sábado, 30 de janeiro de 2010

JESUS E OS NAZARENOS


Os Nazarenos, após um entusiasmo passageiro tomam uma atitude de rejeição da voz profética de Jesus. Também a nós nos custa reconhecer a voz profética dos outros. Sempre encontramos mil desculpas para nos defender das incómodas vozes que nos convidam a ser mais consequentes no nosso modo de viver.

Nascera, ocasionalmente, em Belém. Para escapar à degola dos inocentes, seus pais levaram para o Egipto! Quando Herodes morreu, um Anjo foi enviado a José, dizendo-lhe que já podiam regressar à sua terra. Por prudência, José e Maria acharam melhor fixar residência em Nazaré. Aqui foi criado e cresceu Jesus. Era, certamente uma criança como as demais de Nazaré, com as quais brincou, e com as mesmas terá frequentado a escola de algum qualquer Rabino. Em tudo se terá parecido aos seus conterrâneos. Já adolescente, como então era costume, começou a ajudar seu pai na oficina e com ele aprendeu a arte de carpinteiro.
Mas Nazaré era uma pequena sem muito futuro para os jovens. Por isso não admira que muitos partissem para outras terras, para Jerusalém, Cafarnaum ou outras cidades onde se abrissem novos horizontes.
Também um dia Jesus fez a sua trouxa e deixou Nazaré. Era um gesto comum, pelo que tal decisão já não criava muita admiração nos seus conterrâneos, porque já estavam habituados…
No entanto, ao contrário dos conterrâneos que partiam ao encontro de “fortuna”, Jesus dirigiu-se para junto das margens do Jordão, onde se encontrava João Baptista, que até era seu parente, a pregar às multidões,
convidando-as ao arrependimento e à
conversão, exortando que se submetessem
ao baptismo da renovação. Eram longas as filas daqueles judeus que queriam mudar de vida, e pediam o baptismo.
Também Jesus que em tudo se tinha parecido com os seus contemporâneos, quis submeter-se ao Baptismo de João. Quando emergiu das águas, dispôs-se a dar seguimento à vontade do Pai. Começa a sua vida pública, vida de profeta, anunciando o Reino, pregando, acompanhando a sua pregação com prodígios, com milagres, curando todos os que estavam doentes.
A sua fama logo se espalhou por toda a parte, pelo que todos os lugares ocorriam pessoas trazendo os seus doentes para serem curados.
Em Nazaré ficaram os a sua Mãe, os familiares, amigos e conhecidos. Por isso não admira que mais cedo ou mais tarde Jesus regressasse à sua terra. Quando tal aconteceu, quase todos os nazarenos (há sempre alguém do contra) rejubilaram. Ele era já uma pessoa muito famosa, e, certamente, a sua fama já tinha chegado aos seus conterrâneos.
Chegara o Sábado, e as expectativas eram muitas, pois todos intuíam que Jesus não faltaria ao culto, como, aliás sempre marcara presença, todos os sábados, durante tantos anos…
Não se enganaram, e na hora marcada lá estava o filho do carpinteiro. Mas a surpresa aconteceu, quando o mesmo Jesus, a convite do sacerdote, no momento de fazer a Leitura, se levanta e se dispõe a fazê-la, com o respectivo comentário.
Chegara finalmente o momento tão esperado! Jesus sentou-se, e todos fixavam n’Ele o seu olhar, esperando escutar as palavras que iriam sair da sua boca. E, Ele, com um ar solene, diz: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”.
Por um instante, todos se maravilharam com as suas “palavras cheias de graça e sabedoria”, mas, quase como instinto, reagem e perguntam-se: “Não é Ele o filho de José?”, o que levou Jesus a censurá-los, dizendo-lhes: “Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra”.
Os paisanos de Jesus, após um entusiasmo passageiro tomam um atitude de rejeição e inclusive aí mesmo o conduzem até ao cimo de uma colina com o intuito de O precipitarem dali abaixo!
Os nazarenos teriam preferido que fizesse milagres, que curasse os seus doentes e que não tivesse posto em evidência a sua falta de fé.
Esta reacção dos habitantes de Nazaré irá repetir-se em muitos outros locais, por outras muitas pessoas, crescendo de tal maneira, que acabará por levar ao suplício da Cruz. Mas nem a morte de Jesus conseguiu ainda calar a voz do Profeta por excelência: ao cabo de vinte séculos a sua mensagem continua a ecoar por toda a parte, como o prova os milhões de pessoas que em todo o mundo se reúnem, domingo após domingo, ou dia após dia, para receber a luz e a força salvadora dessa Palavra.
Também a nós nos custa reconhecer a voz profética dos outros. Sempre encontramos mil desculpas para nos defender das incómodas vozes que nos convidam a ser mais consequentes no nosso modo de viver.

nº 739 I 31 Janeiro ‘10

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