sábado, 24 de outubro de 2009

VOLTAR A VER!


Bartimeu começou a ver em plenitude, ao contrário daqueles que não eram cegos, entre os quais os próprios discípulos, e compreendeu a missão de Jesus. Por vezes também nos incluímos no grupo daqueles que querem ignorar a Cruz, pelo que devemos pedir ao Mestre que nos faça Voltar A Ver.


O trecho do Evangelho de Marcos que hoje nos é proposto, situa-se a última etapa da subida de Jesus a Jerusalém. Jesus está quase a chegar ao seu destino, pois, após uma longa viagem desde a Galileia, encontra-se apenas a trinta quilómetros de Jerusalém, em Jericó.
Está prestes a deixar esta cidade, e acompanha-O uma grande multidão, possivelmente entre os muitos acompanhantes havia peregrinos que peregrinavam para à festa da Páscoa, e possivelmente serão estes que O aclamam ao entrar em Jerusalém.
Junto à estrada, encontrava-se um homem, de nome Bartimeu, isto é filho de Timeu, que era cego, e estava condenado a viver de esmolas dos transeuntes. Este cego representa a miséria e a desesperança de tantos homens deste mundo.
Mas ao saber que era Jesus que passava, não quer de modo algum deixar escapar a sua oportunidade. Certamente já teria ouvido falar do poder taumatúrgico de Jesus, e também ele quer ser miraculado!
Dirige-se a Jesus, chamando-Lhe "Filho de David", um título messiânico popular que inclui as esperanças políticas e nacionalistas centradas no restabelecimento da monarquia davídica. Jesus, no momento em que tinha empreendido decididamente o caminho que O vai conduzir à morte, já não recusa o título de Messias.
No entanto, algumas pessoas que acompanhavam Jesus queriam silenciar Bartimeu, mas esse, com mais força gritava: "Jesus, Filho de David, tem piedade de mim". Contudo, como seria de esperar, a reacção de Jesus é totalmente aposta. Ele que veio acolher os mais débeis, "dar vista aos cegos", "fazer andar os coxos", "dar ouvido aos surdos" e "curar os doentes", não podia ficar indiferente aos gemidos daquele cego, e por isso, manda-o chamar.
Quando soube que Jesus o chama, o cego não duvida nem um instante em deixar o manto e caminhar até Ele; o manto, talvez, estivesse estendido no chão para nele recolher as esmolas; desprende-se, por tanto, de tudo aquilo que lhe permitia sobreviver porque crê que vai terminar a sua situação de cegueira.
Seria desnecessária a pergunta de Jesus a Bartimeu:"Que queres que Eu te faça?", mas, isso não incomoda Bartimeu, que Lhe responde: "Mestre, que eu veja!".
Jesus e Bartimeu é Jesus e cada um de nós, porque qualquer um de nós tem muitas dificuldades para ver: para ver o caminho, para compreender o caminho, para crer no caminho, porque o caminho é a cruz. Jesus está a chegar à cruz, e ninguém compreende que Ele, o Filho de David, será o Messias precisamente desde a cruz. De facto, já no domingo passado, a penúltima cena antes de entrar em Jerusalém, mostrava quão longe estavam as expectativas dos apóstolos em relação ao que Jesus se disponha a viver. Contudo, a pesar de nossa cegueira, nós, como o cego, queremos algo de novo.
Não sabemos muito bem o que podemos esperar de Jesus, o que ele nos oferece, qual é o seu caminho para cada um de nós. Mas sabemos uma coisa, a única que vale a pena saber: n’Ele está a luz.
A fé não levou somente Bartimeu a recuperar a vista, mas também à adesão pessoal e ao seguimento de Jesus "pelo caminho". Segue a Jesus pelo caminho que leva a Jerusalém, mas também à Cruz e à Morte, à Salvação.
Quando Marcos escreve este trecho do Evangelho, certamente não pretendia somente narrar-nos mais um milagre ou cura de Jesus. O Evangelista vai mais longe, e quer que tenhamos, a mesma actitude de Bartimeu, que também lhe peçamos que nos cure da nossa cegueira.
Bartimeu começou a ver em plenitude, ao contrário daqueles que não eram cegos, entre os quais os próprios discípulos, e compreendeu a missão de Jesus. Por vezes também nos incluímos no grupo daqueles que querem ignorar a Cruz, pelo que devemos pedir ao Mestre que nos faça VOLTAR A VER.

nº 725 I 25 outubro ‘09

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