sábado, 9 de outubro de 2010

A ALMA É DE CRISTAL!

Recordando-me do belo cântico a “Alma é de Cristal, que de maneira poética e breve nos recorda a essência do livro das “Moradas” ou “Castelo Interior” de Teresa de Jesus, aqui deixmamos alguns excertos do mesmo, esperando que os mesmos nos animem a ler os seus escritos, onde podemos recolher boa doutrina para seguir os caminhos de Jesus.
Estava a pensar no artigo para este número da Chama Viva. Sabia que, pelas orientações, a que nos temos proposto, deveria falar de Santa Teresa de Jesus, visto que este é o Domingo que cai dentro da novena em sua honra. A primeira tentação que se tem é traçar alguns rasgos da sua vida, o que até nem se torna difícil; mas depois de uma breve reflexão, lembrei-me de um cântico em sua honra, penso que composto por um religioso carmelita, intitulado “A Alma é de Cristal”, que de maneira poética e breve nos lembra a essência de um dos escritos de Teresa de Jesus, as “Moradas” ou “Castelo Interior”.
Este livro foi escrito para responder ao pedido de algumas religiosas carmelitas, procurando esclarecer algumas dúvidas que tinham sobre a oração. Nada melhor é que ouvir as dissertações da Madre fundadora!
Assim escreve Teresa Jesus:
“É de considerar a nossa alma como um castelo todo de um diamante, onde há muitos aposentos, assim como no céu há muitas moradas”, pois “não encontro eu outra coisa com que comparar a grande formosura de uma alma” (1 Moradas 1, 1).
E prossegue:
“Consideremos que este castelo tem, como disse, muitas moradas; umas no alto, outras em baixo, outras nos lados; e no centro e meio de todas estas, tem a mais principal onde se passam as coisas mais secretas entre Deus e a alma.” (1 Moradas, 1, 3).
E Teresa de Jesus adverte:
“Há muitas almas que ficam à volta do castelo - onde estão os que o guardam - e que se lhes não dá em entrar, nem sabem o que há naquele tão precioso lugar, nem quem está dentro, nem mesmo que dependências tem [...]. Dizia-me um grande letrado, que as almas que não têm oração são como um corpo paralítico ou tolhido, que, embora tenha pés e mãos, não os podem mexer; e são assim: há almas tão enfermas e tão habituadas às coisas exteriores, que não há remédio nem parece que possam entrar dentro de si mesmas” (1 Moradas, 1, 5.6).
Para entrar nesse castelo Teresa oferece-nos uma solução:
“A porta para entrar neste castelo é a oração e a reflexão, não digo mais mental que vocal, desde que seja oração” (1 Moradas, 1, 7).
Mas Santa Teresa adverte os seus leitores sobre os danos que o pecado causa na alma:
“Quero dizer-vos que considereis o que será ver este castelo tão resplandecente e formoso, esta pérola oriental, esta árvore de vida [...], assim como duma fonte muito clara, claros são os arroiozitos, que saem dela, assim é uma alma que está em graça, pois daqui lhe vem serem suas obras agradáveis aos olhos de Deus e dos homens, porque procedem desta fonte de vida, onde a alma está como uma árvore plantada [...]. assim a alma, que por sua culpa se afasta desta fonte e se aparta desta fonte e se transplanta a outra de uma negríssima água e de muito mau odor, tudo o que dela sai é a mesma desventura e sujidade” (1 Moradas 2, 9).
Filosoficamente diz Teresa de Jesus:
“A meu ver, nunca nos acabamos de conhecer se não procurarmos conhecer a Deus; olhando à sua grandeza, acudamos à nossa pequenez, olhando à Sua pureza, veremos a nossa sujidade; considerando a Sua humildade, veremos como estamos longe de ser humildes” (1 Moradas 2, 9).
Já bastante mais adiante escreve a Seráfica Doutora:
“De muitas maneiras se comunica o Senhor à alma com estas aparições: algumas, quando está aflita; outras, quando lhe há-de vir algum trabalho grande; outras para sua Majestade Se regalar com ela e a regalar a ela [...]. Façamos agora de conta que Deus é como uma morada ou palácio muito grande e formoso, e que este palácio - como digo - é o mesmo Deus. Pode porventura o pecador, para suas maldades, afastar-se deste palácio? Não, por certo; senão que, dentro do mesmo palácio, que é o mesmo Deus, passam-se as abominações e desonestidades e maldades, que fazemos nós os pecadores.” (6 Moradas, 10, 1. 4).
Depois destes excertos do livro das Moradas sintamo-nos mais animados a ler os escritos de Santa Teresa, que afinal não são tão complicados, e neles recolheremos boa doutrina, para seguir os caminhos de Jesus.

Chama n.º 765 | 10 Outubro ‘10

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