segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um coração apaixonado

“Deus enviou o seu Filho ao mundo para o salvar e não para o condenar”. De facto Jesus morreu na cruz por puro amor para com a humanidade. Isso mesmo Jesus confessa nas revelações que fez a Santa Margarida Maria Alacoque. E podemos afirmar que o Coração de Jesus continua apaixonado pelos homens, embora, infelizmente, continuem a não saber retribuir-Lhe esse amor!
Celebramos na próxima Sexta-feira a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, dia em que encerramos o Ano Sacerdotal.
Embora a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus tenha sido instituída como festa universal para toda a Igreja Católica, em 1856 pelo Papa Pio IX, à raiz das aparições a Santa Margarida Maria Alacoque, em Paray–le-Monial ente 1673 e 1675, já desde os tempos apostólicos, sempre existiu na Igreja algo semelhante à devoção ao amor de Deus, que tanto amou o mundo que lhe entregou o seu Filho unigénito, e ao amor de Jesus, que tanto nos ama que se entregou a Si mesmo, por nós como nos narram os escritos do Evangelista São João e do Apóstolo Paulo.
No entanto, é somente nos séculos XI e XII que encontramos sinais irrefutáveis de uma certa devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Tratava-se de um aproximar-se ao Coração Ferido através do lado aberto de Jesus, simbolizando a chaga do Coração a ferida do Amor, estando esta devoção muito arraigada entre os monges beneditinos e cistercenses, graças ao pensamento de Santo Anselmo e de São Bernardo de Claraval.
No entanto também não podemos esquecer o papel de Santa Gertrudes e de Santa Matilde, que viveram na segunda metade do século XIII, no incremento desta devoção.
A partir do século XIII até ao século XVI, embora a devoção ao Sagrado Coração de Jesus se tenha propagando um pouco por todo o lado, no entanto, foi sempre uma devoção individual ou de carácter místico.
Parece ter sido no século XVI que a devoção passou do domínio místico ao da ascese cristã, tendo sido São João Eudes o primeiro a celebrar com grande solenidade a festa do Sagrado Coração de Jesus, no Seminário de Rennes, em França, no dia 31 de Agosto de 1670, passando depois para outras dioceses tendo ainda sido adoptada por várias comunidades religiosas.
Contudo Cristo escolheu Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), uma humilde religiosa da Visitação do mosteiro de Paray-le-Monial, para lhe revelar os desejos do seu Coração e para lhe confiar a tarefa de dar novo impulso a esta devoção. Nada nos indica que esta piedosa religiosa tenha tido conhecimento desta devoção antes das revelações, ou pelo menos, que tenha prestado qualquer atenção à mesma. Foram várias as revelações do Sagrado Coração a Santa Margarida Maria sendo as mais importantes as seguintes: a que teve lugar na festa de São João Evangelista, a 27 de Dezembro de 1673, em que Jesus permitiu a Margarita Maria, como antes o tinha feito com Santa Gertrudes, recostar a cabeça sobre o seu Coração, revelando-lhe as maravilhas do seu Amor, dizendo-lhe que desejava que fossem conhecidas pela humanidade inteira e que os tesouros da sua bondade fossem difundidos: “o meu Coração está tão apaixonado pelos homens, que não pode conter por mais tempo as chamas que o inflamam e necessita de expandir-se; escolhi-te como abismo de indignidade e ignorância, a fim de tudo ser meu”.
Em uma outra, provavelmente em Junho ou Julho de 1674, Jesus pediu-lhe ser honrado sob a imagem do seu Coração de carne. Em outra ocasião, apareceu radiante de amor e pediu-lhe que se instituísse uma prática devocional ao amor expiatório: a comunhão frequente, a comunhão das primeiras sextas-feiras, e a observância da Hora Santa. Naquela que é conhecida como a “grande aparição”, que teve lugar na oitava do “Corpo de Deus” de 1675, provavelmente em 16 de Junho, disse-lhe Jesus: “Eis o meu Coração, que tanto amou os homens e que a nada se negou até se esgotar e consumir para mostrar-lhes o seu amor, e em reconhecimento não recebe senão ingratidão, quer pelas suas irreverências e sacrilégios, quer pela sua frieza e desprezo com que Me tratam neste sacramento de amor”.
O Coração de Jesus continua apaixonado pelos homens; continua a amar todos os homens sem distinção e a derramar copiosas graças sobre todos os seus devotos. Mas infelizmente, os cristãos continuam a virar-Lhe as costas, e recordando a bela poesia de São João da Cruz, “Um Pastorinho”, podemos dizer que Jesus continua com o Coração ferido e “chora por pensar que é olvidado!”.
Não neguemos o amor a quem tanto nos ama!
Chama Viva do Carmo I 757 I Junho 6, 2010

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