sábado, 31 de outubro de 2009

SEDE SANTOS!


Na Solenidade de Todos os Santos somos convidados a venerar todos os nossos irmãos que nos precederam na fé, e que de junto do Pai, nos animam a percorrer o mesmo caminho de Santidade.
Pois Cristo exorta-nos: Sede Santos, como é Santo o vosso Pai Celeste é Santo!

Celebramos neste primeiro dia de Novembro a Solenidade de Todos os Santos. Quando falamos de Santos, daqueles homens e mulheres a quem a Igreja canonizou, por vezes sentimo-nos impotentes e deprimidos, na medida em que o modelo de santidade que a Igreja nos propõe nos santos é quase sempre uma santidade heróica.
A festa de Todos os Santos convida-nos a celebrar dois acontecimentos. O primeiro é que, realmente, a força o Espírito de Jesus actua em todos os lugares, é como uma semente capaz de crescer em todas as partes, que não necessita especiais condições de raça, ou de cultura, ou de classes sociais. Por isso esta celebração é a festa da alegria, e profundamente gozosa: o Espírito de Jesus deu, dá e dará muito fruto, em todos lugares.
O segundo acontecimento que celebramos é que todos esses homens e mulheres de todos os tempos e lugares têm algo em comum, algo que os une. Todos eles “lavaram e branquearam as suas vestes no sangue do Cordeiro”. Todos eles foram pobres, famintos e sedentos de justiça, limpos de coração, obreiros da paz. Porque hoje não celebramos uma festa superficial, mas sim celebramos a vitória dolorosamente alcançada por tantos homens e mulheres no seguimento do Evangelho (conhecendo-o explicitamente ou sem o conhecer). Há alguma coisa que une o santo desconhecido da selva amazónica com os mártires das perseguições de Nero e com qualquer outro santo de qualquer outro lugar: une-os a busca e a luta por uma vida mais fiel, mais dada, mais dedicada ao serviço dos irmãos e do mundo novo que Deus quer.
Celebramos, portanto, dois acontecimentos: que com Deus vivem já homens e mulheres de todos os tempos e lugares, e que esses homens e mulheres lutaram esforçadamente no caminho do amor, que é o caminho de Deus.
É verdade que a santidade que nos é proposta, como um exemplo de vida a seguir, para a maioria dos cristãos, tal modelo parece-lhes inimitável. No entanto, Jesus dirige-se a todos quando diz: “Sede perfeitos como o meu Pai celestial é perfeito”. O ideal de santidade não está reservado a uns poucos; é dirigido a todos sem excepção, qualquer que seja o seu grau de virtude ou a qualidade da sua vida moral. Este ideal de santidade é proposto a todos os homens que que se encontram numa idêntica situação: todos são pecadores.
A iniciativa que a Igreja tomou ao instituir a Solenidade de Todos os Santos é susceptível de restablecer nas conciências um equilíbrio que corre o perigo de ser em certo modo falseado pela santidade canonizável. Esta festa não celebra os santos que a Igreja poderia ter canonizado e não o foram; celebra a santidade comum de todos aqueles homens e mulheres que, depois da morte, participam em plenitude, cada um no seu lugar, das abundantes delícias da Família do Pai.
A Igreja quer fazer-nos compreender que entre a santidade heróica e a santidade comum não há, finalmente, nenhuma diferença essencial, porque, em ambos os casos, a santidade é dom absolutamente gratuito que Deus faz da sua vida em Jesus Cristo.
A Solenidade de Todos os Santos deve ser para nós a ocasião para perceber melhor a natureza profunda da santidade que recebemos no Baptismo e devemos fazer frutificar ao longo da nossa vida.
Não se trata de uma santidade meramente externa, mas sim de uma santidade verdadeira adquirida pelo sacrifício de Cristo dada em participação através da fé e do baptismo. A fonte desta santidade é a acção do Espírito; mas, por terem sido santificados em Cristo Jesus, os cristãos devem modelar a sua vida à obediência exemplar de Cristo; a santidade ontológica dos cristãos exige imperativamente a sua santidade moral. A fidelidade às Bem-aventuranças deve ser a sua regra de vida. Devem agir segundo a santidade que vem de Deus e não segundo a sabedoria da carne, como escreve São Paulo.
Nesta Solenidade somos convidados a venerar todos os nossos irmãos que nos precederam na fé, e que de junto do Pai, nos animam a percorrer o mesmo caminho de Santidade.


nº 726 I 1Novembro ‘09

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