Apesar de não conhecer o caminho e de a estrela não esperar, ficou. Assim mandava o seu bom coração. Como pode apresentar-se diante do Messias um homem que não ajuda os seus irmãos?
Perdeu uma semana a recolher o rebanho disperso. Os companheiros iam longe, demasiado longe, e, juntamente com o pastor, havia consumido parte do vinho e do azeite.
Despediu-se e fez-se ao caminho apressando o passo dos burritos para encurtar distâncias. Por fim, depois de muito caminhar sem rumo, chegou a um lugar onde vivia uma mãe com muitos filhos, e com o marido doente. Eram os dias das ceifas. Eram mais que horas de ceifar a cevada, que ou se colhia ou se perdia para os passarinhos. Estava de novo diante de duas opções: ou ficava a ajudar aqueles pobres (e perderia tanto tempo que definitivamente se perderia dos colegas) ou retomava o caminho. Mas como apareceria diante do Rei Messias depois de abandonar uma pobre mãe e os seus filhos que tanto precisariam daquela colheita para terem pão durante o ano?
Ficou. Ficou a ajudar aqueles pobres irmãos. Ali perdeu várias semanas, pois recolher o grão das sementeiras é trabalho moroso e duro. E mais uma vez teve de abrir os seus alforges para partilhar o vinho e o azeite.
Agora sim, a estrela perdera-se de vez. Apenas se podia socorrer da direcção tomada pelos colegas e dumas mais que difusas pegadas. Seguiu-as, mas bem depressa se deteve para ajudar outros necessitados.
Ao fim e ao cabo perdeu dois anos.
Finalmente chegou a Belém. Não havia ali o ambiente que julgara. Erguia-se antes um enorme pranto. As mães vinham chorar para a rua e com os filhos nos braços. Acabavam de ser assassinados por ordem de outro rei!
O pobre homem não entendia nada.
Se perguntava pelo Messias Rei era olhado com angústia, e logo lhe pediam que se calasse. Finalmente alguém lhe disse que fugira naquela noite para o Egipto. Quis partir para o Egipto mas não conseguiu. Belém estava numa desolação. Deixou-se ficar para consolar todas aquelas mães infelizes. Era necessário enterrar os seus meninos, curar os feridos e vestir os nus. E ficou ali por muito tempo, ao ponto de quase se lhe acabar o vinho e o azeite. Em certa altura, teve até de oferecer um dos seus burritos. A sua carga era quase nula e aquelas pobres gentes precisavam mais dele que ele.
Quando se dirigiu para o Egipto haviam passado anos e gastara quase todo o seu tesouro. Pensou: Certamente o Messias é compreensivo, pois tudo o que fiz fi-lo aos meus irmãos mais pequeninos. E seguiu.
No caminho para o país das pirâmides teve de deter-se muitas vezes. Sempre lhe saíam ao caminho os mais pobres dos pobres, os desgraçados, os necessitados do seu azeite. Aqui dava uma mão; ali precisavam do seu vinho; além do seu azeite.
E, claro, continuava apreensivo com o atraso. Mas o Messias seria certamente muito compreensivo; pois ele apenas se dedicava aos seus irmãos!
Quando chegou ao Egipto verificou que Jesus já não vivia ali. Fora para Nazaré, tinha regressado.
O novo desencontro apenou-o muito, mas não o desanimou. Fizera-se ao caminho para se encontrar com o Messias, e assim haveria de ser. Estava decido a continuar a sua busca apesar de tantos fracassos. Agora tinha poucos burros e um tesouro pequenino. Estava mais ligeiro. Porém, acabaria gastando tudo pois o caminho ainda era longo e muitas as necessidades dos pobres.
A atender um e depois outro passou trinta anos! Demorava-se temporadas a ajudar e depois outro tanto perscrutando as pegadas do Messias que nunca tinha visto, mas por causa de Quem tudo gastara até a sua vida.
Soube por fim que o Messias subira a Jerusalém para ali morrer. Decidiu-se em consequência a encontrá-l’O, custasse o que custasse. Numa madrugada albardou o único burriquito que lhe restava. De vinho tinha quase nada, de azeite também. Na bolsa levava duas moedas de prata. Seguiu para Jericó e dali para Jerusalém. Para não se enganar no caminho perguntou a um sacerdote e a um levita, que eram mais rápidos que ele e rapidamente lhe tomaram a dianteira.
Caiu a noite. Seguiu caminhando. No meio da noite ouviu uns queixumes vindos da berma. O tempo urgia e por isso pensou também ele em passar ao lado, como tinham feito os outros dois. Mas o seu coração era bom e tolheu-lhe os passos. Deteve o burro, desceu e descobriu por entre o breu da noite um homem ferido e muito maltratado. Não pensou duas vezes, foi-se ao burro e abriu o último resto de vinho e com ele limpou as feridas. Com o último azeite untou as ligaduras feitas da sua camisa e vendou-lhe as feridas. Pegou nele e carregando no burrito levou-o até uma pousada.
(Escusado será dizer que teve de desviar-se do caminho que levava...)
Ficou o resto da noite cuidando-o. Pela manhã entregou ao dono do albergue as duas moedas de prata para pagar os tratamentos em falta. Deixou também o burrito para o que fosse necessário. O que faltasse logo pagaria no regresso.
E seguiu a pé. Ia só, velho, cansado e esfarrapado.
Ao chegar a Jerusalém já quase não tinha forças. Era o meio dia duma Sexta-feira antes da Páscoa. No ar havia enorme agitação e a multidão andava excitadíssima. Todos comentavam com todos o que acabava de suceder. Os que regressavam do Gólgota comentavam que Jesus agonizava ali na Cruz.
Chamando a si todas as forças o quarto Rei Mago arrastou-se monte acima. Era como se carregasse uma cruz enorme feita de anos e anos de cansaços e caminhos.
Por fim chegou.
Elevou o olhar para o agonizante, e, suplicante, lhe disse:
— Perdoa-me, pois cheguei demasiado tarde.
E desde a cruz soou uma voz que disse:
— Hoje estarás comigo no Paraíso.