sexta-feira, 19 de novembro de 2010

UM REI DEPOSTO!

Celebramos neste Domingo a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Durante muitos anos a Igreja estava identificada com os denominados regimes conservadores, embora algumas ideologias de esquerda afirmassem que Jesus fora o primeiro “comunista”. Mas hoje os políticos ignoram Cristo e a sua Doutrina, pelo que nos atrevemos a dizer que Cristo é um Rei deposto!


Celebramos neste Domingo a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo que com a semana que lhe corresponde
conclui o longo Tempo Ordinário e encerra o Ano Litúrgico. Hoje é-nos oferecida a majestosa visão de Jesus Cristo Rei do Universo; o seu triunfo é o triunfo final da Criação; Cristo é ao mesmo tempo a pedra angular do mundo criado e abóbada do edifício celeste.
Antes da reforma litúrgica, a raiz do Concílio Vaticano II, quando esta festa foi instituída celebrava-se no último Domingo de Outubro, ou seja no Domingo anterior à Solenidade de Todos os Santos.
A instituição desta festa não foi tão pacífica como poderemos pensar. De facto hoje sabe-se que já desde a sua criação estava bastante politizada, já que foi instituída como reacção ao desmoronamento das monarquias e ao avanço do liberalismo, procurando responder, de alguma maneira, à pretensão da Igreja querer recuperar o poder temporal, tradicionalmente unido à forma aristocrática de governo. O estabelecimento desta festividade significava implicitamente a não-aceitação por parte da Igreja da autonomía do mundo social e político. A posterior espiritualização do seu conteúdo e a sua transferência para o último Domingo do ano litúrgico, como coroação do mesmo, ainda não consegue eliminar todos os preconceitos criados em relação à mesma, mormente em algumas comunidades auto-proclamadas progressistas. 
Durante muitos anos a Igreja estava identificada, ou mesmo vinculada, aos denominados regimes conservadores, mas até há pouco tempo, também alguns cristãos pretendiam “colar”  Jesus, e o seu Evangelho, às ideologias de esquerda, particularmente os seguidores da Teologia da Libertação, mas, hoje os políticos,  quer de direita quer da esquerda, procuram  ignorar a Cristo, pelo que poderíamos dizer que Cristo parece hoje ser um Rei deposto!   
Sabemos que hoje não é fácil falar de Cristo Rei,usando a mesma linguagem de algumas décadas atrás, não só porque o mundo mudou, mas também  porque fomos mudando a imagem de Cristo. Embora Cristo seja sempre o mesmo, nem sempre é a mesma ideia, a imagem, a percepção que têm D’Ele os crentes ao longo do tempo, nem sequer é a mesma a imagem que os homens têm de Cristo numa mesma época! 
Há muitas imagens de Cristo; algumas falsas, outras erradas, outras deformadas ou adaptadas aos nossos interesses, outras, ainda, anti-evangélicas ou, pelo menos, à margem do Evangelho. Naturalmente que por outro lado há imagens correctas, evangélicas, ainda que, certamente, todas sejam incompletas, porque a Cristo não se pode encerrar numa imagem, numa ideia, numa visão (como certamente diria São João da Cruz)! Das imagens correctas  que cada um tem de Cristo, podemos chegar à verdadeira imagem de Jesus Cristo, aquela que nos é revelada nos Evangelhos. E a partir dessa imagem todos nos devemos empenhar em instaurar no mundo o seu Reino. 
O Reino de Cristo, que devemos instaurar todos os dias, revela a grandeza e o destino do homem, que tem um final feliz no paraíso. É um Reino de misericórdia para um mundo cada vez mais impiedoso, e de amor para com todos os homens por cima de visões particularistas; é o Reino que vale pena a desejar. Cravados na cruz da fidelidade ao Evangelho podemos entender a liberdade que brota do amor que se torna realidade hoje mesmo.
Crer em Cristo é crer que o bem é mais poderoso que o mal; é crer que, no fim, o bem e a verdade triunfarão sobre o mal e a mentira. Quem pensa que o mal terá a última palavra ou que o bem e o mal têm as mesmas probabilidades, é um incrédulo... 
A fé no Reino de Cristo, por conseguinte, não se reduz simplesmente a aceitar os valores do Reino e a manter una vaga esperança em que um dia há-de vir. A fé no Reino é estar convencido de que, suceda o que suceder, o Reino Deus virá até nós.
Porque estamos convictos que tal acontecerá não nos podemos esquivar da missão de  tornar realidade, neste nosso mundo, o reino de Cristo. Não é uma realeza que se funda na força das armas, nem nos discursos demagógicos, e muito menos na mentira. Não esperemos, ainda menos, favores, porque  Cristo é o Rei da Verdade!

Chama n.º 771 | 21 Novembro ‘10

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